Consignado do Auxílio Brasil concedeu R$ 9,5 bilhões para 3,5 milhões de beneficiários do programa em apenas 22 dias

Segundo reportagem exclusiva do UOL, quatro em cada cinco reais liberados foram concedidos pela Caixa, banco estatal usado como instrumento eleitoral por Bolsonaro
9 de dezembro de 2022

O empréstimo consignado do Auxílio Brasil foi solicitado por 3,5 milhões de beneficiários do programa de transferência de renda, movimentando R$ 9,5 bilhões em apenas 22 dias. Desse montante, a maior parte – quatro de cada cinco reais – saiu da Caixa Econômica Federal, banco estatal do qual o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uso eleitoreiro para tentar se reeleger.

Em reportagem exclusiva, o portal de notícias UOL diz que os créditos fizeram o total de recursos para beneficiários do Auxílio Brasil quase dobrar entre o primeiro e o segundo turno eleitoral. Em benefícios de R$ 600, o governo federal pagou R$ 12,8 bilhões, para 21,1 milhões de pessoas, em outubro, segundo o portal.

Lembrando que a lei instituindo o crédito consignado é de agosto, portanto, dois meses antes do início das eleições. A medida foi muito criticada por órgãos de defesa do consumidor e por especialistas, como o economista do ICL Eduardo Moreira, principalmente pelos juros exorbitantes cobrados do empréstimo e por colocar em risco de superendividamento os brasileiros já em situação de vulnerabilidade social e econômica.

As parcelas do empréstimo consignado são descontadas do Auxílio Brasil automaticamente pelos bancos credores. O desconto máximo mensal é de R$ 160, fazendo o benefício cair de R$ 600 para R$ 440. Os juros chegam a 50% ao ano. Antes das eleições, era possível contratar créditos de até R$ 2.500.

Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Ministério da Cidadania encaminhou à reportagem do UOL o primeiro balanço das operações envolvendo o consignado pela primeira vez desde o início das operações. As assessorias de imprensa do Ministério da Cidadania e da Caixa vinham se recusando a fornecer as informações, segundo a reportagem.

Do total do consignado do Auxílio Brasil concedido, R$ 7,64 bi foram liberados pela Caixa, banco usado como instrumento eleitoral por Bolsonaro

A liberação dos créditos do consignado do Auxílio Brasil passou a ocorrer em 10 de outubro, ou seja, dias depois do resultado do primeiro turno das eleições, que mostraram Bolsonaro com 6 milhões de votos a menos que o então primeiro colocado Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até 1º de novembro (um dia depois do segundo turno, realizado no dia 30 de outubro), foi liberado o montante de R$ 9,5 bilhões, sendo que a maior parte – R$ 7,64 bilhões – saiu dos cofres da Caixa Econômica Federal. Por sua vez, das instituições financeiras privadas, cerca de dez ofertaram, juntas, R$ 1,8 bilhão.

Segundo a reportagem do UOL, um de cada seis beneficiários do programa de transferência de renda solicitou o crédito. Os estados de São Paulo e Bahia foram os que mais receberam essa modalidade de crédito, com mais de R$ 1 bilhão cada um. Em seguida, aparecem Rio de Janeiro (R$ 850 milhões), Pernambuco (R$ 787 milhões) e Ceará (R$ 695 milhões).

Porém, o balanço obtido pelo portal de notícias não deixa claro se todo o crédito concedido caiu, de fato, na conta dos beneficiários. Uma reportagem publicada também pelo UOL em novembro mostrou que documentos internos do banco indicavam a suspensão da liberação do empréstimo consignado do Auxílio Brasil e de outras modalidades de crédito para clientes com alto risco de calote. No entanto, publicamente o banco não havia anunciado nenhuma alteração no programa.

Polêmico desde o início, entidades de defesa do consumidor reuniram reclamações de que valores aprovados dias antes do segundo turno foram cancelados depois da derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais.

O consignado do Auxílio Brasil foi criado por MP (medida provisória) de Bolsonaro, aprovada no Congresso em julho passado. Ainda em outubro, o Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) tentou suspender o consignado, alegando possível uso eleitoral para favorecer Bolsonaro. O TCU, porém, autorizou a continuidade da liberação do crédito.

Redação ICL Economia
Com informações do UOL 

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