Estresse térmico afeta número de crescente de trabalhadores em todo mundo, aponta OIT

No total, 231 milhões de trabalhadores e trabalhadoras foram expostos a ondas de calor em 2020, um aumento de 66% em comparação com o ano de 2000. Os dados alertam que o mundo perderá a produtividade de 80 milhões de trabalhadores devido ao calor extremo até 2030.
29 de julho de 2024

Um relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho), divulgado na semana passada, mostra que o estresse térmico ocasionado pelas mudanças climáticas, que têm deixa a temperatura do planeta mais quente nos últimos anos, tem afetado cada vez mais um número crescente de trabalhadores.

Intitulado Heat at work: Implications for safety and health (Calor no trabalho: implicações para a segurança e a saúde, em tradução livre para o português), alerta que as regiões que não estavam habituadas ao calor extremo enfrentarão riscos maiores, enquanto os trabalhadores e as trabalhadoras em climas já quentes enfrentarão condições cada vez mais perigosas.

De acordo com o relatório, o estresse térmico é um assassino invisível e silencioso que pode causar rapidamente doenças, insolação ou até morte. Com o tempo, também pode causar graves problemas cardíacos, pulmonares e renais aos trabalhadores e às trabalhadoras.

“À medida que o mundo continua a combater o aumento das temperaturas, devemos proteger os trabalhadores do estresse térmico durante todo o ano. O calor excessivo cria desafios sem precedentes para os trabalhadores em todo o mundo durante todo o ano, e não apenas durante períodos de ondas de calor intensas”, disse Gilbert F. Houngbo, diretor-geral da OIT.

O documento ainda aponta que os trabalhadores mais expostos ao calor estão na África, nos Estados Árabes e na Ásia e no Pacífico. Nessas regiões, 92,9%, 83,6% e 74,7% da força de trabalho são afetados, respectivamente. Estes números estão acima da média global de 71%, de acordo com os números mais recentes disponíveis (2020).

As condições de trabalho, ainda segundo o relatório, estão mudando mais rapidamente na Europa e na Ásia Central. Entre 2000 e 2020, a região registrou o maior aumento na exposição ao calor excessivo, com a proporção de trabalhadores afetados aumentando em 17,3%, quase o dobro do aumento médio global.

Os dados da OIT alertam que o mundo perderá a produtividade de 80 milhões de trabalhadores devido ao calor extremo até 2030.

América, Europa e Ásia Central registraram o maior aumento de lesões no local de trabalho devido ao estresse térmico

Paralelamente, a América, a Europa e a Ásia Central registaram o maior aumento de lesões no local de trabalho devido ao estresse térmico desde 2000, com aumentos de 33,3% e 16,4%, respectivamente. Isso possivelmente se deve ao aumento das temperaturas em regiões nas quais os trabalhadores e as trabalhadoras não estão habituados ao calor, conforme observou o relatório.

No total, 231 milhões de trabalhadores e trabalhadoras foram expostos a ondas de calor em 2020, um aumento de 66% em comparação com o ano de 2000.

No entanto, o relatório destaca que nove em cada de 10 trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo foram expostos a calor excessivo fora de uma onda de calor e que oito em cada 10 lesões profissionais causadas por calor extremo ocorreram fora de ondas de calor.

O calor excessivo cria desafios sem precedentes para os trabalhadores em todo o mundo durante todo o ano, e não apenas durante períodos de ondas de calor intensas

A melhoria das medidas de segurança e saúde para prevenir lesões causadas pelo calor excessivo no local de trabalho poderia poupar até US$ 361 bilhões em nível mundial – em perda de renda e despesas com tratamentos médicos – à medida que a crise do estresse térmico se acelera, afeitando as regiões globais de forma diferente.

As estimativas da OIT apontam que as economias de rendas baixa e média, em particular, são as mais atingidas, uma vez que os custos das lesões causadas pelo calor excessivo no local de trabalho podem atingir cerca de 1,5% do PIB nacional.

O impacto do calor sobre os trabalhadores e as trabalhadoras em todo o mundo está se tornando um problema global que exige ação.

Conclusões do relatório por região

África: A exposição ao calor excessivo no local de trabalho no continente africano foi superior à média mundial, afetando 92,9% da população ativa. A região tem a maior proporção de lesões profissionais atribuíveis ao calor excessivo, com 7,2% de todas as lesões profissionais.

Américas: A região registrou o aumento mais rápido na proporção de lesões ocupacionais relacionadas com o calor desde 2000, com um aumento de 33,3%. As Américas também apresentam uma proporção significativa de lesões ocupacionais devido ao calor excessivo, com 6,7%.

Estados árabes: A exposição laboral ao calor excessivo nos Estados Árabes foi superior à média mundial, afetando 83,6% da força de trabalho.

Ásia e Pacífico: A exposição ao calor excessivo nos locais de trabalho da Ásia-Pacífico foi superior à média global, afeitando 74,7% dos trabalhadores e trabalhadoras.

Europa e Ásia Central: A Europa e a Ásia Central registraram o maior aumento na exposição ao calor excessivo, com um aumento de 17,3% entre 2000 e 2020. Isto é quase o dobro do aumento médio global de 8,8%. A região registrou um rápido aumento na proporção de lesões profissionais relacionadas com o calor desde 2000, com um aumento de 16,4%.

Brasil

O calor excessivo no ambiente de trabalho foi o tema central da reunião anual da Rede OSH (Occupational Safety and Health), realizada na segunda-feira (22/7), em Fortaleza (CE), em paralelo à Reunião Técnica sobre Emprego do G20 Brasil, que teve início em 23 de julho, no Centro de Eventos do Ceará. O GT sobre Emprego é coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e reúne as maiores economias do mundo anualmente.

Fazem parte da Rede OSH especialistas em saúde e segurança do trabalho de diversos países e áreas como a acadêmica, pesquisadores, representantes dos trabalhadores, empregadores e governo. O encontro destacou os impactos do estresse térmico na força de trabalho, alertando para a necessidade de medidas urgentes para proteger os trabalhadores e mitigar os riscos à saúde.

Zhao Li, diretor adjunto do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos e co-presidente com representante da Turquia na Rede OHS, destacou que as altas temperaturas são um problema global que impacta a economia dos países.

“É necessário proteger a nossa força de trabalho, com medidas preventivas para mitigar os problemas de saúde desses trabalhadores”, destacou Li.

O trabalhador está exposto ao calor excessivo em áreas externas e internas, no entanto, as atividades na construção civil e na agricultura são uma das mais afetadas.

O auditor-fiscal do MTE Wellington Kaimoti apresentou as ações que estão sendo realizadas no Brasil para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores.

“O agronegócio concentra 27% dos trabalhadores no Brasil. Por conta do estresse térmico, em 2019, revisamos e atualizamos de forma tripartite a NR 31 que trata das atividades na agricultura”, exemplificou Kaimoti, acrescentando que as regras foram alinhadas de acordo com as normas internacionais.

NRs são Normas Regulamentadoras do MTE que têm o objetivo de complementar as medidas que constam na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).

Redação ICL Economia
Com informações da OIT e Ministério do Trabalho e Emprego

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