Considerado como uma das vitrines eleitorais do presidente Bolsonaro, o Auxílio Brasil poderia até ser quadriplicado se não fosse o gasto extra que o governo terá com a dívida pública por causa do aumento da taxa básica de juros neste ano. Hoje, esse gasto seria suficiente para bancar todo o programa Auxílio Brasil e ainda sobrariam R$ 28 bilhões.
Este cenário seria possível caso a Selic subisse para14%, fato considerado como possível por muitos analistas. Com isso, as despesas totais do governo este ano, com o pagamento de juros, ficariam na casa de R$ 700 bilhões, alta de 56% sobre os R$ 448,2 bilhões gastos em 2021, segundo projeções de mercado.
Essa diferença, de R$ 251,8 bilhões, seria suficiente para quadruplicar o tamanho do Auxílio Brasil.
No cenário atual, a Selic subiu de 9,25% para 12,75% no ano, aumentando a dívida em R$ 117 bilhões ao longo de 12 meses, de acordo com projeções do Banco Central. Só esse gasto extra é 31% maior que todo o Orçamento do governo para o programa Auxílio Brasil em 2022, de R$ 89 bilhões. Os números foram publicados por reportagem do UOL.
Lista de espera pelo Auxílio Brasil
Enquanto os juros e a dívida pública aumentam, o Auxílio Brasil segue emperrado. Depois de anunciar em janeiro que conseguiu zerar a fila de espera, o governo decretou uma espécie de sigilo não oficial sobre o número de brasileiros que foram habilitados para o benefício, mas ainda não estão recebendo o valor mínimo de R$ 400.
Cálculos feitos com base em critérios da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) – que divulgou um estudo detalhado apontando uma demanda reprimida de 1 milhão de famílias em fevereiro – indicam que esse número bateu em 1,3 milhão em março. Para chegar a esse resultado, foi utilizado também o tabulador do Cadastro Único, do Ministério da Cidadania.
A Rede Brasileira de Renda Básica (RBRB) afirma que um novo problema está mascarando os números: a formação da “fila da fila”. Seriam brasileiros em situação de vulnerabilidade que não conseguem sequer completar o cadastramento nos Centros de Referência de Atendimento Social dos municípios.
Impactos da dívida pública no próximo governo
Os cálculos do aumento da dívida pública revelam que ela pode ser um complicador para o presidente da República que assumir em janeiro de 2023. Isso porque ele herdará uma dívida pública mais difícil de ser administrada e controlada. Além dos gastos maiores com juros mais elevados desde o início do janeiro, o Orçamento estará mais apertado também pelos compromissos que deveriam ter sido honrados em 2021, mas que foram rolados, como é o caso dos precatórios.
Segundo Juliana Damasceno, economista e pesquisadora do Ibre/FGV, para conseguir honrar as despesas, o governo precisa emitir mais dívida justamente no momento em que as taxas de juros estão mais elevadas.
O aumento dos gastos do governo com a dívida também revela um dos efeitos colaterais mais graves da alta dos juros. Desde que os juros começaram a subir, em março do ano passado, a dívida bruta do setor público cresceu R$ 300 bilhões: de R$ 6,7 trilhões, em fevereiro de 2021, para R$ 7 trilhões em fevereiro último.
Taxa de juros X inflação
O aumento da taxas de juros tem sido o único “remédio” adotado pelo atual governo para tentar conter a alta da inflação.
Para os economistas do ICL André Campedelli e Deborah Magagna, “estamos tratando uma torção no tornozelo com antibiótico, ou, para ficar um pouco mais moderno o argumento, estamos tentando combater a Covid-19 com cloroquina e ivermectina. Este ciclo vicioso no qual a economia brasileira entrou, de alta da inflação e elevação da Selic como resposta a tal situação, já perdura desde o ano passado e deve terminar o governo Bolsonaro sem nenhuma mudança”.
Segundo os economistas, se houvesse desejo do governo Bolsonaro de resolver o problema da inflação, de fato, “olharia para os estoques reguladores, que estão zerados desde 2017, ou proporia uma política de preços mais justa dos combustíveis, que utilizasse os custos em moeda nacional, em vez de fazer a cotação de seus custos em dólares somente para agradar os investidores estrangeiros. Ou talvez, poderia realizar uma política de fato de subsídio para os pequenos agricultores, que são aqueles que plantam hortaliças, legumes e tubérculos, que apresentam fortes altas nos últimos tempos, devido a graves problemas climáticos que reduziram drasticamente a oferta destes bens”.
Redação ICL Economia
Com informações das agências