A Lojas Americanas conseguiu aprovar seu plano de recuperação judicial ontem (19), em assembleia de credores. A medida teve o apoio de 91,14% dos 1.860 votantes, que representam 97,19% da dívida da varejista. A previsão é que a homologação do plano ocorra em janeiro de 2024, após o recesso do Judiciário.
O evento teve a presença maciça de quirografários (sem garantias), que representam 97,36% dos débitos, da ordem de R$ 42,5 bilhões. A primeira versão do plano foi apresentada em março. A varejista levou, portanto, quase todo o ano para costurar um acordo para sanar R$ 50 bilhões em dívidas.
No fim de novembro, a varejista já havia dito que tinha apoio de parte de seus credores para o plano de recuperação judicial. Parte do valor (R$ 12 bilhões) será pago pelos “acionistas de referência” da rede varejista, ou seja, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles , donos da 3G Capital.
A propósito disso, os bilionários, hoje detentores de 30,1% da varejista, vão ampliar a participação na companhia, para 46% ou 49,3%, a depender do resultado do aumento de capital.
A empresa entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, mas precisava da aprovação da assembleia.
Em nota após a votação, o CEO da Americanas, Leonardo Coelho, destacou que o plano cria um “caminho bem pavimentado para a reconstrução operacional e financeira” da varejista.
“Foco total na operação para levar a melhor experiência de consumo a nossos milhares de clientes e seguir contribuindo com o impacto econômico e social de norte a sul do país”, disse o executivo.
Apesar de ressaltar “milhares de clientes”, reportagem do UOL mostra que, em quase um ano, a Americanas perdeu quase 7 milhões de consumidores. Entre dezembro de 2022 e setembro de 2023, a base de clientes ativos da varejista despencou 13,7% — de 49,1 milhões para 42,3 milhões, de acordo com relatório de acompanhamento mensal dos administradores judiciais da companhia.
Além disso, as ações da companhia na B3 acompanharam o ritmo e caíram 90% nos últimos 12 meses até novembro.
Bancos e fornecedores estão entre os principais credores da Americanas. Veja os principais pontos do plano
Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e outros credores aceitaram um acordo para apoiar o plano de recuperação.
Puderam votar na assembleia desta terça os credores da classe 3 (quirografários), que incluem fornecedores e investidores. Eles representam a maior parte da dívida da varejista.
Agora, a expectativa da companhia é atingir patrimônio líquido positivo e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) superior a R$ 2,2 bilhões, com caixa e recebíveis na ordem de R$ 2,5 bilhões e dívida financeira bruta de até R$ 1,5 bilhão.
Veja abaixo os principais pontos da recuperação da Americanas:
Números da dívida a ser recuperada
- O saldo de créditos a serem reestruturados é de R$ 50,1 bilhões;
- Após as auditorias, a fraude de resultado representou R$ 25,2 bilhões ao fim de 2022;
- A dívida trabalhista (classe 1) é de R$ 82,9 milhões;
- Não há dívidas com garantias reais (classe 2);
- Os créditos quirografários (classe 3) — que incluem fornecedores, investidores, prestadores de serviços e outros credores comerciais, e sem garantias específicas — representam R$ 49,9 bilhões;
- Dívidas com microempresas e empresas de pequeno porte (classe 4) são R$ 180,2 milhões.
Aporte de acionistas
- Os “acionistas de referência” da Americanas (Lemann, Sicupira e Telles) injetarão R$ 12 bilhões em aumento de capital na empresa;
- Atualmente, o trio detém 30,12% do capital social da companhia;
- Do total, R$ 1,5 bilhão já foram aportados e outros R$ 3,5 bilhões serão enviados em até 15 dias após a data da homologação do plano.
Venda de ativos
- Hortifruti Natural da Terra, com 75 lojas em quatro estados, e três centros de distribuição;
- Uni.Co, empresa de franquias detentora de marcas com Imaginarium e Puket;
- Possibilidade de venda, mediante avaliação: AME, de meios de pagamento, e operação digital (marketplace e estrutura ligada, com possibilidade de alcance da venda direta).
Além disso, credores da classe 3 com dívidas até R$ 12 mil recebem integralmente, em parcela única, em até 30 dias da homologação. Já aqueles com dívidas acima de R$ 12 mil podem renunciar ao valor acima desse corte para receber no mesmo prazo.
Aqueles que decidirem renunciar, terá deságio de 50% e amortização em 48 parcelas. Outra opção é deságio de 70% para pagamento em parcela única em 2039.
A empresa também vai destinar R$ 100 milhões para quitar em 45 dias os fornecedores de tecnologia, como marketplaces e canais digitais, “importantes para o soerguimento da Americanas”.
Credores financeiros podem optar uma capitalização de créditos (conversão de dívidas em capital próprio) de até R$ 12 bilhões em ações ou de R$ 1,8 bilhões em debêntures da empresa.
Está previsto também uma emissão de novas ações, com preferência de compra para atuais acionistas: a cada três ações subscritas, o acionista recebe uma de bônus.
Credores que não se inscreverem para suas devidas modalidades serão pagos com 80% de deságio, em parcela única em janeiro de 2044.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1