A política monetária de manutenção de juros altos tem como um de seus efeitos o aumento do desemprego entre homens negros. É o que revela pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (MADE) da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP. De autoria das pesquisadoras Clara Brenck e Patrícia Couto, o estudo discute os efeitos do aumento da taxa Selic no desemprego com recortes de gênero e raça. Ele chegou à conclusão que um aumento de 1% na taxa Selic real (descontada da inflação) aumenta em 1,22% o desemprego de homens negros em comparação ao de homens brancos.
Segundo as autoras da pesquisa, as estimativas foram feitas em relação a homens brancos em razão de sua posição privilegiada no mercado de trabalho. Mesmo controlando a composição setorial e o nível educacional, o impacto de uma política monetária contracionista é maior para homens negros. No entanto, mudanças na taxa de juros não afetam o desemprego de mulheres negras quando comparadas a homens brancos. Já para mulheres brancas o efeito é o oposto do esperado: o aumento de 1% na Selic real diminui em 1,46 pontos percentuais o desemprego deste grupo em comparação com homens brancos.
O principal argumento do Copom ao manter a taxa de juros no patamar de 13,75% é a necessidade de se cumprir a meta de inflação estabelecida a 3,25% para 2023, com teto de 4,75%. As pesquisadoras afirmam que “diante do atual cenário de aumento de taxa de juros para o controle de inflação, a discussão dos efeitos adversos de políticas monetárias precisa ser ampliada e melhor explorada. Em um país marcado pelo seu alto índice de desigualdade social, é fundamental que sejam incluídos no centro do debate os diferentes impactos da taxa de juros na desigualdade, em especial nos diferentes grupos demográficos e regiões do Brasil”.
A integra do estudo “A política monetária de elevações na taxa de juros reforça desigualdades de gênero e raça no Brasil?”, das pesquisadoras Clara Brenck e Patrícia Couto, está disponível no site do MADE em Notas de Política Econômica.
Do site da FEAUSP