Eleito novo presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o economista Ilan Goldfajn garantiu que manterá uma relação de “total harmonia” com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, também, com todos os governos ao longo de seu mandato à frente da instituição. Primeiro brasileiro a presidir a instituição, Goldfajn foi indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e teve sua candidatura questionada por integrantes e ex-integrantes do governo de transição, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT), e Guido Mantega, respectivamente.
Goldfajn, que foi eleito ontem (20), na sede do BID em Washington (EUA), pela reunião especial da Assembleia de Governadores do banco, ocupou a presidência do Banco Central de 2016 a 2019. Ele vai assumir a presidência da instituição em 19 de dezembro de 2022, com mandato de cinco anos.
A tarefa de Goldfajn será supervisionar as operações e a administração do banco, que trabalha com o setor público da América Latina e o Caribe. Ele também vai presidir o Conselho de Diretores Executivos do BID e o Conselho de Diretores Executivos do BID Invest, que trabalha com o setor privado da região, além de presidir o Comitê de Doadores do BID Lab, o laboratório do Banco para projetos inovadores de desenvolvimento.
Depois da eleição, o economista deu entrevista à Globonews, na qual fez o comentário sobre como será sua relação com o governo eleito. “São pautas muito parecidas. Vamos ter um trabalho conjunto que vai florescer e eu tenho certeza que vai ser muito útil para o Brasil a interação com o BID assim como do BID com todos os governos da América Latina e do Caribe”, disse.
Goldfajn ainda salientou que o Brasil tem um protagonismo regional e global e, ao levar a presidência do BID, assume esse protagonismo.
Apesar do entusiasmo pela eleição de um brasileiro, alguns economistas temem possível descompasso com o próximo governo. Pedro Paulo Zahluth Bastos, da Unicamp, em entrevista para a Folha de S. Paulo, afirmou que não é possível esquecer que havia uma resistência à candidatura, que não era um consenso entre os economistas.
“Isso se explica por ele não ser um nome vinculado aos bancos públicos de desenvolvimento, ao contrário, sempre fez parte do grupo ligado aos bancos privados e que criticava a oferta de crédito com juros subsidiados, vendo equivocadamente essa política como algo que provocava inflação.”
Também na avaliação do professor, Goldfajn se comportou como “falcão” na presidência do BC, ao determinar taxas de juros extremamente elevadas em 2016 e aumento da recessão, mesmo após a estabilização do dólar, o que teria postergado a recuperação do país.
“Em terceiro lugar, Guedes antecipou a indicação sem dialogar com a equipe petista. Essa pressa levanta uma desconfiança sobre o tipo de política que Goldfajn pretende implementar no BID”, complementa.
Novo presidente do BID deixou presidência do BC no início do governo Bolsonaro
Ilan Goldfajn foi eleito presidente do BID com 80,1% dos votos na assembleia de governadores do banco multilateral. Ele derrotou candidatos do Chile, México e Trindade e Tobago. A Argentina acabou desistindo da disputa antes do início da votação. Sua indicação teve apoio de países com poder de voto relevante, como Estados Unidos, Argentina e Canadá.
Nascido em Israel, Goldfajn é formado em Economia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, com mestrado na mesma área pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e doutorado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Ele foi diretor de política econômica do Banco Central do Brasil, de setembro de 2000 a julho de 2003. Em junho de 2016, assumiu a presidência da instituição, após ter sido indicado por Michel Temer e ter sido aprovado em sabatina no Congresso.
Goldfajn ficou no cargo até fevereiro de 2019, um pouco depois de Jair Bolsonaro assumir a presidência do país, sendo sucedido por Roberto Campos Neto, atual presidente do BC. Ele chegou a ser sondado para continuar à frente da instituição, mas preferiu deixar a autoridade monetária.
À época em que presidiu o BC, ele chegou a receber o prêmio de melhor banqueiro central do mundo pela revista britânica The Banker, do grupo Financial Times.
Uma das marcas de sua gestão foi a redução da taxa básica de juros (Selic) de 14,25% para 6,5%. A autoridade monetária também conseguiu convergir a inflação para a meta, após o pico enfrentado durante a recessão de 2014-2016.
O banqueiro também foi o responsável pelo início da agenda BC+, uma agenda de reformas estruturais que busca modernizar o sistema financeiro, aumentar a competitividade do setor e dar maior transparência às ações do Banco Central. A atual gestão do BC dá continuidade a essa agenda.
Ilan, como costuma ser chamado, será o sétimo Presidente do BID. Ele segue Reina Irene Mejía Chacón a.i. (2022); Mauricio Claver-Carone (2020-2022); Luis Alberto Moreno (2005-2020); Enrique V. Iglesias (1988-2005); Antonio Ortiz Mena (1971-1988); e Felipe Herrera (1960-1971).
Redação ICL Economia
Com informações do portal de notícias G1 e da Folha de S. Paulo