No país de 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave, a prioridade de quem recebe os R$ 600 do Auxílio Brasil é comprar comida. É o que mostra pesquisa Datafolha divulgada ontem (22). Do total de entrevistados entre os dias 20 e 21 de dezembro, 76% disseram que o dinheiro vai principalmente para a alimentação. Pagar dívidas aparece em segundo lugar, com 11%. Nos dois casos, os percentuais são os mesmos do levantamento anterior, realizado no final de setembro.
Na sequência, está comprar remédios (5%, ante 6% na pesquisa anterior). A opção comprar gás manteve os 2%. Ou seja, o levantamento do Datafolha mostra que o dinheiro do Auxílio Brasil não tem como destino a compra de bens supérfluos.
Com a perda de renda da população brasileira devido à política de reajuste salarial implementada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), que não repõe as perdas inflacionárias, à inflação dos alimentos que continua alta e à precarização dos direitos trabalhistas, o brasileiro mais vulnerável precisa da ajuda governamental para ter o mínimo de dignidade. Ao longo deste ano, os alimentos aparecem como os os itens que mais causam impacto nos índices de inflação.
O IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15), considerado uma prévia da inflação), apresentou alta de 0,52% em dezembro, e fechou o ano de 2022 com variação acumulada de 5,90%. Transportes (0,85%) e Alimentação e bebidas (0,69%) foram responsáveis pelo maior impacto no mês, com 0,17 ponto percentual. e 0,15 p.p., respectivamente.
Mas, no topo da lista dos maiores impactos de 2022, está o grupo Alimentação e bebidas, com 2,47 p.p. e alta de 11,96%. Na passagem de novembro para dezembro, os preços dos alimentos para consumo no domicílio subiram 0,78%, influenciados pelas altas da cebola (26,18%) e do tomate (19,73%).
Ainda segundo o Datafolha, o uso do benefício para compra de comida fica acima de 80% entre beneficiados com ensino superior, donas de casa, estudantes, autônomos e assalariados sem carteira. É mais baixo entre moradores da região Sul (65%) e pessoas com 60 anos ou mais (62%).
No levantamento, 25% dos entrevistados disseram que alguém da casa recebe o Auxílio Brasil, e 9% afirmaram receber o Vale-Gás federal.
O Datafolha ouviu 2.026 pessoas em todo o Brasil, distribuídas em 126 municípios. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. O total de beneficiários do programa social, que em 2023 voltará a se chamar Bolsa Família, chegou à marca de 21,6 milhões.
Dois em cada três beneficiários do Auxílio Brasil rejeitam o empréstimo consignado vinculado ao benefício, diz Datafolha
No terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que começa em janeiro de 2023, o Auxílio Brasil deve voltar a se chamar Bolsa Família, como era nos governos petistas. Ontem (22), o Congresso Nacional aprovou o Orçamento do ano que vem, mantendo o Bolsa Família em R$ 600 e, também, aumento do salário mínimo para R$ 1.320.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro tentou emplacar o empréstimo consignado do Auxílio Brasil, uma bomba com potencial para ampliar o endividamento das famílias que já estão em situação de extrema vulnerabilidade social, devido aos juros exorbitantes dos contratos. Mas o Datafolha mostra que a maioria dos beneficiários rejeitam a batata quente que o presidente quis jogar no colo deles.
Dois em cada três brasileiros beneficiados pelo Auxílio Brasil não pegaram e não pretendem contratar o empréstimo consignado direcionado a esse público. Somente 15% dos entrevistados declararam já ter feito essa solicitação de crédito. Outros 13% não fizeram, mas pretendem contratar a linha de crédito.
Contudo, outros 66% dos entrevistados não fizeram e não pretendem pegar esse crédito, de acordo com o levantamento realizado nos dias 19 e 20 de dezembro.
Na pesquisa anterior sobre o tema, de 25 a 27 de outubro, 18% declararam já ter feito o empréstimo. Outros 19% não haviam feito, mas pretendiam contratar a linha de crédito. Eram 58% os que não pretendiam fazer.
A rejeição é maior entre mulheres (70%) do que entre os homens (60%) beneficiados, em pessoas com ensino superior (94%) e donas de casa (75%). É menor entre desempregados (61%), autônomos (60%) e pessoas com ensino fundamental (62%).
Lançado em 11 de outubro, o empréstimo do consignado do Auxílio Brasil somou cerca de R$ 5 bilhões em outubro, de acordo com dados do Banco Central. Somente a Caixa, banco estatal usado por Bolsonaro durante a campanha eleitoral, respondeu por R$ 4,3 bilhões liberados entre o início da operação até o dia 21 do mesmo mês.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo