A desigualdade de gênero no mercado de trabalho é um dos grandes nós a serem desatados no Brasil. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que as mulheres ganham 78% do que recebem os homens. A diferença salarial entre ambos voltou a subir no país, atingindo 22% no fim do ano passado, segundo o instituto, depois de ter registrado uma tendência de queda até 2020.
Para tentar corrigir essas distorções, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai anunciar nesta quarta-feira (8), em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, um projeto de lei que aumenta a multa para empresa que pagar salário diferente entre homens e mulheres que ocuparem a mesma função. Embora já haja legislação nesse sentido, a falta de punição faz com que empregadores continuem perpetuando a prática.
As distorções no mercado de trabalho não param por aí. Boletim divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), com base em dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostra que, no terceiro trimestre do ano passado, as mulheres representavam 44% da força de trabalho, mas eram 55,5% dos desempregados no país. A taxa de desemprego era de 6,9% para os homens e subia a 11% no caso das mulheres. No período, eram 5,3 milhões de desempregadas, sendo 3,4 milhões delas negras.
Para especialistas, a pandemia de Covid-19 contribuiu para aumentar as distorções salariais entre homens e mulheres por ter sido mais difícil para elas. Muitas tiveram que deixar seus empregos para cuidar da casa e da família. Essa saída do mercado de trabalho dificulta a reinserção e, como consequência, muitas acabam aceitando ganhar menos.
No recorte por regiões no Brasil, o Centro-Oeste tem a maior desigualdade de remuneração do país. Em dezembro, a diferença chegou a 27,3%. Em seguida, vêm Sudeste (25,8%), Sul (24,2%), Norte (16,6%) e Nordeste (11,8%). A menor diferença no Nordeste é em parte explicada pelos salários mais achatados no geral. A região é a única onde a remuneração masculina média é inferior a R$ 2 mil mensais.
Crise no setor de serviços durante a pandemia pode ter contribuído para incrementar a desigualdade de gênero no trabalho
Ao jornal O Estado de S.Paulo, a coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Economia da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense, Lucilene Morandi, disse que outra possível explicação para o aumento da diferença salarial pode ser atribuída à crise no setor de serviços.
Segundo ela, o setor empresa mais mulheres e, por ter sido o que mais sofreu durante a pandemia, devido às restrições sanitárias impostas, elas acabaram sofrendo mais as consequências.
Também ao Estadão, a professora do Insper Ana Diniz, pesquisadora na área de diversidade e inclusão, apontou que, além dos problemas que vieram com a pandemia, outras questões precisam ser atacadas para diminuir as diferenças, como a divisão sexual do conhecimento. Ela citou que, historicamente, as mulheres são mais presentes em áreas tidas como “femininas”, como às ligadas ao cuidado (o ensino, por exemplo), que normalmente tendem a ser menos valorizadas financeiramente.
Para a representante adjunta da ONU (Organização das Nações Unidas) Mulheres Brasil Ana Carolina Querino, o pacote a ser anunciado hoje por Lula precisará ter ferramentas de monitoramento. Ela lembrou que a cota de 30% do fundo partidário para candidaturas femininas – criada para aumentar a participação de mulheres na política – não tem sido respeitada por partidos políticos, que recorrem a “artimanhas” para burlá-la.
Paridade salarial é considerada a mais importante para promoção da igualdade de gênero
Estudo divulgado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) hoje, mostra que a paridade salarial é o item considerado mais importante para a promoção da igualdade de gênero no ambiente de trabalho. Do total de executivos e executivas entrevistados, 43% enfatizaram que a paridade salarial como a primeira ou a segunda ação mais importante para a igualdade de gênero no trabalho.
Na sequência, estão a criação de programas que estimulem a ocupação de cargos de chefia por mulheres (26%); políticas para proibir a discriminação de gênero (25%) e programas de qualificação de mulheres para desenvolvimento profissional (25%) .
O levantamento ouviu mil executivos industriais, dos quais 40% são mulheres. Ainda segundo a CNI, de cada 10 indústrias entrevistadas, 6 contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero, sendo a mais citada o retorno ao trabalho das mulheres após o término da licença-maternidade (81%) e paridade salarial (77%).
O levantamento foi realizado nas cinco regiões do país com representantes de negócios de pequeno, médio e grande porte.
Por outro lado, os entrevistados citaram que o principal obstáculo para a promoção da igualdade de gênero nas empresas é o preconceito (21%), seguido da cultura machista (17%). Apenas 14% dos executivos ouvidos disseram não ver barreiras.
Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo e da Folha de S.Paulo