O número de famílias endividadas tem crescido em todo o país, voltando a bater recordes. Segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e divulgada nesta segunda-feira (8), 78% das famílias brasileiras estão endividadas e 29% estão com contas atrasadas, maiores percentuais registrados desde 2010, quando começou a apuração mensal.
O resultado é que oito a cada dez famílias brasileiras têm ao menos uma dívida. Ou seja, com a inflação corroendo a renda, os ganhos mensais, mesmo para as pessoas empregadas, não são suficientes para pagar todas as despesas.
Izis Ferreira, economista da CNC, responsável pela pesquisa, explicou que “as classes de despesas das famílias que ganham menos são justamente as que tiveram maiores aumentos recentes de preço, então essas famílias acabam gastando parcela maior do orçamento para fazer frente ao avanço da inflação. Ou seja, as famílias com menor renda aumentaram o endividamento, a despeito dos juros altos, para sustentar o nível de consumo”.
O aumento do endividamento foi de 0,7 pontos percentuais na comparação com o mês anterior, já o indicador de contas em atraso teve alta de 0,5 ponto em relação a junho. O percentual de comprometimento da renda com dívidas permanece em 30,4%, desde abril, mas 22% dos brasileiros têm mais da metade da renda consumida por dívidas. Em julho, a proporção daqueles que afirmaram não ter condições de pagar os débitos já atrasados cresceu 0,1 ponto em relação a junho. A aceleração do endividamento neste início de semestre ocorreu de forma semelhante nas duas faixas de renda pesquisadas.
Famílias endividadas reduzem gastos até em produtos essenciais
A redução quase generalizada dos gastos tem sido a alternativa para poder pagar as contas, mesmo que sejam cortadas dos orçamento despesas consideradas essenciais, como remédios e aluguel, é o que apontou outra pesquisa, desta vez realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). De acordo com o levantamento, um em cada quatro brasileiros não consegue pagar todas as contas do mês.
Entre os entrevistados na pesquisa, 25% disseram ter reduzido ou deixado de comprar remédios, e 19% deixaram de pagar o plano de saúde. Seis em cada dez brasileiros dizem ter reduzido suas despesas com lazer, e 58% deixaram de comprar produtos de uso pessoal, como roupas e sapatos.
Os dados mostram também que 16% chegaram a vender bens para quitar dívidas, e 14% deixaram de pagar ou atrasaram o pagamento do aluguel ou da prestação do imóvel.
A situação só é um pouco melhor para 44% dos brasileiros, que afirmam que conseguem pagar todas as contas – mas que não sobra nada. Nesse cenário, 7 em cada 10 brasileiros não conseguem guardar dinheiro.
Situação de “recessão feminina”
Outra pesquisa realizada pela empresa Paschoalotto, especializada em cobrança de débitos, mostra a situação financeira das mulheres, que piorou mais do que a dos homens na pandemia. Dos 68% dos endividados, entre 25 e 51 anos, que têm as contas acumuladas essencialmente no cartão de crédito e em financiamentos, 70% desse contingente são mulheres.
O economista-chefe da Paschoalotto, Reinaldo Cafeo, enfatiza que um dos fatores que explicam a inadimplência mais frequente entre as mulheres é o crescimento de lares chefiados por elas nos últimos anos. Segundo ele, como muitas vezes a renda é insuficiente para arcar com todos os gastos, isso leva a uma priorização das contas a se pagar e das que serão adiadas ou deixadas de lado.
Assim, comprar alimentos e pagar aluguel são prioridades e carnês, cartão de crédito e financiamentos vão ficando de lado.
Analistas têm chamado este momento e situação de “recessão feminina”, em que as conquistas que as mulheres tiveram no mercado de trabalho retrocederam muito nos últimos dois anos, inclusive com a ampliação da informalidade.
O levantamento da Paschoalotto mostrou também que o endividamento atinge, em grande parte, as famílias com uma renda mensal de até dez salários mínimos, que respondem por 76% do total.
Redação ICL Economia
Com informações das agências