Embora a equipe econômica tente manter uma narrativa otimista de que as contas públicas estão no azul, o fato é que os gastos do Executivo federal com o pagamento de juros da dívida pública têm crescido nos últimos meses. Uma equação que envolve taxa básica de juros (Selic), inflação e dólar altos resultou em uma conta de R$ 500 bilhões nos 12 meses encerrados em maio passado, a título de despesas do governo federal com o pagamento dos juros da dívida pública. Trata-se do maior patamar em seis anos. Esse valor representa 5,51% do PIB (Produto Interno Bruto), sendo a relação mais alta desde novembro de 2018, quando atingiu 5,52%.
De acordo com o Banco Central (BC), o recorde atingido pelo Brasil com o pagamento de juros da dívida ocorreu em janeiro de 2016, quando esses gastos chegaram a R$ 540 bilhões ou 9% do PIB à época. Mas vale salientar que, naquele ano, o Brasil enfrentava uma das crises financeiras mais agudas em décadas. Agora, analistas esperam que o custo da dívida pública encerre o ano de 2022 em um patamar recorde.
O gasto total com juros registrado em 12 meses até maio supera o Orçamento federal conjunto de 2022, já aprovado, do Auxílio Brasil (R$ 89,1 bilhões), das aplicações em saúde (R$ 139,9 bilhões) e em educação (R$ 62,8 bilhões).
O aumento das despesas com juros da dívida pública faz o governo ter mais compromissos financeiros com os quais arcar. Além disso, traz uma série de consequências negativas ao país, pois investidores, em geral, ficam cautelosos em realizar investimentos ou comprar títulos da dívida, e também há dificuldades para realização de despesas sociais.
Inflação e disparada do dólar contribuem para aumento dos juros da dívida
O maior gasto com juros da dívida foi ocasionado pelo aumento da Selic, atualmente em 13,75% ao ano. A taxa básica de juros da economia subiu 12 vezes desde março de 2021, quando estava em 2% ao ano.
O patamar atual da Selic é o maior em quase seis anos e, como a taxa básica encarece tudo, o Brasil possui a maior taxa de juros real (descontada a inflação) do mundo, de acordo com levantamento compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management.
A trajetória de juros deve continuar a subir. O Banco Central já sinalizou que, na reunião de setembro, deve manter o ciclo de alta para tentar frear a alta da inflação. Inclusive, é justamente devido à inflação que as despesas com juros continuam a crescer. Afinal, cerca de um terço da dívida é atrelada aos índices de preços.
Outro fator é a disparada do dólar. Em janeiro de 2020, a moeda norte-americana era cotada ao redor de R$ 4 e, agora, passa de R$ 5,26.
Para analistas, o caminho para reduzir os juros da dívida é diminuir a taxa de juros. Na opinião do economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), o Banco Central não precisava ter impulsionado a Selic para o atual patamar, porque a disparada da inflação decorre de motivos que a taxa de juros não consegue controlar, como choques nas cadeias produtivas, em razão da pandemia de Covid, e da guerra na Ucrânia, que gerou aumento de preços de combustíveis e alimentos. “Taxa de juros não resolve nenhum desses problemas”, afirma.
Oreiro defende que o BC comece a reduzir os juros para aliviar as despesas financeiras do governo e permitir gastos e investimentos produtivos, capazes de dinamizar a economia. Os juros altos, na visão dele, beneficiam apenas uns poucos setores.
Já o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, acredita que o aumento dos juros era necessário diante da escalada da inflação no mundo inteiro, mas lembrou que, no caso do Brasil, outros fatores fizeram o BC ter de elevar os juros. Entre eles estão a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Eleitoral e a dos Precatórios, que “pioram a percepção dos investidores a respeito do quadro fiscal do Brasil, gerando também pressão sobre os juros”.
Para o sócio da Tendências, o próximo governo brasileiro terá como tarefa primordial reverter o rombo das contas públicas.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias