As grandes empresas de agronegócio do mundo detalharam na segunda-feira (7) um plano para eliminar o desmatamento de suas cadeias de fornecimento de soja, carne bovina e óleo de palma até 2025. O documento, nomeado de “roadmap” (mapa do caminho), foi lançado durante a 27ª Conferência do Clima da ONU, que começou domingo (6) no Egito e vai até o dia 18. A iniciativa inclui as empresas: JBS, Cargill, Bunge, ADM (Archer Daniels Midland), Louis Dreyfus Company e COFCO International da China.
No Brasil, a demanda global aquecida e preço elevado da soja no mercado internacional tornou o grão responsável por mais de 40% do valor gerado pela produção agrícola brasileira. Ao mesmo tempo, levantamento do feito pelo Mapbiomas mostra que o agronegócio foi responsável por 97% do desmatamento no Brasil em 2021. Entre 1985 e 2021, a área ocupada por lavouras de soja no Cerrado cresceu 1443%, ocupando quase 20 milhões de hectares, ou 10% do bioma, no ano passado.
A proposta é que as grandes empresas, da cadeia de soja, carne bovina e óleo de palma, concluam, até o final de 2023, uma avaliação global sobre o risco de conversão de ecossistemas para a produção da soja. A partir desse balanço, as companhias vão desenvolver planos de implementação e metas. Há o objetivo que as empresas tenham sistemas para monitorar o desmatamento e/ou a conversão para soja de áreas maiores que 25 hectares.
Segundo o WWF-Brasil, a soja, carne bovina e o óleo de palma, produzidos pelas grandes empresas, respondem pela maior parcela de desmatamento e conversão de ecossistemas naturais.
Organizações ambientalistas pedem que as grandes empresas estabeleçam metas
O WWF também calculou a pegada de gases de efeito estufa dessas commodities produzidas em áreas desmatadas na comparação com produtos livres de desmatamento. No caso da soja, a diferença é de 13 vezes; na carne, de 11 vezes. Por esse motivo, há o pedido para que as grandes empresas estabeleçam metas para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e comecem a divulgar suas emissões de mudanças no uso da terra em 2024.
O plano das empresas prioriza a Amazônia, o Cerrado e o Chaco – floresta da América do Sul, distribuída entre a Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil.
Ainda na segunda-feira (7), ONGs ambientalistas afirmaram, em manifesto, que é preciso eliminar o desmatamento de forma imediata para evitar que o aquecimento global ultrapasse um aumento de 1,5°C em relação à temperatura da Terra registrada século 19.
O documento “Manifesto para o fim imediato do desmatamento para o nosso futuro de 1,5ºC” foi assinado por mais de 90 organizações ambientalistas e acadêmicas do Brasil e do mundo, dentre elas o WWF-Brasil, Observatório do Clima, Rede Cerrado e Rainforest Foundation Norway (RFN).
A destruição de florestas para a conversão em áreas agrícolas e pecuárias emite enormes quantidades de gases de efeito estufa (gases poluentes) a cada ano, ajudando a impulsionar as mudanças climáticas.
Nos últimos anos, cresceu também a pressão social e política por modelos de produção mais sustentáveis. O Parlamento Europeu, por exemplo, aprovou em setembro um projeto de lei que prevê a proibição da compra de produtos de áreas desmatadas. O texto final deve ficar pronto antes do fim deste ano.
O plano das empresas, para ser considerado eficaz, segundo ambientalistas, precisa cumprir oito pré-requisitos, como cadeias de fornecimento de soja e carne bovina completamente livres de desmatamento, sem prazo de implementação adicional, com 100% de rastreamento até a origem. Ter compromissos pré-existentes com data de corte anterior a 2020, como a Moratória da Soja na Amazônia. Ainda abranger todos os ecossistemas naturais, levando em consideração o carbono acima e abaixo do solo para estimar as emissões de CO2.
O plano ainda inclui a transparência e rastreabilidade total até a fazenda (para todos os fornecedores diretos e indiretos). Outra condição é exigir e oferecer suporte aos fornecedores diretos e indiretos para realizar ações equivalentes em todas as suas operações. Haver mecanismos para verificar a implementação dos compromissos de cadeias livres de desmatamento e, por fim, divulgação pública do plano de implementação com indicadores de desempenho.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias