O Brasil só ficou à frente da Índia na lista de 44 países no ranking que mede a qualidade da aposentadoria entre as países com economia desenvolvida e aqueles que fazem parte do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). O levantamento da Natixis Investment Managers, empresa americana que mede a qualidade de vida de aposentados desde 2012, leva em consideração quatro aspectos para mensurar onde os aposentados vivem melhor: saúde, finanças, qualidade de vida e bem-estar.
Divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, o estudo deste ano sobre aposentadoria constata que a alta inflação é o indicador que mais contribui para a má qualidade de vida dos aposentados, seguida pela alta de petróleo, alimentos e habitação. No caso do Brasil, onde o piso salarial da aposentadoria do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é o salário mínimo, esses indicadores corroeram o poder de compra de grupo.
Além disso, há quatro anos o salário mínimo brasileiro não é corrigido acima da inflação, regra que foi alterada no governo Bolsonaro. Ao longo dos governos petistas, houve uma política de valorização do mínimo, a qual, agora, é promessa de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com o ranking global, os cinco países onde os aposentados vivem melhor são Noruega, Suíça, Islândia, Irlanda e Austrália. Por outro lado, nas cinco últimas posição estão Índia (44º lugar), Brasil (43º), Colômbia (42º), Turquia (41º) e Grécia (40º).
Na América Latina, Chile ocupa a melhor posição no quesito qualidade de vida na aposentadoria
O Chile ocupa a posição 34 no ranking de qualidade de vida na aposentadoria entre as nações pesquisadas. Na América Latina, é o que figura em melhor posição, seguido do México, em 36º lugar. Esses dois, mais Brasil e Colômbia, são os únicos da região que estão na lista.
No entanto, os três países da América Latina melhor colocados na pesquisa possuem baixo índice de bem-estar na aposentadoria, abaixo de 40%. No caso do Brasil, o índice é de 4%.
Juntamente ao fato de ter o menor percentual de bem-estar, o Brasil ocupa o primeiro lugar em taxas de juros e o quinto em dependência dos aposentados de serviços públicos na velhice.
Aliás, a grana curta é um problema para essa faixa etária, na qual o endividamento é alto e cresceu ainda mais nos últimos anos, especialmente depois que o governo federal aumentou as margens para contratação de empréstimos consignados pelos beneficiários do INSS.
No final de março deste ano, virou lei a Medida Provisória (MP)1006/20, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que autorizou que aposentados e pensionistas comprometam até 40% dos seus benefícios para pagamento das prestações de empréstimos consignados. Essas parcelas dos empréstimos são descontadas diretamente nos pagamentos feitos pelo INSS. Até então, o limite era de 35% do benefício.
Após a mudança, o volume de empréstimos consignados contratados pelos beneficiários do INSS mais que dobrou. Dados divulgados no final de agosto pelo Banco Central (BC) apontam um crescimento de 155% na comparação entre o total emprestado nos primeiros três meses do ano – quando valia a margem antiga – para os três meses posteriores – depois que o novo limite entrou em vigor. Já as operações de crédito, no geral, cresceram só 14% no mesmo período.
De abril a junho, foram mais de R$ 29 bilhões em crédito consignado concedidos a beneficiários do INSS. De janeiro a março, R$ 11,3 bilhões.
Sobre o relatório da Natixis Investment Managers, a inflação em alta deve ser um foco de preocupação para os futuros aposentados, que vão precisar se organizar financeiramente ainda mais, buscando investimentos que garantam qualidade de vida.
Por outro lado, a reportagem da Folha traz uma análise do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário), apontando que a situação poderia ser pior para o Brasil, caso não tivéssemos passado por dificuldades que alguns países estão enfrentando somente agora, como a inflação alta, tema do qual o Brasil possui expertise com a trajetória do passado de índices estratosféricos.
Na avaliação de Emerson Costa Lemes, diretor editorial do IBDP, a desigualdade de renda é o que derruba o Brasil no ranking. “O estudo abrange apenas grandes economias. Países menos ricos não fazem parte da lista. Então, considerando os 195 países existentes atualmente, estar em 43º lugar não é a pior posição do mundo; por outro lado, estar atrás de Chile, México e Colômbia é, sim, bem triste.”
Os 44 países pesquisados são, pela ordem de melhor bem-estar da população de aposentados, são: Noruega, Suíça, Islândia, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, Luxemburgo, Holanda, Dinamarca, República Tcheca, Alemanha, Finlândia, Suécia, Áustria, Canadá, Israel, Coreia do Sul, Estados Unidos, Reino Unido, Bélgica, Eslovênia, Japão, Malta, França, Estônia, Polônia, Cingapura, Portugal, Chipre, Eslováquia, Itália, Hungria, Lituânia, Chile, Letônia, México, Rússia, Espanha, China, Grécia, Turquia, Colômbia, Brasil e Índia.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo