A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu, em Davos (Suíça), a necessidade de proteger o meio ambiente e reduzir as desigualdades sociais ao mesmo tempo. Além disso, instou governos e empresas a liderarem “pelo exemplo”, em busca do desenvolvimento sustentável. Marina participou do painel Em Harmonia com a Natureza, logo após a abertura do Fórum Econômico Mundial, nesta segunda-feira (16).
“O mundo é desigual. No meu país, tem 120 milhões de pessoas que estão passando fome. Nós tínhamos saído do Mapa da Fome, e agora temos 33 milhões de pessoas que estão vivendo com menos de um dólar por dia”, declarou. “A sustentabilidade não é só econômica, não é só ambiental, ela é também social, e é também política.”
Durante a discussão no primeiro dia do Fórum de Davos, Marina disse que é preciso falar menos e agir mais. Lembrou que a política é “muito rotativa”, o mesmo ocorrendo também nas empresas. Nesse sentido, afirmou que poder público e empresas devem promover ações concretas em prol do meio ambiente.
“A gente às vezes pensa que já está fazendo porque a gente está falando, porque a gente está concordando, e não está mudando nada”, afirmou. “Agora, eu já disse de novo: vamos liderar pelo exemplo. Nós podemos falar muitas coisas legais, mas se a gente não reduzir o desmatamento, a gente apenas falou.”
A guinada na política ambiental pelo governo Lula recoloca o Brasil no caminho da respeitabilidade internacional. Por outro lado, irrita os setores tradicionalmente inimigos da sustentabilidade. Segmentos do agronegócio, mineradores, garimpeiros, desmatadores, ocupantes ilegais de terras indígenas e áreas de preservação se acomodaram durante a era Bolsonaro. Tentaram financiar a compra de votos durante a eleição e, agora, estão entre os articuladores dos golpismo.
Marina fala em constrangimento ético
Mais do que cobrados, os agentes públicos devem ser “constrangidos”, segundo ela, a tomar o rumo do desenvolvimento sustentável. Ela lembrou que, em 2004, criou o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Na ocasião, Marina foi questionada se tais dados não causariam constrangimento ao governo.
“Na época, muita gente não entendeu”, recordou. “E eu disse: quero ser constrangida, porque eu quero que o mundo todo saiba onde está acontecendo o desmatamento. E nós precisamos de constrangimento ético. Nós somos os maiores produtores de grãos, e o presidente Lula tem dito: nós vamos matar a fome dos brasileiros também”.
Entre 2003 e 2014, o desmatamento na Amazônia Legal – Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins – caiu 82%. Por outro lado, no governo Bolsonaro, desmatamento na Amazônia bateu recorde, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe).