Cerca de 25 milhões de pessoas estão vivendo abaixo da linha da pobreza na Argentina, segundo o relatório mais recente do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). Os dados se referem ao primeiro semestre de 2024 e mostram que há no país mais argentinos pobres do que não pobres: são quase 53%, ou seja, mais da metade da população.
O mais triste do relatório é que ele aponta serem as crianças as mais afetadas pela pobreza: mais de 66% das crianças menores de 14 anos são pobres, ou seja, duas em cada três.
Um relatório publicado em agosto pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) da Argentina revelou que “todos os dias, um milhão de meninas e meninos vão dormir sem jantar no país”, enquanto 1,5 milhão pulam uma refeição durante o dia.
Os argentinos com acesso à comida não podem mais pagar o preço dos alimentos mais nutritivos.
Uma das medidas tomadas pelo governo do presidente anarcocapitalista Javier Milei foi praticamente extinguir o funcionamento das cozinhas comunitárias espalhadas pelo país, que deixaram de funcionar quando o fornecimento que recebiam do Estado foi interrompido. Outras seguem em atividade graças a doações privadas.
Mas, até mesmo esses refeitórios que dependem de ajuda privada, já não podem oferecer carne, legumes e frutas diariamente.
Desnutrição infantil coloca em risco o futuro da Argentina. Pobreza tem maior aumento em 20 anos
A desnutrição infantil compromete o futuro das gerações da Argentina. Médicos dizem que já há crianças sendo hospitalizadas com problemas neurológicos e convulsões devido à deficiência de vitaminas, como a B12, algo associado à falta de consumo de carne.
Doenças como escorbuto e lesões oculares por ausência de vitamina A também estão sendo detectados.
Os dados do Indec mostram que a pobreza registrou um enorme salto nos primeiros seis meses do governo Milei, que chegou ao poder em dezembro do ano passado. A pobreza no país aumentou mais de 11 pontos desde o segundo semestre de 2023. Trata-se do maior aumento da pobreza nos últimos 20 anos.
Na prática, isso significa que mais de 5 milhões de pessoas passaram a viver em situação de pobreza no primeiro semestre deste ano. Destas, 3 milhões estão em situação de indigência, o que significa que não têm o suficiente para comer.
Enquanto isso, a inflação da Argentina ficou em 3,5% em setembro, 0,7 ponto percentual a menos que em agosto (4,2%), segundo dados do IPC (Índice de Preços ao Consumidor). Em 12 meses, o indicador chegou a 209%.
Embora os índices tenham aumentado nos últimos anos como consequência da longa recessão, o grande salto ocorreu no primeiro trimestre deste ano. Em apenas três meses, os preços aumentaram mais de 50%.
O governo atribuiu a aceleração da inflação ao enorme aumento dos gastos públicos que o governo Kirchner realizou no ano anterior, durante a campanha eleitoral, em uma tentativa de se manter no poder.
Mas um fator determinante foi a desvalorização de mais de 50% do valor do peso argentino, que Milei determinou assim que assumiu o cargo, e a liberação quase total de preços e taxas.
Redação ICL Economia
Com informações da BBC News Brasil