Uma carta assinada por organizações da sociedade civil, povos indígenas brasileiros e empresas foi enviada, nesta terça-feira (10), ao presidente americano Joe Biden e a membros dos partidos Democrata e Republicanos dos Estados Unidos, pedindo que seja aprovado um fundo bilionário para financiar a proteção de florestas tropicais.
A criação do fundo de US$ 9 bilhões para a proteção de florestas em todo o mundo está em debate no Legislativo americano. O Congresso dos EUA vai debater a proposta que estabelece acordos de longo prazo para combater o desmatamento em países em desenvolvimento.
O acesso ao financiamento deve ser prioritário para os povos da floresta, “que contribuem historicamente para sua conservação e tem seu modo de vida diretamente afetado pela escalada do desmatamento”, diz a carta do grupo brasileiro. Os recursos, vinculados ao Departamento de Estado americano, podem ser destinados em acordos bilaterais de longo prazo a países em desenvolvimento para combater o desflorestamento e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
A jornalista e comentarista do ICL Notícias Cristina Serra ressaltou a importância da proteção de florestas, explicando que “terras dos mundurukus estão entre as mais invadidas e destruídas pelo garimpo, o que levou a uma contaminação no sangue do povo indígena pelos elementos químicos usados na mineração”. Ela classificou o fato como crime de lesa -humanidade e um escândalo em grande escala. “Quando você condena, quando você age contra um povo e o condena ou o ameaça à extinção, não só as pessoas, mas os valores que aquela cultura representa, está cometendo um crime de lesa-humanidade”, definiu.
O escritor e professor Daniel Munduruku, em entrevista ao ICL Notícias (terça, 10), também falou sobre as práticas do governo Bolsonaro de perseguição aos povos indígenas: “o presidente está fazendo tudo o que prometeu, como a perseguição aos povos originários. Um dos primeiros atos dele como presidente da República foi dividir a FUNAI em dois ministérios”.
A falta de política de proteção de florestas do governo Bolsonaro
O fundo proposto pelo governo Biden é um modelo parecido com o do Fundo Amazônia, criado com recursos da Noruega e da Alemanha para financiar ações de conservação no Brasil. Mas os dois países suspenderam os repasses em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, por causa da atual política ambiental. Hoje o fundo tem em caixa mais de R$ 3,5 bilhões, que estão bloqueados.
Levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indica que, nos primeiros três anos do governo de Jair Bolsonaro (2019 a 2021), o desmatamento anual médio na Amazônia foi de 11,4 mil quilômetros quadrados. Trata-se de um aumento em relação ao governo de Dilma Rousseff (5,9 mil).
O governo Bolsonaro também agiu a apenas 2,7% dos alertas de desmatamento emitidos por órgãos de monitoramento no pais, como o INPE. Considerando o total de hectares sobre os quais os alertas incidiram, 87% deles não foram fiscalizados, com multas ou embargo do desmatamento. Os dados são do relatório MapBiomas, um consórcio de ONGs, universidades brasileiras e startups que usa imagens de satélite para rastrear a destruição da floresta amazônica e de outras regiões do país.
Vídeo de Bolsonaro apresenta realidade paralela
Na tentativa de reverter a péssima imagem do Brasil frente à comunidade internacional sobre a omissão do governo federal em frear a devastação das florestas, o presidente Jair Bolsonaro divulgou na segunda-feira (9) um vídeo em inglês com informações desconexas sobre conservação dos biomas brasileiros.
Com erros de português na legenda, a narração em inglês diz que “quem fala da nossa Amazônia nunca chegou a pisar nela”, acompanhando o costume do presidente de não se referir diretamente aos seus alvos de críticas.
O vídeo de pouco mais de dois minutos apresenta uma “realidade paralela” ao dizer que é mentira o argumento de ambientalistas e comunidade internacional de que o Brasil é uma bomba climática e, ao final, ataca os países do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), afirmando que eles são responsáveis por 78% das emissões de monóxido de carbono.
Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias e das agências