Sem foro privilegiado, Bolsonaro presta depoimento à PF sobre o caso das joias sauditas nesta 4ª feira. Ex-presidente deve ficar calado

Ao menos duas perguntas principais devem ser feitas ao ex-mandatário: se foi ele quem deu a ordem para que funcionários ligados à Presidência da República tentassem reaver as joias presas na Alfândega de Guarulhos (SP); e qual o destino que ele pretendia dar as joias milionárias
5 de abril de 2023

Desprotegido do foro privilegiado pela primeira vez em anos, por não mais ocupar um cargo político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai prestar depoimento à Polícia Federal em Brasília, nesta quarta-feira (5), sobre as joias sauditas milionárias dadas de presente a ele e à ex-primeira-dama Michelle pelo governo ditador da Arábia Saudita. A expectativa é de que ele fique em silêncio, mas há muitas perguntas sem respostas sobre o caso.

De acordo com informações do blog da jornalista Malu Gaspar, em O Globo, há ao menos duas perguntas principais que serão feitas a ele no depoimento: se foi ele quem deu a ordem para que funcionários ligados à Presidência da República tentassem desembaraçar as joias trazidas escondidas ao Brasil, na alfândega de Guarulhos (SP); e qual o destino que ele pretendia dar às peças.

Recentemente, foi revelado em reportagem do jornal O Estado de S.Paulo que não foram somente dois estojos contendo joias sauditas dadas de presente ao ex-presidente e à ex-primeira-dama. O então mandatário também teria ganhado um terceiro conjunto de joias presenteado pelo governo daquele país, contendo um relógio da marca Rolex de ouro branco e cravejado de diamantes, avaliado em R$ 364 mil.

O pacote todo, que incluía ainda uma caneta da marca Chopard prateada, com pedras encrustadas; um par de abotoaduras em ouro branco, com um brilhante cravejado no centro e outros diamantes ao redor; um anel em ouro branco com um diamante no centro e outros em forma de “baguette” ao redor; uma “masbaha”, um tipo de rosário árabe, feito de ouro branco e com pingentes cravejados em brilhantes, vale mais de R$ 500 mil.

A jornalista de O Globo teria recebido informações de fontes ligadas às investigações, que lhe disseram que aquelas duas perguntas vão ajudar a definir qual o papel de Bolsonaro no episódio e se ele cometeu algum crime. O que se sabe, até o momento, é que os presentes deveriam ter ido para o patrimônio do Estado, conforme entendimento do TCU (Tribunal de Contas da União), e não foram.

No entanto, conforme o blog, a PF não depende apenas das declarações de Bolsonaro para chegar a conclusões sobre o caso.

Ex-presidente deve ficar calado sobre caso das joias sauditas, mas outras pessoas estarão prestando depoimentos ao mesmo tempo que ele

Bolsonaro pediu para chegar às 13h30 à sede da PF, em Brasília, uma hora antes do combinado. A expectativa é de que ele exerça o direito garantido a réus de permanecer calado. Porém, ao mesmo tempo em que ele estará prestando depoimento, outras nove pessoas também vão depor no mesmo inquérito, justamente para evitar que combinem versões.

Em São Paulo, ainda segundo o blog de Malu Gaspar, estão depondo o ex-ajudante de ordens do Palácio do Planalto, Mauro Cid, que teria comandado a operação para liberar as joias apreendidas na Receita do Aeroporto de Guarulhos. Uma assistente de Cid, Priscila Esteve das Chagas, já foi ouvida pela PF.

Ela teria recebido ordens para lançar antecipadamente na lista de presentes recebidos pelo então presidente as joias de R$ 16,5 milhões apreendidas pela Receita Federal em Guarulhos, e que seriam dadas à ex-primeira-dama, quando as peças ainda estavam retidas e nem haviam sido liberadas. Depois, teria recebido nova ordem para cancelar todo o processo, quando perceberam que não seria possível reavê-las.

Apesar da presença aguardada do ex-presidente à sede da PF e contando com o fato de que ele deve permanecer em silêncio, investigadores disseram já ter depoimentos e evidências contundentes de que a estrutura da Presidência da República trabalhou ativamente para desviar as joias que deveriam ser incorporadas ao patrimônio público.

A tentativa de desviar as joias para o acervo pessoal do presidente envolveu até o mesmo o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, apoiador declarado do ex-presidente, que escondeu um conjunto das joias sauditas e outros materiais de Bolsonaro em uma fazenda dele. Uma investigação paralela apura como o acervo chegou à propriedade de Piquet e qual o envolvimento dele na história toda.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Globo 

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