No Fórum Econômico Mundial, super-ricos questionam: ‘quando vocês vão taxar a riqueza extrema?’

Único brasileiro ricaço a assinar a carta é João Paulo Pacífico, fundador do grupo de investimentos Gaia.
18 de janeiro de 2024

Em um momento em que estudos apontam o aumento do abismo econômico entre super-ricos e pobres nos últimos anos, um grupo de mais de 250 bilionários e milionários, a maioria deles formada por herdeiros, divulgou carta manifesto no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, ontem (17), em que pedem para ter suas riquezas taxadas.

O grupo quer entregar a carta intitulada Proud to pay (“Orgulhosos em pagar”) diretamente aos líderes mundiais reunidos em Davos.

Não é a primeira vez que o grupo faz esse pedido surpreendente. Na edição do fórum no ano passado, o grupo autodenominado “Milionários Patriotas” também entregou uma versão da carta com assinatura de super-ricos.

Trecho do novo manifesto diz: “Estamos surpresos que vocês fracassaram em responder a uma simples pergunta que estivemos fazendo durante três anos: quando vocês vão taxar a riqueza extrema? Se os representantes eleitos nas principais economias do mundo não adotarem medidas para lidar com o aumento dramático da desigualdade econômica, as consequências continuarão a ser catastróficas para a sociedade”.

Em outro trecho, a carta diz: “Nós somos as pessoas que investem em startups, moldam os mercados de ações, fazem os negócios crescerem e fomentam o crescimento econômico sustentável. Somos os que mais se beneficiam do status quo. Mas a desigualdade atingiu um ponto de inflexão, e os custos dos riscos à nossa estabilidade econômica, social e ecológica são graves, e aumentam a cada dia. Em suma, precisamos de ação já”.

Assinam a versão da carta este ano pessoas muito ricas de 17 países, entre os quais estão a herdeira do império Disney, Abigail Disney; o ator e roteirista Simon Pegg; Valerie Rockefeller, herdeira da dinastia de sua família; Ise Bosch, neta do industrial alemão Robert Bosch; e o músico e compositor Brian Eno, além do ator da série Succession, Brian Cox.

Único brasileiro do grupo de super-ricos a assinar a carta é João Paulo Pacífico, fundador do grupo de investimentos Gaia

No ano passado, nenhum brasileiro milionário havia assinado a carta entregue à elite política global no Fórum Econômico Mundial. A versão deste ano traz a assinatura de João Paulo Pacifico, fundador do grupo de investimentos Gaia que hoje investe em projetos sociais e colabora com as cooperativas do MST (Movimento dos Sem Terra).

Os milionários e bilionários argumentam que, mesmo que sejam taxados, seus padrões de vida não serão alterados nem seus filhos serão prejudicados, muito menos as economias de seus países de origem serão afetados. “Irá transformar a riqueza extrema e improdutiva em investimento em nosso futuro democrático comum”, diz o documento.

Uma pesquisa recente revela que 74% dos super-ricos apoiam pagar mais impostos sobre suas fortunas para ajudar a combater a crise no custo de vida e melhorar os serviços públicos.

O levantamento realizado pela entidade de pesquisas Survation a pedido do grupo Patriotic Millionaires, dos Estados Unidos, entrevistou mais de 2,3 mil pessoas em 20 países que possuem cada um mais e US$ 1 milhão (R$ 4,94 milhões) em bens de investimentos, excluindo suas próprias casas — o que os coloca entre os 5% mais ricos do mundo.

Segundo a pesquisa, 58% dos ricos apoiam a criação de uma taxa de 2% sobre os que possuem fortunas de US$ 10 milhões, sendo que 54% acreditam que a riqueza extrema gera ameaças à democracia.

Relatório recente da ONG Oxfam, divulgado no Fórum Econômico Mundial, mostra que a riqueza dos cinco mais ricos do mundo mais que dobrou (114%) desde 2020, enquanto 5 bilhões de pessoas empobreceram.

As fortunas dos cinco mais ricos subiram de US$ 405 bilhões para US$ 869 bilhões no período. A grande maioria é formada por CEOs ou donos de grandes corporações.

Da redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo

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