Enquanto realizava a operação cheia de erros para extração de sal-gema do solo de Maceió, capital de Alagoas, a Braskem posava em propagandas e patrocínios como empresa defensora da sustentabilidade. Mas, diante da escalada da repercussão do crime ambiental que está afundando o solo da cidade e impactando a vida de milhares de pessoas, a empresa cancelou participações na COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes.
Parte da cidade está sob risco de desabamento devido à possibilidade de colapso em uma das minas (mina 18) de extração de sal-gema que a empresa tem sob a capital alagoana.
“Nos últimos dias, diante do agravamento da crise de Maceió, [a Braskem] achou melhor cancelar sua participação em alguns painéis para evitar que o assunto sobrepujasse quaisquer outras discussões técnicas, dificultando eventuais contribuições que a empresa pudesse oferecer”, disse a companhia em nota.
À agência Reuters, a empresa afirmou que cancelou a presença em todos os painéis de que participaria.
Segundo informações da Folha de S.Paulo, o presidente-executivo da petroquímica, Roberto Bischoff, disse, em um evento em São Paulo, que existem “bons indicativos” de acomodação do solo na área de mina com risco de colapso, mas ressaltou que não é possível afirmar qual será o resultado.
A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) encaminhou pedido para suspensão das atividades da Braskem devido ao risco de desastre ambiental em Maceió, capital de Alagoas. A parlamentar também cobrou a responsabilização da empresa, pediu que ela perca os incentivos fiscais e que seja investigada pelo possível colapso na cidade.
As consequências do crime ambiental cometido pela Braskem já perduram há cinco anos, atingindo mais de 55 mil pessoas de cinco bairros na região da mina de extração de sal-gema. A própria Braskem já admitiu que há risco de colapso total de uma das minas. A situação se agravou nos últimos dias e o caso ganhou repercussão nacional.
A empresa participaria de dois eventos na COP28. Na sexta-feira (8), falariam sobre “O papel da indústria na economia circular de carbono neutro”. Na segunda (11), o tema seria “Impactos da mudança do clima e a necessidade de adaptação da indústria”.
Além disso, a mineradora também esteve presente no estande da CNI (Confederação Nacional da Indústria) na conferência do clima. Um representante da empresa teria participado, na última sexta (1°) de um painel para falar sobre “a importância da elaboração do inventário de emissões” como uma ferramenta para “aumentar a competitividade das organizações”.
No domingo (3), um representante teria feito a moderação de um painel sobre “a relevância estratégica da economia circular para a mitigação das emissões”.
B3 exclui Braskem de grupo de companhias reconhecidas por sustentabilidade empresarial
A bolsa de valores brasileira, a B3, anunciou nesta terça-feira (5) que irá excluir as ações da Braskem de seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) a partir da próxima sexta (8).
Na prática, a empresa será excluída de um grupo seleto de companhias que têm “seu reconhecido comprometimento com a sustentabilidade empresarial”.
Para Eduardo Moreira, Braskem posa de sustentável, mas “mete cidade inteira no lixo”
Na contramão de grande parte da mídia nacional, o ICL Notícias foi o primeiro canal a denunciar o que acontecia sob o solo de Maceió pelas mãos da Braskem, uma empresa global com unidades industriais no Brasil, Estados Unidos, Alemanha e México.
Ao mesmo tempo que cometia o crime ambiental, prejudicando a vida de mais de 55 mil pessoas, a petroquímica marcou presença no Lollapalooza Brasil, realizado entre os dias 24 e 26 de março a 2.418 quilômetro de Maceió, em São Paulo capital.
A iniciativa “Rock and Recycle by Braskem” era para promover o descarte adequado de plásticos. De acordo com o site da empresa, no ano passado, cerca de 130 mil itens plásticos foram coletados no festival.
Em um caso clássico de greenwashing, nas redes sociais, internautas chamaram a atenção para essa contradição das práticas da Braskem. Ou seja, o verniz verde que empresas usam por meio da publicidade e marketing para persuadir o público de que seus produtos, objetivos e políticas são ambientalmente amigáveis.
Além disso, a empresa também patrocinou o Big Brother Brasil 2023, reality show exibido pela TV Globo, “para incentivar um futuro cada vez mais sustentável”.
“A Braskem te cobra para você botar o lixo na latinha certa, aí ela mete uma cidade inteira no lixo. [É uma] grande mentira! A mesma lógica da Braskem é a da Vale, a das grandes construtoras”, criticou Eduardo Moreira, no ICL Notícias primeira edição, desta terça-feira (5).
O economista criticou a lógica no Brasil, que acaba beneficiando grandes empresas, como a Braskem e a Vale, responsáveis por crimes ambientais, sem que sejam efetivamente punidas. “No fim das contas no Brasil, dá lucro você ser irresponsável. Dá lucro matar gente com a sua empresa, dá muito lucro desmatar, você ser corrupto. Mesmo quando eles são pegos, vale a pena!”, disse, numa referência aos casos de Brumadinho e Mariana (MG), em que minas de rejeitos colapsaram deixando dezenas de vítimas.
Heloísa Villela diz que governador articula por CPI
Responsável pela série de reportagens que deram uma dimensão nacional para o crime cometido pela Braskem, a jornalista Heloísa Villela também comentou o tema na edição de hoje do ICL Notícias.
Ela abordou um aspecto político que ganhou o caso, colocando em lados opostos o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), aliado de Renan Calheiros (MDB-AL).
Lira e Calheiros são adversários políticos e têm usado seus aliados no estado como plataforma para as eleições municipais de 2024.
Isso porque, segundo Heloísa, o prefeito de Maceió firmou uma acordo de R$ 1,7 bilhão com a Braskem, que livra a empresa de punição e joga nas costas da prefeitura a reparação dos danos provocados pela extração de sal-gema.
Ontem, o governador de Alagoas se reuniu com lideranças do movimento dos atingidos pelo crime ambiental da Braskem e classificou como espúrio e inacreditável o acordo feito pela prefeitura de Maceió.
“Ele [Dantas] considera indenização justa aquela que é reivindicada pelos moradores. Eles tiveram que sair de suas casas, perderam negócios e nunca tiveram uma reparação à altura do que eles perderam. Então, muita gente perdeu completamente a possibilidade de tocar a vida como tocava antes. Eu conversei com uma pessoa, por exemplo, que tem uma casa e um pequeno negócio, que perdeu tudo e não sabe como vai fazer para sobreviver”, disse a jornalista.
Ela também contou que o governador esteve ontem em Brasília para conversar com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, e ministros do governo Lula, a fim de fazer uma campanha intensa para rever os acordos feitos em favor da empresa e pressionar a instalação da CPI da Braskem.
“A CPI [para ser instalada] precisa que os líderes de partidos indiquem quem serão os senadores. Até o momento, nenhum partido, além do MDB, indicou [os membros da comissão]. Renan Calheiros [que fez o requerimento pedindo a CPI] me disse hoje que conversaria com lideranças para indicar representantes”, comentou Heloísa.
Em outubro, a Braskem foi condenada a indenizar o estado de Alagoas pelos prejuízos causados no estado com a sua operação. A ação foi movida pelo governo estadual por meio da Procuradoria Geral do Estado.
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Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias, Fórum e Folha de S.Paulo