O El Niño deve provocar a elevação da inflação dos alimentos neste ano, pois esse fenômeno climático já está trazendo impactos para a agricultura, não só para aquelas de ciclos mais curtos, como hortaliças, mas também para as commodities, como soja e milho. A expectativa é de que, no fechamento de 2023, haja deflação desse grupo, mas essa situação deve se reverter este ano, segundo especialistas.
Na próxima quinta-feira (11), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai divulgar o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de dezembro e do fechamento do ano.
O IPCA-15, considerado a prévia da inflação, fechou com alta de 0,40% em dezembro e ficou 0,07 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de novembro (0,33%). Com isso, o IPCA-15 fechou o ano de 2023 com 4,72% de variação.
Para este ano, analistas ouvidos por reportagem da Folha de S.Paulo disseram que a tendência é de alta, mas ela não deve ser tão intensa quanto aquelas registradas em 2020, 2021 e 2022. O avanço, no entanto, pode gerar desconforto para o bolso dos consumidores, principalmente dos mais pobres, que destinam a maior parte da renda para a compra de comida.
O fenômeno climático é caracterizado pela elevação anormal das águas da região equatorial do Oceano Pacífico, modificando a temperatura e o ciclo de chuvas em várias partes do mundo. No Brasil, ele é característico por secas prolongadas nas regiões Norte e Nordeste e chuvas intensas e volumosas no Sul.
“O receio é que o fenômeno possa afetar as safras, atrasando o plantio ou a colheita. 2024 não vai refletir o cenário de 2023, e isso vai pesar mais para as famílias de baixa renda. Os alimentos voltam para a cena”, disse o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
No acumulado de 12 meses até novembro de 2023, a alimentação no domicílio acumulou queda de 1,14%, conforme o IPCA.
Sobre o ano de 2023, Braz projeta que a queda da alimentação no domicílio será de 0,93% nos 12 meses até dezembro de 2023. Para o acumulado de 2024, a estimativa dele é de alta de 3,9%.
As projeções indicam que o El Niño, associado ao aumento das temperaturas mundiais, persista até abril de 2024.
Inflação dos alimentos: El Niño deve mexer com a cotação das commodities também
Para o economista do FGV Ibre, os preços das commodities também devem ser impactados pelo aumento de preços este ano, como soja e milho.
Ele lembrou que, como esses grãos fazem parte de ração animal, os reajustes podem bater também nos preços das carnes, por exemplo.
Conforme os dados da prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, a alimentação no domicílio fechou 2023 com queda (deflação) de 0,82% no acumulado do ano. É a primeira redução desse subgrupo desde 2017 (-5,18%).
Caso a alimentação no domicílio confirme a queda no acumulado de 2023 também no IPCA, será a primeira deflação em um ano cheio desde 2017. À época, os preços acumularam redução de 4,85%.
Os alimentos subiram nos anos seguintes no IPCA, com destaques para as variações registradas em 2020 (18,15%), 2021 (8,24%) e 2022 (13,23%).
Entre os fatores que contribuíram para a alta dos alimentos nesses anos foram os problemas climáticos e encarecimento de insumos com a pandemia de Covid-19 e a Guerra da Ucrânia.
Na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, o colegiado levou em consideração o impacto do El Niño sobre a inflação da comida em suas projeções.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo