Na crise dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro e sua base aliada continuam com a estratégia de responsabilizar exclusivamente a Petrobras pelo encarecimento dos preços e tentam retirar do foco a responsabilidade do governo.
Em ano eleitoral e em busca de sua reeleição, o presidente distorce fatos e tenta se fazer de vítima como se não tivesse poder de interferir na política de preços praticada pela estatal para conter a crise dos combustíveis. No entanto, o atual governo mantém a política de paridade de importação (PPI) da companhia, implantada pelo governo Michel Temer em 2016, mesmo sendo acionista majoritário da Petrobras e ter indicado sua diretoria.
Como maior acionista, e ao manter a política de preços dolarizada, o governo federal está entre os maiores beneficiários dos resultados financeiros da petroleira. A Petrobras já injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões de 2019, início do governo Bolsonaro, a março deste ano, conforme dados dos relatórios fiscais da companhia.
Esse montante corresponde a aproximadamente cinco vezes o orçamento do Auxílio Brasil previsto para este ano, em torno de R$ 89 bilhões.
Nesta segunda-feira (20), a União receberá mais uma parcela de lucro da estatal de R$ 8,8 bilhões. Esse valor é parte de um total, já anunciado este ano, de R$ 32 bilhões em dividendos que serão pagos até julho.
Com todo esse lucro da estatal, o governo ao invés de financiar políticas que diminuam a crise dos combustíveis, especialmente sobre a população mais vulnerável, prefere usar o dinheiro em medidas eleitoreiras e como moeda de troca de favores com seus aliados no Congresso.
Crise dos combustíveis: desde 2019, brasileiros viram diesel subir 203% e gasolina quase 170%
Com o aumento anunciado no último dia 17, o preço médio de venda de gasolina da Petrobras para as distribuidoras passou de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. Para o diesel, o preço médio de venda para as distribuidoras passou de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro.
Segundo dados elaborados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/seção FUP), entre janeiro de 2019 e 17 de junho de 2022, o diesel nas refinarias já subiu 203%; a gasolina, 169,1%; e o GLP 119,1%. Enquanto isso, o salário mínimo aumentou 21,4% no período (dados da Federação Nacional dos Petroleiros – FUP).
Para o presidente da FUP, Deyvid Bacelar, “o presidente Jair Bolsonaro debocha dos brasileiros com seu discurso eleitoreiro contra reajustes de combustíveis”, já que manteve o PPI, e “a quatro meses das eleições, Bolsonaro se diz contrário às altas dos derivados, as quais deveria ter combatido desde o início de seu governo”.
Tentativa de enganar a população
Para mostrar à população que está tomando uma atitude para frear a crise dos combustíveis, Bolsonaro e o Centrão querem a abertura de uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito – para investigar a atual gestão da Petrobras. Mas, dentro da própria base governista no Congresso, muitos parlamentares avaliam que isso pode ser um “tiro no pé”.
Reportagem da Folha de S. Paulo ouviu fontes que avaliam que uma CPI teria pouco efeito prático sobre a principal necessidade do governo, que é conter a crise dos combustíveis, e ainda poderia virar palanque para a oposição e se estender pelo período eleitoral —amplificando qualquer desgaste político.
Há a avaliação de que oposição poderia usar a comissão para atacar o presidente Bolsonaro e a atuação dele diante da crise dos combustíveis. Além disso, a CPI tem prazo de funcionamento de 120 dias, podendo ser prorrogada. Portanto, a análise de documentos da estatal e os depoimentos televisionados sobre a gestão da empresa ocorreriam durante a campanha eleitoral.
Na Câmara dos Deputados está prevista para hoje (20), reunião de líderes para avaliar quais projetos entrarão em pauta.
Redação ICL Economia
Com informações das agências