Economista do ICL explica que fala de Lula não é razão para disparada do dólar

Deborah Magagna criticou título de reportagem da Folha de S.Paulo, que atrela a alta da moeda norte-americana, ontem (20), às críticas do presidente sobre a decisão do Copom de interromper o ciclo de cortes da taxa Selic.
21 de junho de 2024

A cotação do dólar chegou a R$ 5,46 ontem (20) e a culpa da alta foi atribuída à fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lamentou a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, de interromper o ciclo de queda da taxa básica de juros, a Selic, mantendo-a em 10,50% ao ano.

Nesta manhã de sexta-feira (21), manchetes de sites e principais jornais de notícias do país culpavam Lula pelo dólar alta.

A economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna, pinçou uma delas, a trazida pela Folha de S.Paulo, para comentar na edição do programa diário, transmitido pelo canal do ICL no YouTube, hoje.

“Se olharmos só a manchete e não a matéria e o subtítulo [linha fina], dá a entender que o dólar foi a R$ 5,46 por conta das críticas do presidente ao Copom. Acontece que, primeiro ponto, essas críticas de ontem não surpreenderam o mercado, pois elas pouco mexeram com expectativa de juros. Não houve surpresa porque o Lula já vem defendendo esse ponto há bastante tempo, então não tem nada de novo na fala dele que pudesse mexer com o mercado”, explicou Deborah.

De acordo com Deborah, o movimento da moeda norte-americana é uma consequência do cenário de incerteza global.

“Pensando em cenário externo, o dólar está se valorizando não só frente ao real. Ele está se valorizando frente a outras moedas de países emergentes e frente aos seus pares. Isso porque a gente tem uma taxa de juros alta nos Estados Unidos, sem muita certeza de quando ela vai ser cortada”, disse.

A alta do dólar e a busca por um refúgio seguro

Diante da incerteza sobre o início do ciclo do corte de juros nos EUA – que estão no patamar entre 5,25% a 5,50% ao ano, o maior em 22 anos -, as expectativas para os juros futuros sobem junto. “E o que está atrelado a essas expectativas de juros futuros? Justamente aquelas Treasuries que eu falo todo dia de manhã, que são os rendimentos dos títulos da dívida dos Estados Unidos – como se fossem os títulos do nosso Tesouro aqui”, explicou.

Com as taxas mais altas nos Estados Unidos e, diante do cenário de incerteza global, investidores estrangeiros começam a retirar recursos de países emergentes, como o Brasil, em busca de refúgio nos papéis considerados os mais seguros do mundo, que são os títulos do tesouro estadunidense.

“Se a gente tem uma saída de recurso financeiro daqui do Brasil, o que acontece com o dólar? Ele sobe”, concluiu Deborah.

A economista ainda lembrou que existe um movimento especulativo também, “baseado no risco fiscal do Brasil”. “Isso colocaria a taxa de juros futura não só pressionada pelo exterior, mas também por esse risco fiscal do mercado financeiro – estou falando de mercado financeiro, não da economia real -, que forçaria o Brasil a pagar mais juros para continuar atrativo”, frisou.

A taxa de juros futura no país é de 12%, então, “quem vai querer correr risco na Bolsa com uma taxa nesse patamar?”.

O movimento é conhecido: “os investidores tiram recursos daqui, a Bolsa cai, esse movimento leva a mais saídas de recursos – e a gente começa a ter uma deterioração de cenário de mercado financeiro em decorrência disso”.

“Então, temos uma série de fatores que poderiam ganhar muito mais peso do que qualquer crítica do presidente Lula”, pontuou Deborah.

 

Assista ao comentário na íntegra clicando no vídeo abaixo:

 

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Mercado e Investimentos

 

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