O conflito no Oriente Médio ganhou nova escalada ontem (1º), após o ataque com mísseis do Irã contra Israel, em revide contra a ofensiva israelense no Líbano. Além da tragédia humanitária, com mortes de dezenas de civis, desabrigados e fluxo migratório de populações para fugir dos ataques, o conflito pode gerar impactos econômicos, inclusive para o Brasil, devido principalmente à alta do preço do petróleo.
A região abrange países que são produtores da commodity. Com a intensificação do conflito, os preços dos contratos do petróleo sobem desde ontem. O Petróleo WTI, subia +2,22%, nesta quarta-feira (2), a US$ 71,37 o barril, enquanto o Petróleo Brent, +2,01%, a US$ 75,07 o barril.
Segundo especialistas ouvidos em reportagem do g1, o maior problema para a economia brasileira com a escalada do conflito no Oriente Médio é a elevação do preço do petróleo. A possibilidade de envolvimento de outros países na guerra sempre gera receio de uma queda ou interrupção na produção da commodity.
Os especialistas reforçaram que a entrada do Irã no conflito, que era temida, embora já esperada, preocupa pelo fato de o país ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Ao g1, o professor Paulo Feldmann, da FIA Business School, traçou um paralelo com a pandemia de Covid-19, quando as medidas de isolamento e controle da doença causaram problemas de produção e escoamento de matérias-primas essenciais para as indústrias, o que encareceu os produtos.
“Podemos ter algo parecido em relação ao petróleo e não é a primeira vez que o mundo vai se deparar com uma crise da commodity decorrente de problemas bélicos no Oriente Médio”, lembrou.
No começo do conflito entre Israel e Hamas, por exemplo, logo no primeiro dia útil após os primeiros ataques o preço do barril de petróleo avançou mais de 4% nas primeiras horas do dia, próximo ao patamar de US$ 90.
Além do petróleo, dólar e pressão inflacionária podem ser consequências
Ontem, o dólar também foi afetado pela escalada do conflito. A cotação da moeda norte-americana subiu 0,31%, para R$ 5,46.
Assim como acontece com o petróleo, em que compradores antecipam as compras para estocar o produto com receio de um desabastecimento, o conflito pode promover uma corrida ao dólar.
Segundo os analistas, investidores também podem, por receio de uma maior escalada do conflito, migrar seus investimentos para o dólar, valorizando a moeda norte-americana, principalmente em relação aos países emergentes.
“Apesar da elevada dívida dos Estados Unidos, o dólar ainda é considerado a moeda de reserva global, de modo que em toda crise, os investidores correm para aportar dinheiro no mercado norte-americano, retirando investimentos de países mais voláteis e arriscados, entre os quais o Brasil”, comenta Emanuel Pessoa, especialista em Direito Internacional.
A consequência desse movimento, com combustíveis e dólar pressionados, é a pressão inflacionária.
A gasolina tem um forte peso no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do país. Assim, uma disparada persistente do petróleo tende a ser refletida muito rapidamente nos índices de preços.
Além disso, o petróleo impacta o preço do diesel, combustível usado em caminhões, que são o mais importante modal brasileiro.
A alta do diesel provoca reflexos em toda a cadeia produtiva, incluindo o preço do frete e valores de produtos, como alimentos e bebidas.
Segundo dados de relatório da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) divulgado hoje, com a estabilidade no câmbio e o ligeiro aumento nos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional no fechamento do dia útil anterior (1º/10), o cenário médio de preços está acima da paridade para o óleo diesel e para gasolina. A defasagem média é de 2% para o óleo diesel e de 4% para a gasolina.
Por isso, na avaliação dos especialistas, a Petrobras teria margem para segurar eventuais aumentos, pelo menos por um tempo, caso a guerra tome proporções maiores.
Redação ICL Economia
Com informações do g1