Quase 50% dos brasileiros gasta mais da metade da renda para pagar dívidas, aponta Genial/Quaest

Para André Roncaglia, economista e comentarista do ICL Notícias, a pesquisa mostra que o Brasil é o mais afetado pelas dívidas, processo que piorou com a reforma trabalhista, que precarizou a renda e o mercado de trabalho.
24 de agosto de 2023

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta manhã de quinta-feira (24) mostra que 46% dos brasileiros endividados gasta mais da metade do salário para pagar dívidas. Por essa razão, cerca de 70% deles apoia o Desenrola Brasil, programa do governo federal para ajudar a desnegativar os nomes dos endividados.

A pesquisa ouviu 2.029 pessoas entre os dias 10 e 14 de agosto, e mostrou que, quando o assunto é dívida, os brasileiros mais pobres são a maioria e os que mais sentem dificuldades em quitá-las.

Dos que ganham até dois salários mínimos, 38% disseram ter muitas dívidas. Dos que recebem na faixa de 2 a 5 salários mínimos, 30% também disseram ter muitas dívidas, enquanto 22% dos que ganham mais de 5 salários mínimos estão nessa situação.

De modo geral, quem está na faixa de ganho de até dois salários mínimos, foco do programa Desenrola Brasil, é a mais endividada. Nessa categoria, 72% tem alguma dívida para pagar.

Juntando todas as faixas de renda, 67% declararam possuir alguma dívida financeira (muita ou pouca), sendo 31% com muitas dívidas; 36% com poucas dívidas e somente 33% disseram não ter débito a pagar.

A pesquisa ainda mostrou que 22% da população diz gastar entre 21% e 50% do salário para quitar obrigações financeiras.

Das dívidas, a principal é com cartão de crédito (31%), seguida de prestação de imóvel ou financiamento (14%), empréstimos (11%) e prestação de veículo (5%).

No recorte por renda, os mais pobres estão, proporcionalmente, com mais contas de água e luz atrasadas, bem como com dívidas em prestações de loja e carnês. Os mais ricos devem mais o cartão de crédito e o financiamento do imóvel.

Um dado que supreende é que apenas 2% disse estar no cheque especial.

Para André Roncaglia, pesquisa Genial/Quaest mostra agravamento do processo de endividamento

Para André Roncaglia, economista e comentarista do ICL Notícias, live diária transmitida via redes sociais, o problema do endividamento familiar no Brasil remonta há pelo menos uma década, tendo se agravado no período pós-golpe contra a ex-presidenta, Dilma Rousseff.

“A reforma trabalhista diminui salários e prejudicou muito os trabalhadores. Os mais pobres percebem mais as dívidas, principalmente porque, nesse cenário, a gente tem 30% das famílias usando o cartão de crédito para pagar conta de luz. Estamos falando de um processo de agravamento do endividamento que vem com uma piora da qualidade de vida, e o Desenrola vem para tentar aliviar isso”, pontuou.

Segundo ele, quando se olham os dados, vê-se que mais de 70% de cada grupo (por faixa de renda) com dívidas, muitos deles com muita dificuldade para honrá-las. “Vemos também que quase metade deles ficou com o nome negativado”, disse Roncaglia, lembrando que as dívidas com cartão são um problema gravíssimo no país.

Dos entrevistados pela pesquisa, 56% disseram que já tiveram seus nomes incluídos no SPC ou na Serasa. Desses, 49% demorou mais de um ano para conseguir limpar o nome e 34% conseguiu em seis meses.

A pesquisa também mostra que, no recorte racial, os pretos são os mais endividados e os que mais sofrem para pagá-las.

O levantamento mostra que 74% deles possuem dívidas, percentual que cai para 60% daqueles que se declaram brancos. Entre os pardos, os endividados somam 72%.

Apenas 19% dos endividados disseram que conseguem pagar suas dívidas com facilidade.

Redação ICL Economia
Com informações de O Globo, O Cafezinho e ICL Notícias

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