Finalmente, chegamos à última coluna de opinião deste ano. Foi um período extremamente difícil para todos, com grandes dificuldades, momentos de nervosismo e a possibilidade de um segundo governo Bolsonaro bateu na porta de todos em algum momento. Mas, felizmente, 2022 terminou da melhor maneira possível e, agora, podemos juntar nossas forças para analisarmos o futuro governo Lula nas próximas colunas. Um alívio para quem, muitas vezes, teve que discutir com absurdos, devido ao grau de ruindade de Paulo Guedes em sua condução econômica.
Este ano, tivemos um primeiro semestre bastante complicado. A inflação de alimentos e de combustíveis afetou o bolso de todos nós. A renda média do brasileiro pouco subiu no mesmo período e o desemprego ficou quase estagnado. No apagar das luzes de seu mandato, o presidente Bolsonaro entregou tudo de ruim do que era esperado neste ano, pelo menos no primeiro semestre. Aí veio o período eleitoral e começou a tentativa de compra de eleição por parte dele e de Paulo Guedes, seu “posto Ipiranga” da Economia.
As medidas foram a expansão de gastos fiscais para aumentar o Auxílio Brasil, fornecer uma série de auxílios para categorias específicas, um corte no ICMS para controlar o preço dos combustíveis e isenções fiscais importantes para diversos setores. Essas seriam ótimas medidas não tivessem sido feitas de forma tão desastrada, tendo como consequência o comprometimento de receitas de todos os demais orçamentos federais.
O objetivo foi alcançado, a inflação caiu e a economia passou a crescer. Isso deu uma força extra para Bolsonaro tentar ganhar a eleição.
Medidas eleitoreiras funcionaram apenas no curto prazo. Fome e desemprego voltaram e outros dados econômicos pioraram
Felizmente, o povo brasileiro possui memória e sabe quão sofridos foram os três anos e meio iniciais desse desgoverno. A fome voltou, o desemprego cresceu, o câmbio subiu, a inflação foi uma das mais pesadas da história recente, e a renda do brasileiro só caiu. O mercado de trabalho ficou mais precarizado e sem perspectiva de futuro para o trabalhador. Isso pesou para a enorme rejeição de Bolsonaro, que, mesmo com um esquema de gastos públicos gigantesco para tentar melhorar a economia na reta final de seu governo, não conseguiu se reeleger.
A condução dos gastos quase representou uma paralisia do país nos últimos meses de 2022. O gasto público é bom e deve ser feito, mas não da forma açodada como foi feito, sem critério algum e cortando gastos de outras pastas importantes.
O resultado do pacotaço eleitoreiro foi falta de dinheiro para conduzir o programa Farmácia Popular, para o pagamento de bolsas de pós-graduação e custeio das universidades e institutos federais. Tivemos falta de verba para diversos setores importantes do serviço público, o que quase paralisou completamente o governo neste último mês de mandato.
Além disso, a equipe de transição constatou o desastre que seria o começo de um possível governo Bolsonaro 2. Não existia destinação de verba para quase nada. Havia recursos apenas para o funcionamento mínimo e bem básico do serviço público, em uma demonstração de falência do Estado brasileiro. A propósito, promessas de campanha, como o Auxílio Brasil de R$ 600, não seriam cumpridas. Ou seja, um novo governo Bolsonaro seria um verdadeiro caos econômico respaldado pelo teto de gastos, regra fiscal que limita o aumento dos gastos públicos à inflação do período anterior.
Agora, podemos respirar. O pesadelo acabou
Mas, felizmente, o pesadelo acabou. Agora, podemos analisar como será o futuro; como a equipe econômica de Fernando Haddad, o futuro ministro da Fazenda, vai conduzir a economia brasileira; como serão feitos os gastos destinados a investimentos e os efeitos que terão na economia como um todo.
Também poderemos avaliar como será a disputa fiscal e monetária entre Banco Central e Ministério da Fazenda; como será um governo que volta a ter a pasta do Planejamento separada da Fazenda, além das novas pastas econômicas importantes, como Gestão e Inovação, Indústria e Comércio Exterior, Trabalho e Previdência Social. Ainda, poderemos avaliar como serão os primeiros meses para o governo que toma posse em 1º de janeiro, os quais devem ser complicados, e quais serão as soluções propostas.
Tudo isso voltará a fazer parte das análises e, finalmente, vamos poder dialogar com o sensato, com a ciência, com a razão.
Saímos de um governo pautado pela insensatez e, agora, teremos um governo de verdade, depois de quatro anos de trevas com Bolsonaro e Paulo Guedes.
*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais
*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorando pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira