O Brasil sempre foi reconhecido por sua matriz energética limpa, com amplo uso de hidrelétricas e biocombustíveis. Um estudo do Fórum Econômico Mundial, divulgado nesta quarta-feira (19), mostra o país na 12ª posição entre as nações mais bem posicionadas para fazer transição energética.
Nesse quesito, o Brasil está até mesmo à frente de países mais desenvolvidos, como Reino Unido (13º), China (17º) e dos Estados Unidos (19º). Estes dois últimos, aliás, são os maiores emissores de gases poluentes do mundo.
“Conhecido mundialmente por ter uma das matrizes mais limpas, o Brasil viu uma expansão continuada na sua indústria de renováveis”, diz trecho do relatório. “O comprometimento de longo prazo do Brasil com a energia hidrelétrica e com os biocombustíveis, combinado com avanços recentes na energia solar, colocaram o país no caminho para se tornar um líder”.
O Índice de Transição Energética (ETI) avalia 120 países, atribuindo-lhes pontos em 46 indicadores que resultam em uma nota final medida de zero a 100.
De acordo com o estudo, a média global foi de 56,5 pontos, e o Brasil registrou pontuação de 65,7 em 2024. A Suécia, que aparece em primeiro lugar no ranking, marcou 78,4.
Os quesitos avaliados se subdividem em duas categorias: “performance do sistema”, que considera os fatores sustentabilidade, segurança energética e equidade, e “prontidão para a transição energética”, que leva em conta o cenário político-econômico, o nível de educação e capital humano, a infraestrutura e a inovação.
A propósito desse tema, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, em evento paralelo à reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, que aconteceu em fevereiro passado, em São Paulo, já havia destacado que “o Brasil está bem-posicionado para a transição para a neutralidade de emissão de carbono por conta de sua grande matriz de energia limpa”.
Entidades criticam demora do país em tirar projetos de transição energética do papel
Por outro lado, a demora do país em avançar com projetos na área de transição energética tem sido alvo de críticas.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, a presidente executiva da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias), Elbia Gannoum, vê com cautela a trajetória brasileira, ao dizer que, nos últimos 18 meses, o Brasil tem posicionado de forma adequada, mas com alguma demora para tirar discussões do papel.
“Nós enxergamos na transição energética uma grande oportunidade para a economia brasileira. O Brasil tem, sim, o potencial de ser protagonista, mas vamos ter que transformar essa potencialidade em realidade”, pontuou.
Dados da AIE (Agência Internacional de Energia) e da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) apresentados no Balanço Energético Nacional 2024 demonstram que 49,1% da matriz energética brasileira é, hoje, composta por energias renováveis. A média mundial fica em 14,7% e, entre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em 12,6%.
A China, país mais poluente, se destaca pelo uso em larga escala de energia solar fotovoltaica. Em 2023, a nação asiática produziu a mesma quantidade de energia solar que todo o planeta havia produzido no ano anterior.
Na América do Sul, o Chile (20º no ranking 2024) também se destacou por avanços na transição. Com 35% de sua matriz representada por energia solar e eólica, o país tem avançado, em especial, no setor de infraestrutura. “Notadamente, Brasil e Chile emergem com bons desempenhos em 2024, entre os 20 melhores países e ao lado de economias avançadas na Europa”, diz o estudo.
G20: apenas seis na lista
Dentro do G20 (fórum que reúne as maiores economias do globo, mais União Europeia e União Africana), somente seis países estão entre os 20 melhores desempenhos no ETI 2024: França (5º), Alemanha (11º), Brasil (12º), Reino Unido (13º), China (17º) e Estados Unidos (19º).
No topo da lista estão, respectivamente, respectivamente, por Suécia, Dinamarca, Finlândia e Suíça, países que não integram o bloco.
No âmbito global, o estudo ainda aponta que, na última década, 107 dos 120 países avaliados apresentaram algum progresso em transição energética, sendo que 30 deles aumentaram suas notas no índice em mais de 10%.
Ainda assim, segundo o Fórum Econômico Mundial, há uma diminuição no ritmo geral da transição, principalmente devido ao aumento do preço de energia provocado por questões geopolíticas.
No último ano, 83% dos países regrediram em ao menos uma das três principais dimensões avaliadas: sustentabilidade, segurança energética e equidade. No período 2021-2024, a melhoria nas notas do ETI foi quatro vezes menor do que a observada entre 2018 e 2021.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo