Crianças são as mais afetadas pelo aumento da pobreza extrema na Argentina

Mais de 66% das crianças menores de 14 anos são pobres, ou seja, duas em cada três.
16 de outubro de 2024

Cerca de 25 milhões de pessoas estão vivendo abaixo da linha da pobreza na Argentina, segundo o relatório mais recente do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). Os dados se referem ao primeiro semestre de 2024 e mostram que há no país mais argentinos pobres do que não pobres: são quase 53%, ou seja, mais da metade da população.

O mais triste do relatório é que ele aponta serem as crianças as mais afetadas pela pobreza: mais de 66% das crianças menores de 14 anos são pobres, ou seja, duas em cada três.

Um relatório publicado em agosto pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) da ​​​​Argentina revelou que “todos os dias, um milhão de meninas e meninos vão dormir sem jantar no país”, enquanto 1,5 milhão pulam uma refeição durante o dia.

Os argentinos com acesso à comida não podem mais pagar o preço dos alimentos mais nutritivos.

Uma das medidas tomadas pelo governo do presidente anarcocapitalista Javier Milei foi praticamente extinguir o funcionamento das cozinhas comunitárias espalhadas pelo país, que deixaram de funcionar quando o fornecimento que recebiam do Estado foi interrompido. Outras seguem em atividade graças a doações privadas.

Mas, até mesmo esses refeitórios que dependem de ajuda privada, já não podem oferecer carne, legumes e frutas diariamente.

Desnutrição infantil coloca em risco o futuro da Argentina. Pobreza tem maior aumento em 20 anos

A desnutrição infantil compromete o futuro das gerações da Argentina. Médicos dizem que já há crianças sendo hospitalizadas com problemas neurológicos e convulsões devido à deficiência de vitaminas, como a B12, algo associado à falta de consumo de carne.

Doenças como escorbuto e lesões oculares por ausência de vitamina A também estão sendo detectados.

Os dados do Indec mostram que a pobreza registrou um enorme salto nos primeiros seis meses do governo Milei, que chegou ao poder em dezembro do ano passado. A pobreza no país aumentou mais de 11 pontos desde o segundo semestre de 2023. Trata-se do maior aumento da pobreza nos últimos 20 anos.

Na prática, isso significa que mais de 5 milhões de pessoas passaram a viver em situação de pobreza no primeiro semestre deste ano. Destas, 3 milhões estão em situação de indigência, o que significa que não têm o suficiente para comer.

Enquanto isso, a inflação da Argentina ficou em 3,5% em setembro, 0,7 ponto percentual a menos que em agosto (4,2%), segundo dados do IPC (Índice de Preços ao Consumidor). Em 12 meses, o indicador chegou a 209%.

Embora os índices tenham aumentado nos últimos anos como consequência da longa recessão, o grande salto ocorreu no primeiro trimestre deste ano. Em apenas três meses, os preços aumentaram mais de 50%.

O governo atribuiu a aceleração da inflação ao enorme aumento dos gastos públicos que o governo Kirchner realizou no ano anterior, durante a campanha eleitoral, em uma tentativa de se manter no poder.

Mas um fator determinante foi a desvalorização de mais de 50% do valor do peso argentino, que Milei determinou assim que assumiu o cargo, e a liberação quase total de preços e taxas.

Redação ICL Economia
Com informações da BBC News Brasil

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