Após anúncio de interrupção do gás russo, Europa enfrenta disparada de preços de energia, que podem impactar decisão do BCE sobre a taxa de juros

Depois do anúncio da Gazprom, os futuros do gás natural chegaram a subir cerca de 30% na Europa, para 284 euros o megawatt hora (MWh)
5 de setembro de 2022

A Europa vem enfrentando a disparada nos preços de energia, depois que a estatal russa Gazprom anunciou a interrupção do gás russo enviado a países europeus, devido à necessidade de manutenção, por tempo indeterminado, do gasoduto Nord Stream. Depois do anúncio, os futuros do gás natural chegaram a subir cerca de 30% na Europa . Os contratos TTF, que tinham terminado a sessão de sexta-feira passado em 214,6 euros por megawatt hora (MWh), o valor mais baixo das últimas duas semanas, chegou a saltar quase 33%, para 284 euros.

Embora a Gazprom tenha anunciado a necessidade de manutenção do Nord Stream, a notícia de suspensão do fornecimento do gás chega dias depois da proposta dos EUA e Europa Ocidental de colocar um teto de preços no petróleo russo.

Em sua conta na rede social Telegram, a Gazprom disse que “as falhas e danos identificados não permitem a operação segura e sem problemas do motor da turbina. Por esta razão, o transporte de gás foi completamente interrompido”. Inicialmente, a paralisação da unidade da Gazprom que envia gás natural para os demais países europeus estava programada para até o dia 2 de setembro.

Porém, a Siemens, empresa alemã que constrói as turbinas que permitem o funcionamento do Nord Stream, afirmou que um vazamento de óleo não é motivo técnico suficiente para justificar o fechamento do gasoduto e a interrupção do fornecimento de gás à Alemanha e à Europa pela estatal russa.

Diante da notícia, as bolsas europeias começaram o pregão desta segunda-feira em baixa. A expectativa é de que a interrupção interfira na decisão do BCE (Banco Central Europeu), na quinta-feira próxima (8), sobre o futuro das taxas de juros no bloco.

Desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, em fevereiro, o gás natural russo voltou ao centro dos holofotes, uma vez que não há previsão para fim do conflito. Por essa razão, a Europa vem buscando alternativas para tentar reduzir sua dependência do gás russo, mas qualquer medida é de médio e longo prazo.

A Alemanha, uma das maiores consumidoras do gás russo, estuda pacote de 65 bilhões de euros para conter os preços de energia aos consumidores.

Os altos preços de importação, especialmente de energia, estão impulsionando a inflação no continente europeu. Por isso, o mercado projeta que o BCE aumente as taxas de juros para tentar domar a escalada dos índices inflacionários.

Impacto do gás russo nos preços de energia acendem o sinal amarelo de possível recessão econômica no bloco europeu

A queda na oferta de energia impacta fortemente a inflação da zona do euro e agora, mais do que nunca, o bloco já traz para mais perto de seu horizonte o risco de uma recessão econômica. Já é esperada desaceleração acentuada para os próximos 12 meses, com crescimento mais fraco no final de 2022 e 2023, de acordo com dados do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional).

De acordo com projeções de analistas, a probabilidade de contração da atividade por dois trimestres consecutivos aumentou para 60%, de 45% em uma pesquisa anterior e de 20% antes de a Rússia invadir a Ucrânia. A Alemanha, maior economia do bloco e uma das mais expostas a cortes no fornecimento de gás natural russo, deve estagnar já a partir deste trimestre.

Além disso, a notícia do adiamento do retorno do funcionamento do Nord Stream fez com que o euro voltasse a cair abaixo do valor do dólar na sexta-feira passada, movimento que se prolongou nesta segunda-feira. A moeda única, que estava acima até o anúncio da estatal russa, cai 0,61%, para US$ 0,9932 hoje.

Ministros de energia europeus agora devem discutir propostas radicais para reduzir os preços da energia durante reunião especial na próxima sexta-feira (9), o que inclui tetos de preço para a gasolina e suspensão do comércio de derivativos de energia.

Para jogar mais gasolina na questão energética europeia, países da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais aliados) concordaram, nesta segunda-feira, com um pequeno corte na produção a partir do próximo mês, surpreendendo os mercados de energia. A Opep+ decidiu reduzir as metas de produção em cerca de 100 mil barris por dia a partir de outubro.

A decisão fez com que os preços do petróleo fossem negociados em alta nesta segunda-feira. Os futuros do petróleo Brent de referência internacional subiram 3,9%, para US$ 96,63 por barril, enquanto os futuros do West Texas Intermediate dos EUA saltaram 3,6%, para US$ 90 por barril.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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