Fundo da Noruega corta mais de R$ 18 bilhões em investimentos no Brasil durante o governo Bolsonaro

Fundo retirou a Vale, a Eletrobras e a JBS da lista de empresas beneficiárias, devido a infrações ao meio ambiente e aos direitos humanos, e envolvimento em casos de corrupção
24 de agosto de 2022

Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o Brasil perdeu o equivalente a US$ 3,69 bilhões (ou cerca de R$ 18,8 bilhões) em investimentos do Fundo de Pensão do Governo da Noruega, o maior do mundo, que destina recursos para mais de 11 mil empresas e projetos em 69 países pelo mundo. Porém, desde 2019, o fundo da Noruega tem fechado a torneira de recursos destinados ao Brasil, no período que coincide com o atual governo. A perda de investimentos externos é muito ruim para o Brasil, especialmente em um momento de fragilidade econômica e social.

Conforme noticiado na coluna do jornalista Jamil Chade no UOL, em 2019, foram destinados ao país US$ 9,6 bilhões, sendo 10% desse montante para a Petrobras, volume que caiu para US$ 6,8 bilhões no ano seguinte. O assunto foi comentado por Chade no matinal diário ICL Notícias, no YouTube, nesta quarta-feira (24).

Com um patrimônio de US$ 1,4 trilhão alimentado principalmente da renda do petróleo, no final de 2019 os noruegueses destinavam 0,9% do fundo ao Brasil. Porém, a taxa caiu para 0,5% em 2020, voltando a reduzir no ano passado.

No total, 151 empresas brasileiras contam com recursos ou investimentos dos noruegueses, incluindo bancos, empresas aéreas, varejo, transporte e saneamento. Mas, no fim do ano passado, o fluxo foi de US$ 6 bilhões, apenas 0,4% – ou R$ 20 bilhões na cotação da época – de todo montante de recursos do fundo norueguês ao mundo.

Chade, que também é colunista do ICL Notícias, disse em sua coluna no UOL que procurou o fundo para questionar o porquê da redução de recursos enviados ao Brasil, mas os responsáveis preferiram não comentar. Disseram apenas que “seus fluxos seguiam também os índices da FTSE Global, que mede o desempenho das maiores economias do mundo e cerca de 9.000 empresas com ações nas bolsas”.

Contudo, o fechamento da torneira coincide com a suspensão de empresas brasileiras da lista de beneficiários dos valores destinados pelo fundo. Entre as empresas que deixaram de receber valores está  a Vale, devido aos danos ambientais graves dentro de uma classificação de risco. “Foi recomendado que a Vale fosse excluída em decorrência de repetidas rupturas de barragens”, explicou a entidade, num comunicado naquele momento.

O Conselho de Ética do Fundo ainda explicou que a recomendação pela exclusão da Vale ocorre “devido a um risco inaceitável de que a empresa esteja contribuindo ou seja ela própria responsável por graves danos ambientais”.

A Eletrobras, outra estatal privatizada recentemente, também foi excluída dos investimentos do fundo, “devido ao risco inaceitável de que a empresa contribua para violações graves ou sistemáticas dos direitos humanos”. “Foi recomendado que a empresa fosse excluída devido a violações de direitos humanos relacionadas com o desenvolvimento da usina de Belo Monte no Brasil”, explicaram.

Em 2018, a JBS AS também havia sido retirada da lista de beneficiários “devido ao risco de corrupção”. “Ex-membros da administração e do conselho de administração da JBS admitiram subornar mais de 1.800 políticos de 28 partidos políticos diferentes no Brasil nos últimos 10-15 anos”, indicou.

Antes do fundo da Noruega, país escandinavo já havia cortado recursos para a Amazônia

Não é a primeira vez que o Brasil tem recursos drenados por parte da Noruega. Em 2019, o país escandinavo decidiu suspender repasse de R$ 100 milhões para o Fundo Amazônia, dinheiro usado para proteger a floresta e desenvolver projetos na região. Antes de efetivar a suspensão, o Ministério do Meio Ambiente da Noruega se dizia preocupado com os relatos de desmatamento no Brasil e admitia a possibilidade de suspender o repasse. O governo norueguês se mostrou insatisfeito também com mudanças na estrutura de administração do Fundo Amazônia.

O governo Bolsonaro, que, desde o início, tem se demonstrado inimigo do meio ambiente, extinguiu o comitê orientador do Fundo Amazônia, criado para estabelecer critérios de aplicação do dinheiro na floresta amazônica sem ouvir a Noruega. Então, o governo norueguês anunciou o congelamento do repasse de R$ 133 milhões que iriam para o fundo.

Questionado à época, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que não havia se surpreendido com a decisão da Noruega. “O Fundo da Amazônia está em discussão, as regras do fundo da Amazônia. Portanto, é natural que qualquer repasse aguarde o desfecho acerca de quais regras são aplicáveis, e essa é a realidade. O fundo está suspenso, portanto, tem que aguardar o resultado para poder ver se vai ter a destinação”, declarou.

Além da Noruega, a Alemanha também já havia anunciado a suspensão do financiamento de projetos na Amazônia. O corte seria de R$ 155 milhões. O argumento foi de que a política do governo Bolsonaro deixa dúvidas sobre engajamento no combate ao desmatamento.

O presidente Bolsonaro fez, à época, uma provocação à ex-chanceler alemã, Angela Merkel. “Eu queria até mandar um recado para a senhora querida Angela Merkel, que suspendeu US$ 80 milhões para a Amazônia. Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok? Lá está precisando muito mais do que aqui”, disse Bolsonaro.

A embaixada alemã no Brasil reagiu divulgando um vídeo na internet em que afirma que a Alemanha é um dos países da Europa que mais protegem suas áreas de mata; que as florestas alemãs cresceram mais de um milhão de hectares nas últimas cinco décadas; e que elas cobrem um terço do seu território.

Redação ICL Economia
Com informações do UOL e agências de notícias

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