Após a aprovação do pedido de recuperação judicial da Americanas, aceito pelo juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, os credores e os acionistas já começam a se articular para avaliar a proposta que será feita pela varejista para reduzir o nível de endividamento. Na quinta-feira (19), a Americanas teve o pedido de recuperação judicial deferido, informando uma dívida de cerca de R$ 43 bilhões. Rumores entre os credores financeiros estimam que a rede varejista ofereça um corte entre 80% e 90% do valor total da dívida. Em uma década, a diretoria da Americanas recebeu, em termos nominais (sem correção pela inflação), R$ 505,4 milhões.
Parte dos credores especula que o plano de recuperação judicial da Americanas seja aprovado antes de dois anos diante das conversas com a Rotschild, empresa contratada para atuar na intermediação com os acionistas da Americanas e os credores no Brasil e no exterior durante a recuperação judicial.
A Americanas tem os acionistas de referência, o trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, fundadores da 3G Capital, com a maior fatia do capital, com 31,13% das ações. Em seguida aparecem as gestoras Capital Group (9,91%) e BlackRock (5,05%), além do TIAA Cref (fundo de pensão dos EUA formado por professores, com 6,05%).Em paralelo ao desenvolvimento do plano de recuperação judicial, a Americanas também trabalha em um plano para reforçar seu caixa, que caiu de R$ 800 milhões para R$ 250 milhões em apenas dois dias.
Com recuperação judicial, conduta dos acionistas com a maior fatia do capital da Americanas é questionada. Na noite de domingo, os três divulgaram uma carta
A conduta dos acionistas de referência, o trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, também está sendo questionada em meio à recuperação judicial. Na noite de domingo (22), o trio de acionistas divulgou nota em que afirma que, “assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto”. Para boa parte das fontes, contudo, é improvável que o trio não soubesse o que estava acontecendo nas Americanas. Veja a nota no íntegra no final do texto.
Na reportagem divulgada pelo O Globo, é mencionada a necessidade de um aporte da empresa de cerca de R$ 15 bilhões. Mas, de acordo com diversos credores, é quase “zero” a possibilidade de que os acionistas de referência façam uma proposta nesse primeiro momento. Porém, tanto do lado dos credores como da empresa, há uma entendimento, endossado por advogados, de que “todos vão ter que ceder” para se chegar um acordo. A empresa vai tentar viabilizar a venda de alguns ativos, embora haja uma percepção de que o dinheiro não será suficiente para cobrir o rombo.
Segundo a petição enviada na quinta-feira (19) à Justiça, a Americanas disse que foram retidos R$ 100 milhões do Banco Safra, R$ 474 milhões do Bradesco, R$ 50 milhões do Itaú e R$ 1,4 bilhão de BTG e Votorantim. A Justiça determinou o desbloqueio de valores por parte dos bancos.
Para os credores, ainda há uma série de perguntas sem resposta para se iniciar as discussões em relação ao caminho para recuperação da empresa. Eles relatam dúvidas sobre a real situação de caixa da companhia, o valor total da dívida e a lista de credores, que ainda precisa ser apresentada.
Dentro da CVM, as superintendências envolvidas são as de Relações com Empresas (SEP), Relações com o Mercado e Intermediários (SMI), Normas Contábeis e Auditoria (SNC), Processos Sancionadores (SPS), Proteção e Orientação aos Investidores (SOI), Registro de Valores Mobiliários (SRE) e Securitização (SSE).
No processo administrativo 19957.000491/2023-12, a SEP analisa a conduta da companhia, acionistas de referência e administradores da Americanas, à luz de informações prestadas ao mercado.
Em um comunicado publicado na quinta-feira (19), a CVM informou que vai analisar as informações do pedido de tutela cautelar antecedente vis-à-vis as informações divulgadas, até então, a respeito das inconsistências contábeis divulgadas em 11 de janeiro. Isso inclui também a decisão da companhia de protocolar pedido de recuperação judicial com créditos estimados em R$ 43 bilhões.
“Após a investigação e apuração de fatos e eventos, caso venham a ser formalmente caracterizados ilícitos e/ou infrações, cada um dos responsáveis poderá ser devidamente responsabilizado com o rigor da lei e na extensão que lhe for aplicável”, disse a CVM.
Outro processo, aberto na segunda-feira pela SER, busca observar a atuação de intermediários enquanto coordenadores líderes em ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários de emissão da companhia.
O mais recente, instaurado pela SSE, tem objetivo de avaliar a atuação das agências de classificação de risco de crédito no âmbito das emissões com a Americanas S.A. como devedora ou coobrigada.
A CVM ainda disse que está trabalhando em cooperação com a Polícia Federal, com o Ministério Público Federal, e com a Advocacia-Geral da União na apuração dos fatos.
NOTA PÚBLICA – Divulgada na noite de domingo (22) pelos 3 maiores acionistas da Americanas – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
No dia 11 de janeiro de 2023, por meio de “fato relevante”, a Americanas S.A. tornou pública a existência de significativas inconsistências em sua contabilidade. Desde então, sempre com transparência e imediatismo, vários esforços vêm sendo feitos para o correto tratamento dos desafios que hoje se colocam à empresa.
Usamos dessa mesma clareza para esclarecer de modo categórico e a bem da verdade que:
1) Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país.
2) A Americanas é uma empresa centenária e nos últimos 20 anos foi administrada por executivos considerados qualificados e de reputação ilibada.
3) Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.
4) Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto.
5) O comitê independente da companhia terá todas as condições de apurar os fatos que redundaram nas inconsistências contábeis, bem como de avaliar a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras.
6) Manifestamos mais uma vez nosso compromisso de integral transparência e de total colaboração em tudo que estiver ao nosso alcance para esclarecer todos os fatos e suas circunstâncias.
7) Lamentamos profundamente as perdas sofridas pelos investidores e credores, lembrando que, como acionistas, fomos alcançados por prejuízos.
8) Reafirmamos o nosso empenho em trabalhar pela recuperação da empresa, com a maior brevidade possível, focados em garantir um futuro promissor para a empresa, seus milhares de empregados, parceiros e investidores e em chegar a um bom entendimento com os credores.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias