A visita da presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan durou menos de 24 horas, mas já vem provocando estragos imensuráveis. O governo chinês, que reivindica o território de Taiwan, anunciou nesta sexta-feira (5) o corte em programas de cooperação com os EUA, em áreas estratégicas como a militar e do meio ambiente. A informação foi dada pela correspondente internacional do ICL Notícias, no YouTube, a jornalista Heloísa Villela, na edição de hoje.
De acordo com Villela, a China mantinha com o governo norte-americano muitas negociações em andamento para combater o aquecimento global. “Então, toda essa cooperação será suspensa imediatamente e a China impôs sanções a Nancy pessoalmente. Ou seja, essa relação fica cada vez mais difícil”, disse.
Em um mundo globalizado como o atual, o anúncio da China joga uma pá de cal nas ambições americanas de manter o seu domínio no contexto geopolítico. Como bem lembrou a correspondente, a relação entre as duas maiores economias do mundo é a maior relação bilateral no momento, mas a China já vem dando demonstrações de que corre por fora.
Na última terça-feira (2), a despeito de todas as sugestões para que não o fizesse, a parlamentar democrata desembarcou em Taiwan, onde esteve visitando o equivalente à Câmara dos Deputados local e algumas das principais indústrias do setor de tecnologia. Nancy também esteve com a presidente do país Tsai Ing-wen.
Ao longo da visita, os chineses acompanharam de perto o deslocamento do avião que levava a parlamentar à ilha, cujo território é reivindicado pela China. Tanto para os chineses quanto para os americanos a viagem pegou mal, especialmente pelo fato de que poderia indicar uma espécie de provocação por parte dos americanos aos chineses. E, pelo visto, o entendimento é esse.
Segundo Heloísa Villela, as consequências da viagem de Nancy podem “reverberar por meses ou até anos”. Foi a primeira visita de um presidente da Câmara dos EUA visita Taiwan em 25 anos.
Como lembrou a jornalista, a China de 2022 não é a mesma de 25 anos atrás. “A China hoje deve ser respeitada devido à presença econômica determinante no mundo, o que dá ao país a capacidade de movimentar as placas tectônicas da geopolítica mundial”, disse Villela, em reportagem elaborada especialmente para o ICL Notícias.
Corte em programas de cooperação mostra poderio da China em determinar rumos da geopolítica mundial
Entrevistado por Heloísa Villela, o doutor em Ciência Política pela UFRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Diego Pautasso, autor do livro “China e Rússia no Pós-Guerra Fria”, diz que a China “já é o maior parceiro de 140 países e quanto mais os EUA pressionam um país, mais ele vai para o lado da China”. “A China não perde um critério ideológico para fazer relações econômicas”, endossa.
Conforme mostrado na reportagem, as armas usadas pelos chineses em suas relações comerciais e diplomáticas são diferentes daquelas usadas pelos EUA.
Inspirada pelos programas de ajuda do Japão, a China começou a implementar projetos na África, por meio de empréstimos pagos muitas vezes em forma de escambo, ou seja, com produtos. Segundo o cientista político, muitas vezes esses empréstimos sequer têm juros “ou dispêndio em moeda forte”.
“Muitas vezes, a China troca petróleo em negociações que não envolvem moedas fortes, como o dólar, e, por isso, não há amarração financeira. A China tem interesses em matérias-primas, mas também quer ver o mercado consumidor comprando seus produtos. Por exemplo, a África tem mais de 1 bilhão de potenciais consumidores”, explica.
Essa forma de negociar também ajuda na questão da segurança. “A China sabe que não vai resolver questões como os EUA, jogando bombas”, diz o escritor.
Tanto que, no rastro da desgraça deixada pelo governo norte-americano no Afeganistão, a China tem se aproximado cada vez mais dos afegãos por estratégias de segurança.
A reportagem elaborada por Heloísa Villela mostrou que, nesta semana, foi inaugurado um auditório em uma universidade de Cabul, capital afegã, bancado pela China. Ademais, embora tenha uma fronteira de apenas 69 km com o Afeganistão, a China está se juntando também ao Paquistão para a construção de um corredor comercial, que vem sendo considerado como a “nova rota da seda”, em uma alusão à antiga rota comercial chinesa.
Paquistão e Afeganistão formam um corredor de 2,430 mil km na fronteira chinesa. O projeto bancado pela China é da ordem de US$ 40 bilhões, um pouco menos que o pacote de armas de US$ 54 bilhões dos EUA para a Ucrânia.
No Paquistão, a China está construindo portos, rodovias, ferrovias e zonas de processamento, além de hospitais e escolas.
“O porto de Gwadar (no Paquistão) permite chegar ao sudoeste chinês sem contornar o estreito de Málaga, que é onde os americanos poderiam fechar a torneira para eles, o acesso a todos os portos. Esse é um atalho importantíssimo do comércio”, analisa Pautasso.
Os EUA se preocupam com um possível revide bélico por parte da China, mas o escritor não acredita nisso. “Não acredito que os EUA tenham disposição de um enfrentamento ‘tête-à-tête’. A única solução é tentar ‘ucranizar’ Taiwan”, pontua.
Por ora, a governo chinês tem realizado testes militares ao redor de Taiwan e aplicou sanções econômicas à ilha.
Há um componente importante nessa história. Pelosi é a segunda na linha da sucessão presidencial dos EUA, assumindo o posto caso Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris estejam impossibilitados de fazê-lo.
Redação ICL Economia
Com informações das agências