Juros altos nos EUA levaram investidor estrangeiro a sacar R$ 21,8 bilhões da Bolsa brasileira este ano

Depois que o Fed, o banco central dos EUA, sinalizou que a redução das taxas de juros vai demorar a acontecer, estrangeiros preferem realocar recursos para mercados considerados mais sólidos.
28 de março de 2024

Desde o início deste ano, investidores estrangeiros já retiraram R$ 21,8 bilhões da B3, a Bolsa de valores brasileira, o que acabou influenciando o desempenho do Ibovespa.

A principal explicação por detrás desse movimento são os juros altos nos Estados Unidos, que acabam retirando recursos de mercados emergentes, como o Brasil.

No último dia 20 de março, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), manteve a taxa de juros de referência no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano. Foi a quinta vez que a autoridade monetária norte-americana manteve as taxas inalteradas, desde que teve início o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos em março de 2022. Os juros estão no maior nível em 22 anos.

A expectativa é de que o Fed mantenha as taxas inalteradas até que a inflação caminhe para a meta de 2% ao ano, conforme vêm sinalizando dirigentes da autoridade monetária. Contudo, no Livro Bege, o Fed projetou três cortes nas taxas neste ano, no montante de 0,75 ponto percentual.

Enquanto isso, por aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central iniciou um ciclo de corte na taxa básica de juros, a Selic, desde agosto do ano passado. A taxa saiu de um patamar de 13,75% para os atuais 10,75%, e a autoridade monetária sinalizou na ata da última reunião a previsão de ao menos mais um corte de 0,50 ponto percentual. A partir de junho, o ritmo deve diminuir.

Saída de recursos da Bolsa brasileira ocorre após forte movimento no fim do ano passado

Analistas do mercado financeiro gostam de repetir o mantra, repercutido pela grande imprensa, de que as interferências políticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na história do pagamento de dividendos extraordinários da Petrobras e a tentativa de emplacar o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, na Vale contribuem para a retirada de recursos da bolsa.

Mas a leitura enviesada do mercado com respaldo da grande mídia não está calcada na realidade. A Vale tem sofrido com as oscilações do minério de ferro no mercado externo, do mesmo modo que a Petrobras tem sentido as oscilações do preço do petróleo. O resto é mera especulação.

À Folha de S.Paulo, o estrategista de ativos Bruno Madruga, da Monte Bravo, disse que os recentes ruídos políticos são pontuais, e o mercado brasileiro segue atrelado aos movimentos dos juros americanos.

“A movimentação do mercado está muito mais ligada aos Estados Unidos do que à Petrobras ou à Vale nesse período. No caso da Vale, houve queda no minério de ferro e naturalmente houve saída de capital estrangeiro nesse ativo. Na Petrobras, houve oscilação do petróleo. Essas interferências são ruídos de curto prazo”, afirmou.

Isso posto, a saída de recursos da B3 no começo deste ano ocorre após um forte movimento de otimismo no fim do ano passado.

No último trimestre do ano passado, o saldo de investimento estrangeiro na B3 foi de R$ 45 bilhões, o que levou o Ibovespa a bater seu recorde nominal histórico. Agora, o índice tem queda de 4,84% em 2024.

No fim de 2023, dados mais fracos de inflação e emprego fortaleceram projeções de que as taxas norte-americanas começariam a cair já em março deste ano, o que impulsionou mercados de maior risco. No entanto, isso acabou não acontecendo.

Nos últimos meses, os dados macroeconômicos da economia norte-americana têm-se mostrado resilientes, esfriando as projeções mais otimistas sobre um afrouxamento de juros.

Juros altos em uma economia considerada sólida, como é a dos Estados Unidos, acabam fazendo com que investidores retirem ativos de mercados emergentes, como já explicado.

A expectativa é que a primeira redução das taxas de juros nos EUA ocorra apenas no segundo semestre.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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