O desemprego levou pouco mais de um terço da população brasileira (32,1%) a buscar o trabalho autônomo como saída para a sobrevivência. No recorte de gêneros, as mulheres são as que mais buscam complementar a renda com trabalho autônomo, em número quase três vezes maior que o de homens. Os dados, referentes ao mês de dezembro, fazem parte da Sondagem do Mercado de Trabalho, divulgada nesta sexta-feira (26) pelo Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).
Além do desemprego, a sondagem mostra que os brasileiros também buscam o trabalho autônomo para ter mais independência (22,9%), flexibilidade (13,6%) e fonte de renda extra (12,3%).
Em relação às mulheres, 17,8% delas disseram buscar um ofício por conta próprio para aumentar a renda, enquanto apenas 6,8% dos homens disseram fazer o mesmo. Esse dado é reflexo da desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Historicamente, as mulheres encontram mais dificuldades para se recolocarem no mercado de trabalho depois que têm filhos, têm dificuldades para galgar posições de chefia e comumente ganham menos que os homens quando ocupam as mesmas posições.
Rodolpho Tobler, economista pesquisador do Ibre, atribuiu a situação ao mercado de trabalho prejudicado pela pandemia de Covid-19, forçando os trabalhadores a buscarem saídas para pagar as contas. “As pessoas sem emprego migraram para o trabalho por conta própria, enquanto as pessoas de renda mais alta buscaram essa possibilidade por outros motivos”, pontuou.
Para Fernando de Holanda Barbosa, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, o trabalho autônomo é uma espécie de amortecedor em momentos de crise. “Há uma tendência de ‘pejotização’ do mercado de trabalho. Na Uber, você aluga um carro e logo já está trabalhando. A gente vai observar as pessoas querendo mais tempo, ao mesmo tempo em que buscam uma certa proteção social”, disse.
Participaram da pesquisa do Ibre/FGV cerca de duas mil pessoas com mais de 14 anos em todo o território nacional.
Para quem ganha menos, trabalho autônomo corresponde a falta de alternativa. Para quem ganha mais, independência
A pesquisa Ibre/FGV mostra que para quase 40% daqueles que têm renda inferior a dois salários mínimos, buscar o trabalho autônomo é mesmo uma falta de opção ao desemprego, ou seja, de buscar uma vaga melhor. Por sua vez, quem tem renda superior fez do trabalho por conta própria uma escolha para mudança de vida, para ter mais independência (mais de um terço declarou isso na sondagem). O desemprego foi a resposta de apenas 13,4% do grupo.
Em novembro, conforme revela a sondagem, no topo da lista de preocupações dos trabalhadores para os próximos três anos está ficar doente ou incapacitado (58,9%), o que é um problema para os autônomos, que não têm proteção social; medo de não conseguir cobrir todas as despesas (47,4%) e receio de perder o emprego ou a principal fonte de renda (39,2%).
Mais uma vez, o recorte de gênero aponta que as mulheres estão mais preocupadas com outros familiares ou dependentes financeiros (32,3%), enquanto o percentual de homens com esse tipo de preocupação foi de 23%.
Há, também, diferenças regionais na pesquisa. A sondagem mostrou mais empregos com carteira assinada na região Sudeste e menor na Nordeste, tendo esta última mais trabalhadores sem vínculo empregatício.
Além disso, cerca de um terço das pessoas que trabalham atualmente por conta própria sempre foram autônomas. A grande maioria, no entanto, costumava ter outras modalidades de emprego (66,5%).
Na parcela de renda mais alta, 46,7% já estão acostumados ao trabalho por conta própria, ante 53,3% que aderiram recentemente. No caso dos trabalhadores de renda menor, 31,4% sempre foram autônomos, enquanto 68,6% nunca haviam trabalhado dessa forma.
Para os pesquisadores, a sondagem mostra que, embora queiram autonomia e independência, os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros também anseiam por algum tipo de proteção social. Portanto, está lançado o desafio ao novo governo: oferecer proteção social para quem não tem contrato de trabalho formal, de forma que se mantenha a flexibilidade que essas pessoas querem.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias