Em entrevista do Estadão Broadcast ontem (15), o CEO do Banco XP, José Berenguer, admitiu que existe um erro de leitura do mercado quanto à intenção do governo e do Congresso em perseguir as diretrizes para atingir a meta fiscal, o que, segundo ele, se reflete nos indicadores de modo errado.
Berenguer afirmou que, depois de ter conversado pessoalmente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília, na semana passada, está certo da existência de um comprometimento “total” por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso para que “tudo caminhe dentro do que foi combinado”. “Não há dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível”, disse.
Na entrevista, ele ainda disse que “estamos assistindo o que eu chamo de ‘olé’ da economia americana em todos os gestores”, por conta das expectativas não concretizadas até o momento de queda nas taxas de juros por lá, o que ele chamou de “drible da vaca”.
Também comentou que os mercados emergentes, como o brasileiro, estão tendo “um ano complexo”. “Mas eu separaria um pouco do que é Brasil e o resto dos outros mercados emergentes. O real sofreu mais, apesar do fortalecimento do dólar em relação aos emergentes. Essa maior desvalorização do real acho que tem a ver, como dito por alguns lá em Brasília, com problemas de comunicação. Acho que a comunicação não ficou fluida, não ficou 100% alinhada e gerou uma sensação de que o governo talvez não fosse seguir as diretrizes fiscais que ele se comprometeu”, pontuou.
Em outro ponto, afirmou o que considera um erro do mercado achar que o governo não vai seguir as diretrizes fiscais. “Acho que existe uma série de desafios, não é uma conta simples. São discussões de restrição de orçamento, de investimentos etc. É sempre difícil. Mas o que eu sinto por parte dos atores, das pessoas envolvidas nessa discussão é que existe um comprometimento total em entregar o que foi combinado. É fácil? Não é nada fácil”, ponderou.
Na avaliação do economista e apresentador do ICL Mercado e Investimentos, André Campedelli, o mercado sempre erra a mão quando se trata de governos progressistas, como o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o Boletim Focus do Banco Central é um reflexo disso.
“A gente sabe que esse erro, na verdade, na maioria das vezes é intencional. Por exemplo, o relatório Focus, famoso ‘garoto de recados’ do Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central] (…) A fórmula é sempre a mesma: está aumentando o gasto e isso aí vai gerar inflação, isso vai ser ruim para o governo no médio prazo, no longo prazo. Então, a gente tem que deteriorar as expectativas. É uma leitura completamente liberal da economia”, disse André na edição desta terça-feira (16) do programa, complementando que o mercado tem uma visão “bem preguiçosa” da realidade.
A economista e apresentadora do programa, Deborah Magagna, ressaltou que o mercado sempre dá um peso muito grande para o fiscal, o que acaba gerando uma desconfiança muito grande, “em um momento em que o governo já se comprometeu em cumprir o fiscal”. “Por mais que a gente tenha críticas em relação a isso [ao arcabouço fiscal, conjunto de regras que limita o crescimento das despesas em relação às receitas], o governo já se comprometeu mais de uma vez acenando para o mercado, e o mercado continua deteriorando as expectativas. Mas a gente sabe que isso também tem um porquê, principalmente se a gente está falando de inflação para o próximo ano, quando vai ter mudança na direção do Banco Central”, lembrou Deborah, referindo-se à saída de Campos Neto, cujo mandato na Presidência do BC termina em 31 de dezembro deste ano.
Assista ao comentário completo dos economistas do ICL no vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo e ICL Mercado e Investimentos