Eduardo Moreira alertou e mercado já começa a apostar em alta da Selic

Para Paulo Gala, da FGV, "o mercado está comprando dólares e enviando recursos para fora do Brasil, o que começa a ter consequências concretas, como o aumento da inflação e a possibilidade de o Banco Central não cortar mais os juros".
3 de julho de 2024

O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, cravou, em comentário ontem (2) no ICL Notícias 1ª edição, que a alta do dólar levaria o mercado a começar a pressionar o Banco Central para a alta da taxa Selic. “Escreva aí o que vou dizer hoje, 2 de julho de 2024: eles [o mercado financeiro] vão começar a falar que o BC vai ser obrigado a subir juro agora e o ataque especulativo vai crescendo” (veja o comentário completo clicando aqui).

O comentário foi feito por ocasião da disparada do dólar comercial, que voltou a subir ontem, tendo sido negociado a R$ 5,70 na máxima do dia, para encerrar com alta de 0,22%, a R$ 5,66.

Conforme explicou Moreira ontem, a disparada do dólar no Brasil é fruto de um movimento especulativo no país. Especialistas colocam no centro da disputa a pressão para que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indique um nome aprovado pelo mercado na presidência do Banco Central.

O mandato de Roberto Campos Neto à frente do BC acaba em 31 de dezembro e o mais cotado a assumir a vaga é Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central.

A persistente valorização da moeda americana tem puxado a curva dos juros futuros – conforme também apontou Moreira ontem -, um sinal de que o mercado já começa a apostar que o BC terá de elevar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,5% ao ano, para conter a inflação.

Somente nos dois primeiros dias deste mês o dólar avançou quase 2%. No ano, a moeda acumula valorização de mais de 17%.

Para analistas, o câmbio opera em alta excessiva, com elevado prêmio de risco. Eles avaliam que não há fundamentos na economia neste momento que expliquem essa valorização.

Segundo analistas, não se sabe que patamar o dólar pode atingir enquanto não houver sinalização mais clara do governo sobre o cenário fiscal.

Taxa de juros: analistas botam na conta do fiscal a alta do dólar

Nesta quarta-feira (3), o presidente Lula se reúne com Fernando Haddad (Fazenda) e outros membros da equipe econômica para falar sobre corte de gastos e a alta do dólar, como o próprio presidente disse ontem em entrevista.

Em entrevista ao O Globo, Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, atribuiu a escalada do dólar a uma reação do mercado às incertezas no cenário fiscal.

“Não é uma questão especulativa, mas uma questão de risco do mercado, que reage às incertezas se protegendo. Tudo isso prejudica ainda mais a percepção de risco no Brasil, que já é muito afetada pelo fiscal, enquanto não há nenhuma sinalização concreta de que o governo vai cortar despesas”, disse.

Para Alexandre Viotto, diretor de banking e câmbio da EQI Investimentos, a fala de Lula deixou “uma pulga atrás da orelha”, pelo receio de que o governo tome medidas que tragam mais nervosismo.

As falas não encontram respaldo na realidade. O economista Paulo Gala, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), destacou o bom momento da economia brasileira. “Apesar do bom momento da economia brasileira, com crescimento de 2,5%, desemprego em 7,1%, inflação convergindo e reservas elevadas, o mercado está muito preocupado com a trajetória futura do arcabouço fiscal, como o governo fechará as contas e quem será o próximo presidente do Banco Central”, disse.

“O mercado está comprando dólares e enviando recursos para fora do Brasil, o que começa a ter consequências concretas, como o aumento da inflação e a possibilidade de o Banco Central não cortar mais os juros. Hoje, a curva de juros já projeta um aumento de quase 1% na taxa Selic até o final do ano”, pontuou.

Segundo ele, “existe uma crise de confiança, um ataque especulativo, no sentido de que há uma expectativa muito negativa, resultando em estratégias de defesa dos portfólios”.

“O governo deveria apresentar um plano crível de como o arcabouço fiscal será sustentável e, eventualmente, o Banco Central poderia intervir. Apenas a intervenção do Banco Central, sem um anúncio de medidas fiscais mais críveis, poderia ser um gasto desnecessário de reservas. Seria ideal uma ação combinada do Tesouro e do Banco Central para mostrar que o arcabouço é viável”, disse.

Em suma, embora o BC tenha sinalizado que a Selic deve permanecer em 10,50% pelo tempo que for necessário até a inflação desacelerar, o mercado começa a se questionar se a autoridade monetária não se verá obrigada a elevar a taxa básica de juros ainda este ano.

Analistas argumentam que, na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o cenário alternativo considerava um dólar mais baixo do que o visto atualmente.

Ao O Globo, Bruno Martins, economista sênior do BTG Pactual, pontuou que, desde 19 de junho, data última reunião do Copom, o dólar subiu mais de 4%.

“A tendência é que piore ainda mais, por conta dessa depreciação forte no curto prazo, então muito provavelmente esse cenário de ciclo (da Selic) constante não vai se concretizar, e pode ser que o Banco Central suba os juros ainda este ano”, enfatizou.

Redação ICL Economia
Com informações de O Globo e Brasil 247

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