Brasil exporta mais para o Oriente Médio do que para Argentina e deixa de vender produtos com maior valor agregado

Enquanto a Argentina é o principal destino dos bens manufaturados, especialmente a automotiva, o Oriente Médio compra mais carnes de aves (17%), milho (16%), minério de ferro (14%), soja (11%), açúcares e melaços (10%) e carne bovina (5%)
24 de janeiro de 2023

O Brasil vende mais para o Oriente Médio do que para a vizinha Argentina, destino da primeira visita internacional oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no domingo (22). Enquanto a Argentina é o principal destino dos bens manufaturados produzidos pela indústria brasileira, especialmente a automotiva, o Oriente Médio compra principalmente carnes de aves (17%), milho (16%), minério de ferro (14%), soja (11%), açúcares e melaços (10%) e carne bovina (5%).

No ano 2000, 59% do que o Brasil vendeu para o mundo foram produtos manufaturados pela indústria. Em duas décadas, essa participação caiu a menos da metade, 28% em 2022, conforme os dados compilados pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Soja, milho, petróleo, minério de ferro e carne responderam por cerca de metade de tudo o que o Brasil embarcou para o mundo no ano passado.

A Argentina soma reservas cambiais (dólar), hoje, em US$ 42,9 bilhões. Para efeito de comparação, o Brasil, por exemplo, soma US$ 324,7 bilhões em reservas internacionais. Para evitar a saída de dólares, o governo argentino com frequência impõe restrições às importações, o que afeta diretamente seus principais parceiros comerciais.

O Brasil e a Argentina acertaram a assinatura nesta segunda-feira (23) de uma nova linha de crédito para que o país vizinho possa acelerar a importação de produtos brasileiros, em especial manufaturados, que teve queda acentuada nos últimos anos.

A operação negociada entre os ministérios da Fazenda brasileiro e da Economia argentino teria financiamento de bancos públicos e privados brasileiros com aval do Fundo Garantidor de Exportação, mas com lastro em garantias reais, como commodities.

Governo Bolsonaro esfriou fluxo de comércio com a Argentina

Jair Bolsonaro (PL) viajou para a Argentina em 2019, quando o rival de Fernández, Mauricio Macri, ainda estava na Casa Rosada. Desde que a coalizão de partidos de esquerda peronistas e kirchneristas que ganhou as eleições e assumiu o poder, ele não foi mais à região. Especialistas apontam que algumas das políticas da gestão passada acabaram contribuindo para esfriar o fluxo de comércio entre os dois países,

Na gestão de Bolsonaro, houve também a interrupção do programa de financiamento às exportações pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De maneira geral, o Brasil ficou muito isolado internacionalmente nos últimos anos e o governo Lula quer retomar o protagonismo internacional, principalmente considerando os vizinhos. 

O aumento dos embarques do Brasil para o Oriente Médio, por sua vez, é um retrato da primarização da pauta de exportações brasileira. Nos últimos anos, o país tem vendido cada vez mais produtos básicos, muitos com um nível baixo de diferenciação.

Brasil vende mais grãos in natura ao Oriente Médio, quando poderia oferecer café em pó, com maior valor agregado

Oriente Médio, safra de grãos, Lula quer estoques de grãos, safra de grãos, produção de alimentos, IBGE prevê safra recorde, modelo de agronegócio, grãos

Crédito: Freepik

 

O secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Tamer Mansour, dá o exemplo concreto do café: o Brasil vende especialmente o grão in natura para o Oriente Médio, quando poderia oferecer, por exemplo, café em pó, mais caro e com maior valor agregado.

Para além da indústria alimentícia, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira diz que o Brasil teria o potencial para vender também produtos farmacêuticos, cosméticos e relacionados à moda à região.

Os US$ 17,2 bilhões que o Brasil embarcou para o Oriente Médio em 2022 são o maior valor da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior, que começa em 1997.

O primeiro destino foi o Irã. Milho e soja responderam por 80% dos US$ 4.3 bilhões vendidos ao país persa. Entre os árabes, os principais mercados foram os Emirados Árabes Unidos (US$ 3,3 bilhões), que têm se tornado um hub de distribuição de produtos para a Ásia Central, e a Arábia Saudita (US$ 2,9 bilhões).

Na avaliação de Mansour, parte do aumento das exportações para os países árabes se deve à valorização dos preços de commodities no ano passado e à Copa do Catar, que contribuiu para elevar a demanda por produtos básicos.

A relação da gestão Bolsonaro com os países da região teve um início turbulento com a proposta, em 2019, de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, cidade disputada por israelenses e palestinos. O governo recuou da ideia e, com o tempo, passou a acenar mais aos países da região, especialmente por meio do Ministério da Agricultura.

Sobre o terceiro mandato de Lula, Mansour afirma na reportagem da BBC que a relação com a região deve se estreitar. Ele lembra que o presidente Lula desenvolveu a Cúpula Aspa (Cúpula América do Sul – Países Árabes) em 2005, então isso mostra como o governo deve olhar com profundidade para os países árabes. Lula também visitou o Egito em novembro passado para participar da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 27).


Redação ICL Economia
Com informações do G1, da BBC e das agências de notícias

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.