Com mais de 270 bloqueios em estradas, ato de caminhoneiros bolsonaristas afronta a democracia, traz prejuízos à economia e à população

Silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL) desde o resultado das eleições no último domingo, ajuda a inflamar ala mais radical de apoiadores
1 de novembro de 2022

Desde que as urnas deram a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último domingo (30), o presidente derrotado, Jair Bolsonaro (PL), permanece em silêncio. A mudez de Bolsonaro ajudou a inflamar uma horda de caminhoneiros bolsonaristas, que, desde ontem (31), bloqueiam estradas pelo país, prejudicando o trânsito de mercadorias e de pessoas em algumas partes do Brasil. Até esta manhã de terça-feira (1º), o ato de caminhoneiros promovia ao menos 271 bloqueios.

O ato andidemocrático de um pequeno mas barulhento grupo de caminhoneiros escancarou algumas feridas abertas ao longo do governo Bolsonaro, as quais o novo governo terá de curar: a corrosão das instituições. Ontem, circulavam pela internet vídeos mostrando a conivência de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com os manifestantes.

O diretor da PRF, Silvinei Vasques, aliado do presidente, permitiu que a PRF realizasse, no domingo, durante o segundo turno, blitze em ônibus e outros meios de transportes que levavam eleitores para votarem. Coincidentemente, a maioria das abordagens ocorreram em vias do Nordeste, região majoritamente eleitora de Lula. Assim, a PRF passou por cima de uma decisão do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, de que as abordagens não fossem feitas, o que, aliás, fere a legislação eleitoral.

O mesmo empenho da PRF para realizar as blitze no domingo não se vê para coibir as manifestações dos caminhoneiros bolsonaristas. Tanto que, ontem, Moraes, como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou que a PRF e policiais militares dos estados agissem para liberar as estradas. Horas depois da determinação, nesta manhã a PRF havia informado que 192 manifestações ao redor do Brasil tinham sido desfeitas até as 6 horas. Até esta manhã, as interdições afetavam estradas em 25 estados e o Distrito Federal, segundo balanço divulgado na primeira hora do dia pela PRF.

Hoje, cerca de 20 manifestantes bloqueavam quatro faixas da Marginal Tietê, no sentido Ayrton Senna, na capital paulista. Os atos antidemocráticos também interferiram no movimento do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na Grande São Paulo, provocando o cancelamento de voos.

STF forma maioria e segue decisão de Moraes contra ato de caminhoneiros contra a democracia

Ontem, o STF formou maioria a favor da decisão de Alexandre de Moraes, para que o governo adotasse imediatamente “todas as medidas necessárias e suficientes” para desobstruir as rodovias ocupadas por bolsonaristas. A decisão do supremo atende pedido feito pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes). Em nota, a confederação disse ser contra “esse tipo de intervenção” em rodovias e respeitar “o direito de manifestação de todo cidadão”, desde que ele não prejudique o direito de ir e vir das pessoas.

“Além de transtornos econômicos, paralisações geram dificuldades para locomoção de pessoas, inclusive enfermas, além de dificultar o acesso do transporte de produtos de primeira necessidade da população, como alimentos, medicamentos e combustíveis.”

Após a decisão dele, a presidente do STF, ministra Rosa Weber, marcou para hoje uma sessão extraordinária do plenário virtual da corte para referendo. Meia hora depois, no início na madrugada, os ministros Roberto Barroso, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Rosa Weber e Dias Toffoli já haviam votado e acompanharam Moraes na determinação destinada ao governo.

Caso a decisão do STF seja descumprida, a decisão do STF determina multa e até afastamento e prisão em flagrante do diretor-geral da PRF, por crime de desobediência, além de uma multa de R$ 100 mil por hora a partir da meia-noite de terça.

Moraes enfatizou estar havendo “omissão e inércia” da PRF na desobstrução das vias, ao contrário do domingo, quando o órgão foi bastante ágil nas abordagens para atrasar a votação de eleitores no segundo turno.

O ministro determinou que a Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Militares identifiquem os caminhões utilizados nos bloqueios e informe quais são à Justiça, para que seja aplicada multa de R$ 100 mil por hora aos proprietários.

À reportagem da Folha de S.Paulo, a PRF afirmou que a ordem do diretor-geral é desobstruir todos os pontos de bloqueio o mais rápido possível. Segundo a nota enviada à reportagem, nunca houve determinação contrária, e a corporação está trabalhando para liberar todas as rodovias federais até esta terça.

Em uma demonstração de que o movimento antidemocrático é um ato isolado de caminhoneiros bolsonaristas, o presidente da Frente Parlamentar dos Caminhoneiros, Nereu Crispim (PSD-RS), manistou-se ontem, dizendo que os motoristas que estão bloqueando as vias após a derrota de Bolsonaro são um “grupo de baderneiros” e não representam a categoria. “Esse movimento não representa os caminhoneiros. Os caminhoneiros respeitam as instituições, respeitam a democracia e respeitam o resultado das urnas”, disse.

Ontem, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, a deputada federal eleita Marina Silva (REDE-SP), que apoiou o presidente eleito Lula, disse que os protestos dos caminhoneiros é semelhante a invasão do Capitólio (Congresso americano), quando Donald Trump perdeu as eleições nos Estados Unidos para Joe Biden, em 2021.

“No caso dos caminhoneiros, eu entendo isso como uma espécie de Capitólio à lá Bolsonaro. Enquanto no Trump nós tivemos uma invasão do Capitólio, no caso do Bolsonaro, como ele não teve abrigo para as aventuras autoritárias, ele está manipulando pessoas e segmentos que são estratégicos para a sociedade brasileira, para a economia, enfim, o abastecimento do país. Essa manipulação ela vai se dissolver, obviamente. Se não tiver uma compreensão política dos próprios bolsonaristas de que eles foram derrotados e que eles devem reconhecer essa derrota, a Justiça pode ser acionada”, disse Marina.

Redação ICL Economia
Com informações do portal UOL, Poder 360 e da Folha de S.Paulo

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