Crescimento econômico em 2022 fica distante com aumento da taxa de juro

Sinais de recuos podem se agravar em diferentes setores da economia com a curva de juro ascendente ao longo de 2022
21 de março de 2022

Com a alta da taxa de juro Selic em 1%, atingindo 11,75% ao ano na semana passada, o Banco Central acredita que terá melhores condições para controlar a inflação. No entanto, diante do progressivo aumento da Selic, sinalizado pelo governo, o crescimento econômico para 2022 se torna uma realidade distante, avaliam os economistas no Relatório Semanal Investidor Mestre, André Campedelli e Deborah Magagna.

“A Selic mais alta não vai ter efeito no controle da inflação. A alta da Selic é um erro feito apenas para agradar o mercado financeiro e os grandes analistas econômicos de mercado do país. A alta do juros em nada vai melhorar a atual situação da inflação brasileira. O único efeito disso será justamente dificultar ainda mais uma aceleração da economia brasileira, já bastante debilitada. Novos aumentos já foram sinalizados, o que torna o crescimento econômico para o ano de 2022 uma realidade cada vez mais distante”, consta no relatório.

Os economistas explicam que a taxa básica de juros, na própria lógica do Regime de Metas de Inflação, serve para controlar possíveis aumentos da demanda acima do potencial de oferta da economia, o que, obviamente, não é o caso da situação brasileira no momento. Logo, a elevação não surtirá efeito algum no controle inflacionário.

Como solução, apontam os economistas, seria importante realizar um combate inflacionário mais inteligente, que atacasse de fato as causas inflacionárias. A elevação do juro reduz no médio prazo a taxa de câmbio, o que geraria uma redução das pressões inflacionárias. Mas, mesmo assim, o cerne da questão, o preço dos combustíveis, seria pouco afetado.

O fato é que a alta da Selic veio pouco tempo depois do anúncio da Petrobras em relação ao aumento do preço dos combustíveis no Brasil, com uma elevação de 18% na gasolina e de 24% no diesel. Isto, segundo a empresa, foi reflexo da alta do preço internacional do petróleo e, uma vez que não ocorriam reajustes há 57 dias, era dever da instituição compensar a defasagem existente com o reajuste.

O problema principal da inflação brasileira para os próximos meses deve ser novamente a alta dos combustíveis. O aumento do petróleo eleva o preço da gasolina, o que desencadeia um aumento generalizado de preços no país.

Com a política de precificação atual da Petrobras, as variações do preço do petróleo devem ser repassadas aos preços dos combustíveis o mais rápido possível, sendo assim, com a situação incerta ainda no leste europeu, a possibilidade de novas altas da commodity faz com que sejam esperados novos reajustes tanto da gasolina, quanto do gás botijão e do diesel.

O primeiro dado de atividade econômica de 2022 foi revelado pelo Banco Central e apresentou queda de 0,99% para o mês de janeiro. Com o aumento da Selic, as condições de elevação do PIB ficarão ainda mais comprometidas. “O resultado final desta equação é que a inflação brasileira não será resolvida e a única variável afetada será o nível de atividade econômica”, consta no relatório.

Curva de juro ascendente

Sinais de recuos podem se agravar em diferentes setores da economia com a curva de juro ascendente ao longo de 2022. A cesta básica sofreu aumento nas capitais mais relevantes do país, como mostrou estudo divulgado pelo Dieese. O valor mais alto foi observado em São Paulo, com custo de R$ 715,65. Houve forte variação mensal em algumas cidades, como Brasília, com reajuste de 2,57%, Campo Grande de 2,78% e Goiânia de 2,59%. No ano de 2022, Aracaju já apresentou reajuste de 8,11%, enquanto João Pessoa registrou uma alta de 7,45% e Natal um acumulado de 5,22%.

No acumulado em 12 meses, o destaque foi Campo Grande, que apresentou aumento de 23% no valor de sua cesta básica, seguido por Natal com 19,98%, Recife com 16,92% e Fortaleza com 16,46%. O salário mínimo necessário para suprir todas as necessidades do trabalhador também foi recalculado e chegou a R$ 6.012,18 segundo o Dieese.

Também o setor de serviços recuou 0,1% em janeiro, puxado principalmente pelos setores de informação e comunicação e pelo ramo de alojamento e alimentação. Mesmo com a queda observada no mês, devido à baixa atividade dos serviços durante o começo do ano de 2021, o valor acumulado em 12 meses apresentou alta e atingiu 12,2%. Alguns setores apresentaram elevação em janeiro, como os transportes terrestres, de 2,1%, os transportes aéreos, com alta de 0,7% e os serviços de armazenagem, que subiram 3,4%.

Na agricultura, o levantamento Sistemático da Produção Agrícola apresentou um recuo de 3,8% na previsão da safra de grãos para 2022, resultado dos problemas climáticos e da incerteza da situação dos fertilizantes, que teve seu fornecimento interrompido devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Foi estimada uma produção de 261,6 milhões de toneladas. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a maior queda ficou com a safra de soja, principal grão exportado pelo país, estimada em 8,8% em relação ao ano anterior. Ainda assim, houve aumento da perspectiva de área produzida no país, de 483 mil novos hectares a serem plantados. O destaque ficou com o milho, que deve ter sua área de plantio aumentada em 172 mil novos hectares.

Redação ICL Economia

Com informações do Relatório Semanal Investidor Mestre

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