O Indicador Ipea de Inflação revela que, em dezembro, todas as faixas de renda registraram aceleração da inflação na margem. Em termos absolutos, a faixa de renda muito baixa foi a que apontou a maior taxa de inflação em dezembro (0,71%), enquanto a menor taxa foi verificada no segmento de renda alta (0,50%). Com a incorporação deste resultado, no acumulado de 2022, todas as faixas de renda no país apresentaram significativa desaceleração da inflação em relação ao observado no ano anterior, mostra o Ipea.
Os dados do Ipea foram divulgados no último dia 12 de janeiro e foram compilados na publicação Carta de Conjuntura, Número 58.
De acordo com o indicador, em 2022, as famílias de renda média baixa apresentaram a menor alta inflacionária (5,59%) e o segmento de renda alta foi o que apontou a taxa mais elevada no período (6,83%). Segundo a abertura por grupos, de uma maneira geral, em dezembro, as maiores contribuições à inflação vieram dos grupos saúde e cuidados pessoais e alimentos e bebidas.
No caso do grupo saúde e cuidados pessoais, enquanto o principal foco de pressão para as classes de renda mais baixa foi o aumento de 3,7% dos produtos de higiene pessoal, para as famílias de renda alta pesou, sobretudo, o reajuste de 1,2% dos planos de saúde.
Já em relação aos alimentos, mesmo diante da deflação de leite e derivados (-1,7%) e das frutas (-1,6%), as altas dos cereais (4,5%), dos tubérculos (5,7%) e dos farináceos (1,4%) geraram um forte impacto sobre a inflação em dezembro, sobretudo das classes de renda mais baixa.
Indicador Ipea mostra que, para o pobre, pesou mais o custo da alimentação. Já para o rico, planos de saúde e serviços de recreação
Por certo, para o segmento de renda alta, ao contrário do verificado nas demais faixas de renda, a segunda maior contribuição à inflação em dezembro não veio do grupo alimentos e bebidas, mas do grupo despesas pessoais, repercutindo os reajustes de 0,8% dos bens e serviços de recreação.
Na comparação com a taxa mensal do mesmo período do ano passado, observa-se, novamente, um recuo da inflação em dezembro de 2022 para todas as faixas de renda, ainda que com maior intensidade nos segmentos de renda mais alta. A melhora no desempenho dos grupos habitação, artigos de residência e transportes explica boa parte deste cenário de alívio inflacionário em dezembro de 2022.
Em relação ao grupo habitação, destacam-se os reajustes mais baixos da energia elétrica (0,20%), do gás de botijão (-0,56%) e do gás encanado (3,7%) em 2022 – relativamente ao apurado em 2021, 0,50%, 0,60% e 6,6%, respectivamente. No caso dos artigos de residência, os aumentos de 1,6% do mobiliário e de 0,22% dos aparelhos eletroeletrônicos, em 2022, foram bem menores que os registrados em 2021 (2,1% e 1,3%).
Por fim, o comportamento mais favorável das passagens aéreas e das tarifas de ônibus interestaduais em 2022 – com altas de 0,89% e 1,3% ante variações de 10,3% e 3,9%, respectivamente, em 2021 –, além dos reajustes mais amenos dos automóveis novos (0,3%) e do seguro veicular (0,25%) relativamente ao apurado em 2021 (1,9% e 3,4%, respectivamente), completa esse quadro inflacionário menos acentuado.
Nota-se ainda que, ao contrário do ocorrido no triênio anterior (2019-2021), a inflação acumulada em 2022 foi menor para o segmento de renda muito baixa (6,35%) relativamente ao observado na faixa de renda alta (6,83%), ainda que a menor taxa tenha sido verificada na classe de renda média baixa (5,59%).
Por certo, enquanto a inflação das famílias de renda muito baixa recuou 3,7 pontos percentuais (p.p.), entre 2021 e 2022, a queda observada na faixa de renda mais alta foi de 2,7 p.p.
A partir das contribuições desagregadas por grupos, observa-se que, de uma maneira geral, a maior pressão inflacionária em 2022 reside no grupo alimentação e bebidas, impactado pelas altas expressivas de diversos segmentos, como: cereais (8,7%), farinhas e massas (22,7%), tubérculos (40,2%), frutas (24,0%), leite e derivados (22,1%), aves e ovos (7,9%) e panificados (20,6%).
Para as famílias de renda mais baixa, os aumentos de 13,5% dos produtos farmacêuticos e de 16,7% dos artigos de higiene fizeram do grupo saúde e cuidados pessoais o segundo maior foco de pressão em 2022. Na outra ponta, os reajustes de 6,5% dos serviços pessoais e de 10,6% dos bens e serviços de recreação explicam o impacto do grupo despesas pessoais para a inflação das famílias de renda alta.
Carta de Conjuntura do Ipea