Reunião da Americanas, na quinta-feira (16), com os donos de 31% do capital da varejista, também fundadores da empresa de private equity 3G Capital, junto com os bancos credores, terminou sem acordo. Os acionistas sinalizaram que iriam aportar R$ 7 bilhões. A única mudança foi um incremento de R$ 1 bilhão sobre a proposta trazida pelo ex-CEO, Sérgio Rial, na reunião de 13 de janeiro. As instituições financeiras acreditam que o suficiente seria um aporte de R$ 15 bilhões por parte do trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
Os bancos consideraram R$ 7 bilhões insuficiente para tapar o rombo contábil de R$ 20 bilhões nos balanços da Americanas, que entrou em recuperação judicial em 19 de janeiro com dívidas declaradas de R$ 43 bilhões. Se não houver acordo em futura reunião da Americanas com os bancos e aprovação de um plano, o caminho é a falência, situação que prejudica todos, inclusive bancos. Há a estimativa de que a falência prejudique cerca de 6 mil micro, pequenas e médias empresas que eram fornecedoras de produtos ou serviços para a Americanas.
Não é descartada a falência da empresa, caso não haja acordo entre os acionistas fundadores e os bancos credores em reunião da Americanas
A maior dívida da varejista está nas mãos dos bancos privados. Os débitos com as instituições financeiras somam quase R$ 19,5 bilhões, sendo o Bradesco o maior credor (R$ 5,1 bilhões), seguido por Santander (R$ 3,6 bilhões), BTG (R$ 3,5 bilhões), Itaú Unibanco (R$ 2,7 bilhões) e Safra (R$ 2,5 bilhões). Também estão na lista os bancos públicos Banco do Brasil (R$ 1,6 bilhão) e Caixa (R$ 500 milhões).
Havia uma expectativa de avanço nas negociações na reunião da Americanas pelo fato de, pela primeira vez, a reunião contar com o sócio do trio na empresa de private equity 3G Capital Roberto, Thompson Motta, que é próximo dos maiores acionistas, os quais conhece desde 1986, quando foi trabalhar no banco Garantia (que pertencia a Lemann).
Thompson também teve posição relevante na Americanas, onde dava a última palavra na área financeira, e participou por décadas do conselho de administração e de comitês internos. Ele respondia por todas as operações que envolviam bancos, contratação, definição das taxas etc. Partiu dele o desenho das operações de risco sacado fechadas com os atuais bancos credores que, hoje, fazem parte de rombo contábil.
Na análise do bancos, houve fraude contábil para inflar os balanços da varejista e, consequentemente, o valor das ações da empresa, beneficiando diretamente acionistas e diretores cuja remuneração variável estava atrelada a ações, uma prática muito comum nas empresas administradas pelo trio de bilionários.
Para que o plano de recuperação judicial seja apresentado à Justiça em 20 de março, a Americanas precisa entrar em acordo com os grandes credores, que se mostram extremamente insatisfeitos com as soluções que o trio de bilionários têm apresentado, como o financiamento DIP (do inglês debtor-in-possesion financing, ou “financiamento do devedor em posse”), aprovado pela Justiça no último dia 9, no valor de até R$ 2 bilhões.
Neste tipo de empréstimo, só concedido em recuperações judiciais, a empresa costuma dar garantia para atrair investidores. Mas, no caso da Americanas, foi proposta apenas uma remuneração de 128% do CDI, sem garantias, segundo reportagem divulgada pela Folha de S Paulo.
Por meio do DIP, a dívida bilionária que a varejista tem com os bancos pode ser transformada, por exemplo, em participação societária para aliviar o caixa da Americanas e permitir o cumprimento do plano de recuperação judicial sem grandes sobressaltos. Para os bancos credores, os acionistas devem injetar capital na Americanas e não propor um empréstimo.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo