Copom deve anunciar 3º corte consecutivo de 0,50 p.p. na taxa Selic nesta 4ª feira

Para secretário de política econômica, piora do cenário externo pressiona os países emergentes e dificulta aumento no ritmo de corte dos juros no Brasil.
1 de novembro de 2023

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve anunciar, nesta quarta-feira (1º), o terceiro corte seguido de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, que deve passar de 12,75% para 12,25%. A decisão será anunciada após o fechamento do mercado financeiro.

A aposta do mercado financeiro para um nove corte de 50 pontos-base é respaldada pelo que está indicado na ata da última reunião do colegiado, em setembro. No documento, o Copom descartou aumento do ritmo de corte na taxa básica de juros nas próximas reuniões, a menos que a economia apresente dados surpreendentemente positivos que levariam a um processo desinflacionário.

O ciclo de cortes da Selic começou em agosto, quando a taxa caiu de 13,75% para 13,50% ao ano. Em setembro, houve nova redução na mesma fração. Se confirmado o 0,50 p.p. hoje, a Selic cairá ao menor patamar desde maio de 2022, quando estava em 11,75% ao ano.

Conforme o Boletim Focus do Banco Central, divulgado na última segunda-feira (30), o mercado financeiro projeta que a Selic encerrará o ano em 11,75%. Para 2024, a estimativa é de que a taxa Selic feche o ano em 9,25% ao ano.

Em dezembro, haverá a última reunião do Copom neste ano, quando nova redução de 0,50 p.p. também deve ser anunciada.

Para secretário de política econômica, piora no cenário externo pressiona ritmo de cortes na taxa Selic

O processo de queda nas taxas de juros no Brasil pode encontrar um obstáculo inesperado nos próximos meses devido ao aperto monetário nos Estados Unidos, alerta o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello. Em uma entrevista ao Valor, ele discutiu os desafios que a economia brasileira enfrenta à medida que o cenário global evolui, destacando que o aperto monetário nos EUA pode impactar significativamente as perspectivas para 2024.

Mello enfatizou que o aumento nas taxas de juros dos títulos do governo dos EUA, especialmente os de longo prazo, tem consequências significativas nos mercados financeiros em todo o mundo. Isso reflete o aquecimento da economia dos Estados Unidos, que é visto como positivo. No entanto, o aumento das taxas de juros americanas afeta os fluxos de capital globalmente, incluindo o Brasil.

Um aspecto surpreendente é que a economia brasileira tem mostrado resistência a essas mudanças recentes. Normalmente, o Brasil é conhecido por ter taxas de juros e câmbio altamente voláteis, mas, desta vez, o país conseguiu se sair melhor do que alguns de seus pares. Isso demonstra a confiança dos investidores na estabilidade da economia brasileira.

No entanto, a manutenção de taxas de juros elevadas nos Estados Unidos por mais tempo do que o esperado pode complicar a política monetária brasileira. A taxa de câmbio é um dos principais canais de transmissão, e se as taxas de juros americanas permanecerem altas, a flexibilização monetária no Brasil pode ser limitada antes que a economia americana se normalize.

Mello ressaltou que a taxa final da Selic dependerá de quando o Federal Reserve (Fed) começar o processo de flexibilização monetária e quando as taxas de longo prazo começarem a cair. A manutenção de um diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos é importante, mas se as taxas americanas permanecerem altas, a Selic brasileira pode precisar encerrar em um patamar mais elevado do que o esperado.

Em relação ao impacto nas projeções de crescimento do Brasil, Mello admitiu que há muita incerteza. A previsão do governo continua a ser de normalização monetária e queda nas taxas de longo prazo nos Estados Unidos no primeiro semestre, mas há analistas que preveem que isso só ocorrerá no segundo semestre. Isso pode ter implicações para a economia brasileira, especialmente se as taxas de juros permanecerem elevadas por mais tempo, aumentando os riscos para a atividade econômica.

O secretário destacou que, apesar dos desafios, há uma possível boa notícia no cenário global: a China parece estar desacelerando menos do que o previsto, o que pode ajudar a sustentar o crescimento econômico global. No entanto, o equilíbrio de riscos ainda tende mais para o lado negativo, com os Estados Unidos e as tensões geopolíticas representando ameaças à atividade econômica e à política monetária.

Mello enfatizou a importância da agenda fiscal e da reforma tributária para a estabilidade fiscal e econômica do Brasil. A aprovação dessas medidas pode fornecer mais segurança aos investidores e estimular o crescimento econômico.

Redação ICL Economia
Com informações do G1, do Brasil 247 e do Valor

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