Câmara aprova bagagem gratuita em viagem aérea. Mas isso pode ser só pretexto para liberar pista clandestina

MP também prevê liberação da construção de pistas particulares de pouso, que pode levar a um aumento dos crimes na Amazônia
25 de maio de 2022

A Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (24) uma medida provisória que institui bagagem gratuita em viagem aérea e também elimina uma série de controles do setor. A medida provisória já havia passado no Senado e, agora, vai para análise e sanção do presidente Jair Bolsonaro. As regras ainda dependem de regulamentação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

O texto aprovado estabelece a volta da gratuidade das bagagens depois de cinco anos de cobrança pelo serviço. As companhias ficam proibidas de cobrar do passageiro o despacho de uma bagagem de até 23 quilos nos voos nacionais e de até 30 quilos nos voos internacionais.

De acordo com estimativas de especialistas do setor aéreo ouvidos pelo Poder360, o preço das passagens aéreas partindo do Brasil pode aumentar em até R$ 40. As companhias aéreas dizem que a volta da bagagem gratuita se trata de um retrocesso.

A medida provisória também estabelece outras mudanças nas regras do setor aéreo. A proposta simplifica a autorização para que empresas estrangeiras de aviação possam explorar o serviço de transporte aéreo.

Clima é de indecisão sobre a MP da bagagem gratuita

O presidente Bolsonaro está indeciso sobre sancionar a bagagem gratuita nos voos. A área técnica do Ministério da Infraestrutura sugere veto, mas a ala política alerta para ônus em ano eleitoral.

A indecisão do presidente tem motivo. Ao que tudo indica o despacho gratuito da bagagem é só uma estratégia para tirar a atenção de um objetivo maior da medida provisória que é acabar com a exigência de autorização da Anac para a construção de aeródromos no país – pistas particulares de pouso e decolagem – e libera ainda o funcionamento de escolas e cursos de aviação, que antes tinham que ter autorização da Anac.

A liberação da construção de pistas particulares de pouso pode levar a um aumento dos crimes na Amazônia, sob olhar do mundo todo. Também poderia facilitar o tráfico de armas e o tráfico de entorpecentes, que já fazem pista de pouso clandestina pelo país. Se a MP passar, essas pistas não seriam mais clandestinas porque poderiam ser feitas sem autorização da ANAC.

Vale ressaltar que o trecho sobre a gratuidade não constava no texto original feito pelo governo federal. Foi incluído e aprovado pela Câmara dos Deputados. A inserção de “jabuti surpresa” tem sido constante nos projetos que tramitam no Congresso. 


Redação ICL Economia
Com informação das agências de notícias

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