Nos quatro anos de governo Bolsonaro, Petrobras investiu menos e bateu recorde de pagamento de dividendos

Sob o governo Bolsonaro, estatal pagou R$ 289 bi em dividendos, valor quase seis vezes maior do que a média paga dos últimos quatro governos. Montante é atribuído à estratégia de concentrar atividades no pré-sal e vender ativos da empresa em áreas consideradas não prioritárias
13 de março de 2023

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) empreendeu uma queda de braço com a direção da Petrobras nos últimos anos de seu governo, criticando publicamente a política de preços de combustíveis e os dividendos pagos a acionistas. No entanto, foi justamente ao longo de seu mandato que a estatal, cujo maior acionista é o governo brasileiro, bateu recordes de lucros e pagamentos de dividendos. Em valores corrigidos pela inflação, o lucro acumulado pela companhia em quatro anos foi de R$ 358,3 bilhões, e o total pago aos acionistas foi de R$ 289 bilhões.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, o valor pago em dividendos foi quase seis vezes mais do que a média dos últimos quatro governos. O montante é atribuído à estratégia de concentrar atividades no pré-sal e vender ativos da empresa em áreas consideradas não prioritárias.

Esse conjunto de estratégias, que agrada principalmente ao mercado financeiro e os acionistas, contribuiu para que, em 2022, o lucro da Petrobras atingisse o maior resultado anual da história das empresas brasileiras no ano: R$ 188,3 bilhões.

Mas fatores externos também deram uma forcinha para o resultado histórico. O aumento das cotações do barril de petróleo no mercado internacional contribuiu para que a petroleira registrasse alta de 76,6% no lucro líquido ante o resultado de 2021, que já havia sido recorde. Além disso, a empresa pagou R$ 215 bilhões em dividendos a seus acionistas, a maioria fundos de investimentos.

Por outro lado, destaca-se o baixo investimento da Petrobras registrado durante o governo Bolsonaro, que equivaleu a apenas um terço da média dos últimos quatro governos.

Segundo o diretor-técnico do Ineep (Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis), Mahatma dos Santos, em entrevista para a Folha de S. Paulo, a Petrobras saiu de uma empresa que tinha um projeto estratégico nacional, de forte incidência na dinâmica produtiva brasileira para uma empresa menor, com patrimônio menor, com restrições de investimentos e que não olha mais o setor energético de forma integrada.

Santos defende a retomada dos investimentos. Para ele, o modelo da última gestão “coloca em risco a sustentabilidade operacional e financeira” da empresa, já que investimentos no setor têm longo prazo de maturação e o mundo caminha para a transição energética.

Na nota do resultado, a Petrobras atribui o bom desempenho à alta do preço do petróleo no mercado internacional, maiores margens na venda de combustíveis, melhor resultado financeiro e ganhos com acordos de coparticipação em campos do pré-sal, que lhe renderam ressarcimentos por investimentos já feitos.

Vale lembrar que, de olho nas eleições, Bolsonaro interveio várias vezes na companhia, trocando o presidente duas vezes no último ano de seu governo para forçar a queda nos preços dos combustíveis e, consequentemente, na inflação.

Somado a isso, Bolsonaro reforçou uma política iniciada no governo de Michel Temer (2016-2018), de investir no pré-sal e vender ativos da companhia.

O pesquisador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) Cloviomar Carneiro disse à Folha que a estatal fechou 64 operações de vendas de ativos, com valor total de US$ 33,9 bilhões (R$ 177 bilhões, pelo câmbio atual), ao longo do mandato de Bolsonaro.

Na gestão Temer, foram 15 operações, somando US$ 17,6 bilhões (R$ 92 bilhões). Com Dilma, foram 16 operações, a US$ 8,3 bilhões (R$ 43 bilhões).

Sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a situação deve mudar. Além de estar estudando uma nova política de preços dos combustíveis, o ex-senador Jean Paul-Prates (PT), que agora preside a estatal brasileira, afirmou que deseja que a empresa continue lucrando e distribuindo ganhos a investidores como em 2022. Contudo, ressaltou que isso será buscado em “outras circunstâncias”.

O governo Lula quer, principalmente, retomar os investimentos da petroleira em áreas abandonadas, como combustíveis alternativos, e que a empresa cumpra seu papel social previsto na constituição, vendendo combustível mais barato e contribuindo para o desenvolvimento do país no setor de energia, estratégico para garantir a soberania nacional.

Levantamento feito pelo TradeMap mostra que lucro da Petrobras foi 2,6 vezes mais sob Bolsonaro. Porém, 80% do lucro foi distribuído

Levantamento feito por Einar Rivero, da TradeMap, e mostrado na reportagem da Folha aponta que o lucro acumulado pela Petrobras no governo Bolsonaro foi 2,6 vezes a média dos últimos quatro governos. O cálculo já considera a inflação do período e soma os resultados do início do segundo mandato de Dilma Rousseff (2014-2016) e dos anos Michel Temer (2016-2018).

Toda a estratégia para a empresa adotada nos últimos anos fez com que a Petrobras distribuísse 5,8 vezes mais dividendos, o que fez dela uma das empresas que melhor remuneram acionistas no mundo.

O montante distribuído ao longo do governo Bolsonaro representa 80% do lucro total da companhia. A maior relação em gestões anteriores foi observada no primeiro governo Dilma, quando a empresa retornou aos acionistas valor equivalente a quase metade do lucro.

Esses números exorbitantes foram alvos de críticas do presidente Lula. “A Petrobras, ao invés de investir, ela resolveu agraciar os acionistas minoritários com R$ 215 bilhões, tendo um lucro de R$ 195 bilhões. E quanto foi o investimento da Petrobras? Quase nada”, criticou o petista logo após a estatal anunciar o maior lucro da história das companhias abertas brasileiras em março passado.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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