As projeções são de queda no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, tanto para o segundo semestre como para o ano de 2023. É o que indicam instituições que estudam e analisam dados da economia, como o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Credit Suisse.
No entanto, o ministro Paulo Guedes parece viver em realidade paralela ao continuar afirmando que o crescimento do PIB pode ficar na casa de 2% neste ano. Em evento a empresários do ramo das telecomunicações, nesta semana, o ministro disse que os “problemas lá de fora vão existir e se aprofundar”, mas que, mesmo assim, a economia brasileira “continuará surpreendendo para melhor”.
Essa afirmação de Guedes se contrapõe ao que indica o documento “Visão Geral da Conjuntura”, divulgado nesta quinta-feira (30), pelo IPEA. As projeções do estudo apontam que o PIB brasileiro deverá atingir, no máximo, crescimento de 1,8% este ano, chegando a 1,3% de crescimento em 2023.
Segundo o instituto, somente o setor de serviços tem estimativa de alta (2,8%), enquanto os setores de agropecuária e industrial devem mostrar relativa estabilidade. Para o segundo semestre deste ano, há expectativa de desaceleração da atividade econômica, em função de fatores externos e internos.
Os aspectos externos apontam para menor crescimento e maior incerteza, dada a elevação das taxas observadas e esperadas de inflação na maioria dos países, e a persistência da guerra entre Rússia e Ucrânia – que deve prolongar os atuais problemas nas cadeias produtivas. Do ponto de vista dos fatores internos, a persistência de taxas de inflação elevadas, além de inibir o consumo por meio da redução da renda real das famílias, tem levado ao aperto da política monetária no país, cujos efeitos atingem o mercado de crédito e tendem a se intensificar nos próximos meses.
Credit Suisse também faz projeção de queda no crescimento do PIB
O Credit Suisse também reduziu sua projeção para o crescimento do PIB do Brasil em 2023 a 0,2%, de 0,9% anteriormente, e chamou a atenção para os riscos fiscais do país e seu possível impacto sobre a inflação e os custos dos empréstimos.
Para 2022, o banco suíço manteve a estimativa de crescimento econômico em 1,4%, mas acredita que a atividade desacelere ao longo do ano após um primeiro trimestre positivo, devido à redução das economias das famílias, menor impacto da reabertura pós-pandemia e efeitos defasados da elevação dos juros básicos.
O relatório do banco, assinado por Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho, avalia que “para o ano que vem, esperamos que as condições financeiras globais mais apertadas, devido à pressão inflacionária mais persistente, afetem negativamente o crescimento econômico doméstico [brasileiro], principalmente por meio de redução da demanda e da necessidade de manter uma política monetária doméstica restritiva por um período prolongado”.
Os economistas do ICL, André Campedelli e Deborah Magagna, em artigo recente, classificaram como “pibinho” o crescimento de 1% no primeiro trimestre de 2022. “Temos um pibinho, em que Paulo Guedes é cada vez mais responsável. A desindustrialização parou de ser consequência e passou a ser plano econômico. Cada vez mais a economia está se voltando para o agronegócio e para o setor de serviços. A demanda das famílias se encontra cada vez mais enfraquecida e a economia se torna mais voltada para fora do que internamente. Vivemos em um país que pensa no agronegócio e nas exportações, com uma massa de pessoas que para a elite econômica deve somente servir para fornecer serviços para elas”, avaliam.
Eles explicam que, com exceção do primeiro trimestre de 2021, há uma atividade econômica muito fraca no país, “quase parando e chegando até mesmo a alcançar a recessão técnica”.
A análise de Campedelli e Magagna é de que, até o final do governo Bolsonaro, deverá persistir o mesmo cenário, ou seja, de baixa atividade econômica e com uma qualidade de PIB cada vez pior. E concluem: “este é o país de Guedes, o país que as elites querem. Para esta parcela a economia realmente está bem, para os demais, temos o pibinho”.
Redação ICL Economia
Com informações das agências