Após falência do SVB, clientes procuram grandes bancos. Fundador da gestora Black Rock não descarta efeito dominó no setor bancário

Devido à alta na procura, grandes bancos nos EUA começam a abrir contas e iniciar procedimentos de transferência de dinheiro, enquanto o novo cliente ainda está passando por verificações de conformidade
16 de março de 2023

Reportagem publicada no Financial Times informa que os grandes bancos dos Estados Unidos estão sendo inundados por pedidos de clientes que querem transferir fundos de credores menores, enquanto a falência do SVB (Silicon Valley Bank) causa a maior movimentação de depósitos em mais de uma década, segundo executivos. Notícias divulgadas sobre o Credit Suisse na quarta-feira (15)  também serviram para explicitar, ainda mais, que há algo de errado ocorrendo com os mercados financeiros globais.

Grandes bancos, como JPMorgan Chase, Citigroup e outras instituições financeiras de peso, estão tentando atender os clientes que desejam movimentar depósitos rapidamente, tomando medidas extras para acelerar o processo normal de inscrição ou “integração”, de acordo com várias pessoas familiarizadas com o assunto. 

Um pacote de medidas de emergência divulgado pelo governo dos EUA no domingo (12), incluindo um novo mecanismo de empréstimo do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) para os bancos, parece ter passado em seu primeiro grande teste por enquanto, evitando a falência de um terceiro banco após a implosão do SVB e do Signature Bank.

No entanto, os correntistas ainda tentam transferir saldos para grandes bancos, como JPMorgan, Citi e Bank of America, bem como fundos do mercado monetário, segundo a reportagem do Financial Times. Isso ocorre especialmente quando os saldos superam o limite de US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão) garantido pelo seguro federal.

O JPMorgan encurtou o tempo de espera para abrir contas e está acelerando a velocidade com que novos clientes corporativos podem acessar fundos, para garantir que possam pagar funcionários no final desta semana, segundo uma pessoa informada do assunto. Vários bancos remanejaram funcionários para cargos relacionados à abertura de contas, relataram fontes à reportagem.

O banco privado do Citi, que atende a indivíduos ricos, está tentando abrir contas dentro de um dia após o pedido, em comparação com o prazo típico de uma a duas semanas, disseram algumas fontes. A instituição também começou a abrir contas e iniciar procedimentos de transferência de dinheiro enquanto o novo cliente ainda está passando por verificações de conformidade.

Os executivos dizem que estão caminhando sobre uma linha tênue porque não querem ser acusados de explorar a situação. O JPMorgan disse aos banqueiros que não devem fazer tentativas ativas de roubar clientes de rivais menores, conforme pessoas informadas sobre as discussões.

JPMorgan, Citi, Bank of America e First Republic se recusaram a comentar.

“Golias está ganhando”, disse o analista bancário do Wells Fargo, Mike Mayo, em uma nota de pesquisa na segunda (13), destacando o JPMorgan como beneficiário “nestes tempos menos certos”.

As ações de vários bancos regionais dos EUA, incluindo o First Republic, com sede em San Francisco, e o Western Alliance Bank, com sede em Phoenix, fecharam em forte baixa na segunda-feira (13), apesar da promessa do presidente Joe Biden de que seu governo fará “o que for necessário” para proteger os clientes. Os preços das ações de muitos desses bancos se recuperaram parcialmente nas negociações após o expediente.

Gestores de grandes ativos também relataram um influxo de dinheiro retirado dos credores após alguns dias de ansiedade para os clientes bancários. “Os fluxos em todo o setor têm sido dos bancos para fundos no mercado monetário”, disse uma pessoa familiarizada com as operações de uma grande administradora de ativos dos EUA. Os fundos do mercado monetário são supervisionados com mais rigor do que antes da crise financeira de 2008, quando alguns exigiram intervenção do governo.

Para alguns, a quebra do SVB destacou o risco de ter todo o seu dinheiro em um único banco. Antes que os reguladores interviessem com a promessa de garantir todos os depósitos no domingo, muitos clientes corporativos no setor de tecnologia e ciências biológicas estavam preocupados com a possibilidade de não conseguirem pagar funcionários ou fornecedores.

Fundador da Black Rock não descarta mais falências. Clientes correm para grandes bancos

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crédito: Envato

Na carta anual endereçada a investidores e CEOs, o fundador da BlackRock, Larry Fink, a maior gestora de recursos do mundo, com mais de R$ 40 trilhões sob gestão, escreveu que a  quebra do SVB (Silicon Valley Bank) pode não ter sido um evento pontual e outros dominós ainda correm risco de cair e desencadear uma crise bancária.

O texto ainda informa que é cedo para saber quão generalizado será o dano, mas não descarta um cenário em que a quebra do banco se espalha pelo sistema bancário regional dos EUA, provocando mais falências. Fink diz que o caso SVB é o preço que está sendo pago por décadas de “dinheiro fácil”, e compara os eventos recentes à crise de Poupanças e Empréstimos (S&L, em inglês), quando mais de mil associações financeiras nos EUA quebraram nos anos 1980.

Segundo Fink, desde a crise financeira de 2008, os mercados foram definidos por políticas fiscais e monetárias extraordinariamente agressivas. Na avaliação dele, esses movimentos fizeram a inflação subir rapidamente para níveis não vistos desde a década de 1980, obrigando o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a elevar as taxas de juros. Para ele, alta taxa de juro é um preço que, agora, todos pagam por anos de dinheiro fácil e foi o primeiro dominó a cair, consta na carta.

Na avaliação dele, os bancos inevitavelmente recuarão nos empréstimos, o que levará mais empresas a recorrer ao mercado de capital. Ressalta que a resposta regulatória rápida e decisiva ajudaram a evitar riscos de contágio. Mas, informa que os mercados permanecem no limite. Além dos possíveis impactos no mercado financeiro, Fink avalia em sua carta que mudanças dramáticas no cenário econômico deverão manter a inflação elevada por mais tempo.

Ele menciona, por exemplo, o impacto da pandemia de Covid-19 e da Guerra da Ucrânia na organização da economia global. Segundo o executivo, os sucessivos choques dos últimos anos remodelaram dramaticamente as cadeias de suprimentos, levando empresas e países a buscarem formas de se proteger de tensões geopolíticas.

Uma economia global menos integrada e mais fragmentada, diz Fink, até pode produzir melhores resultados para a segurança nacional, com cadeias de suprimentos mais resilientes e seguras, mas no curto prazo os efeitos são altamente inflacionários. Por esse motivo, na avaliação dele, a inflação persistirá e será mais difícil para os bancos centrais domá-la. Como resultado, creio que é mais provável que a inflação fique perto de 3,5% ou 4% nos próximos anos”, informa na carta.

Redação ICL Economia
Com informações do Financial Times

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