Eduardo Moreira explica o que está por trás da briga em torno do comando da Petrobras

Economista e fundador do ICL disse que o que deveria estar sendo discutido agora é a recompra das ações da Petrobras.
8 de abril de 2024

O imbróglio envolvendo o comando da Petrobras passa longe de ser uma mera futrica entre o presidente da estatal, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Trata-se de uma disputa de poder, que envolve uma empresa com lucro líquido de R$ 150 bilhões por ano, com capacidade de investimento maior que a do próprio Estado brasileiro.

A avaliação é do economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, que tem experiência de mais de duas décadas no setor financeiro e conhece por dentro os meandros das engrenagens do capitalismo.

“O que está por detrás dessa briga? Você tem no processo de produção de uma coisa, desde ser uma ideia até o negócio ser vendido, as seguintes camadas: a camada de financiamento; energia (transformar a riqueza); comunicação (fazer conexões); logística (distribuir o que produzir). Toda vez que o Estado está presente em uma dessas camadas, o Estado pode forçar a competitividade, oferecer benefícios para os que estão em último lugar; pode direcionar desenvolvimento, crescimento, e é isso, por exemplo, que é feito na China”, explicou Moreira na edição da última sexta-feira (5) do ICL Notícias 1ª edição, programa diário transmitido no canal do ICL no YouTube.

A disputa em torno da Petrobras ganhou novos desdobramentos na semana passada, quando o ministro de Minas e Energia confirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que tinha vinha enfrentando problemas com Prates. Este, por sua vez, quem vem sofrendo processo de fritura no comando da estatal, solicitou reunião “definitiva” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar do problema.

Moreira lembrou ainda o perfil dos dois: enquanto Prates é um senador do PT com experiência no setor de petróleo e gás, Silveira é um ex-delegado de polícia, que entrou na política pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (aliás, ele quase virou líder do governo dele no Senado), e que hoje está no PSD de Gilberto Kassab.

Hoje, o governo é o maior acionista da Petrobras, com 28,67% das ações (veja aqui a composição acionária da empresa).

Segundo Moreira, Petrobras é alvo de cobiça do setor privado e do Centrão

As empresas ligadas a cada uma daquelas camadas, segundo Moreira, são as seguintes:

  • Financiamento: Caixa e Banco do Brasil;
  • Energia: Eletrobras e Petrobras;
  • Comunicação: telefônicas;
  • Logística: Correios.

“Essas empresas são o maior alvo do setor privado porque, dominando isso, elas controlam a ‘pendenga’ toda. Eletrobras, já ganharam; Caixa, já ganharam porque foi tomada pelo Centrão [grupo político liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira]. Nessa luta pelas empresas, existe a disputa entre bancos e o Centrão. E por que existe essa disputa? Os bancos querem ser donos dessas empresas para ganharem dinheiro na transação, enquanto o Centrão quer dominar para poder roubar”, disse Moreira.

Na avaliação dele, se os bancos conseguirem pagar o Centrão para que essas empresas sejam privatizadas, “eles fazem”. “Mas com empresas muito grandes em que o Centrão tem muitos cargos distribuídos, fica mais difícil”, disse.

Dessas camadas, as telefônicas já foram privatizadas há mais de três décadas, e a comunicação hoje é dominada pelas big techs, que são capitais privados.

Moreira lembrou que no governo Bolsonaro houve uma tentativa de privatizar os Correios e o Banco do Brasil, “empresas que estão relativamente bem-paradas, mas não deixaram de ser alvo”. “Hoje, a empresa que é centro da disputa desses grupos é a Petro, que tem quase R$ 150 bi de lucro líquido por ano; empresa que tem capacidade de investimento maior que a do próprio país. Tem mais capacidade de investimento do que o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] inteiro!”, apontou.

Na opinião de Moreira, o que deveria estar sendo discutido agora é a recompra das ações da Petrobras, “porque a dívida da Petrobras é captada a 7%, ou seja, pode pegar dinheiro emprestado a 7% e o dinheiro da empresa é rentabilizado a 30%. Então, nessa operação, você ganharia tudo isso que é dinheiro que vai para o Estado”, explicou. “Então, o que estamos discutindo é retomar a Petrobras dos investidores estrangeiros, que têm quase 50% da Petrobras. Mas não! O que está sendo disputado aqui é uma empresa que tem capacidade de investimento maior do que o próprio governo uma empresa que tem um lucro monstruoso e uma empresa estratégica que está na camada de energia para você dominar o mercado”, complementou.

Para assistir à análise de Eduardo Moreira, veja o vídeo abaixo:

 

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias 1ª edição

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