Eleito presidente da Argentina no domingo, Javier Milei confirma que vai fechar o Banco Central e privatizar estatais de comunicação e petróleo

Milei já disse que considera "o Estado como um inimigo". O economista admitiu ser um seguidor da Escola Austríaca de Economia.
21 de novembro de 2023

Eleito com 55,72% dos votos o novo presidente da Argentina no último domingo (19), o economista ultraliberal Javier Milei tomará posse no próximo dia 10 de dezembro, com a difícil tarefa de lidar com uma inflação que encerrou em outubro a uma taxa de 142,7%. Ontem (20), ele disse que levará entre 18 e 24 meses para levar o indicador inflacionário do país “aos níveis mais baixos internacionais”, porém, se utilizando se estratégias, no mínimo, duvidosas.

A declaração foi dada por ele durante entrevista à rádio argentina Continental, a primeira sobre seu futuro governo.

Ele também confirmou, por exemplo, que levará adiante o plano para fechar o Banco Central e dolarizar a economia, duas das principais e mais polêmicas propostas de sua campanha.

“Fechar o Banco Central é uma obrigação moral, e dolarizar (a economia) é uma maneira de nos livramos do Banco Central”, declarou. Milei, no entanto, propôs que a moeda adotada por seu governo “seja aquela escolhida pelos indivíduos”.

O primeiro passo, segundo Milei, será iniciar a reforma do Estado e buscar uma solução do problema das Leliq, títulos emitidos pelo Banco Central, dívida cuja rolagem estrangula o BC. “Estamos trabalhando em uma engenharia financeira que seja aceitável para o mercado e para resolvê-lo da maneira mais rápida possível”.

No domingo, Milei derrotou o ministro da Economia argentina Sergio Massa, candidato peronista, no segundo turno das eleições. Logo após a vitória, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi criticado por Milei algumas vezes, parabenizou o eleito.

Em postagem no X, Lula disse que a democracia e a vontade da maioria dos argentinos devem ser respeitadas, e afirmou que o Brasil “sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”.

Na entrevista à rádio, o ultraliberal disse também que, por enquanto, manterá a taxa de câmbio e não levantará a limitação ao estoque de dólar de bancos do país, imposta pelo governo do atual presidente, Alberto Fernández, para controlar o saldo da moeda norte-americana.

“Antes de levantar a limitação ao estoque do dólar, é preciso resolver o problema da Leliq (a taxa básica de juros do país). Vamos tentar fazer isso o mais rápido possível, porque se for assim a sombra da hiperinflação estará aqui o tempo todo”, disse.

Aos 52 anos, Milei será o 52º presidente do país e terá que enfrentar a pior crise econômica em décadas, com a maior inflação em mais de 30 anos, dois quintos da população vivendo na pobreza e forte desvalorização cambial. Os desafios são agravados por uma dívida externa bilionária e pela falta de reservas internacionais.

Anarcocapitalista, Javier Milei enxerga o Estado como inimigo. Ultraliberal segue Escola Austríaca de Economia

Depois de eleito, Milei já confirmou que levará à frente suas propostas de campanha, como privatizar empresas públicas de comunicação na Argentina, como a Telám (TV pública do país) e a Rádio Nacional. “Tudo que puder estar em mãos da iniciativa privada vai estar”, disse, em entrevista à rádio Mitre.

Milei ainda reafirmou, nesta segunda-feira, os planos de privatizar a estatal de petróleo e gás YPF, em um esforço para cumprir a promessa de campanha de reduzir radicalmente o tamanho do Estado

Israel e os Estados Unidos serão os primeiros países que ele visitará. As viagens serão feitas antes da cerimônia de posse, em 10 de dezembro.

Também já disse que o advogado Mariano Cúneo Libarona ocupará a pasta da Justiça. Libarona ficou famoso no país na década de 1990 por defender celebridades envolvidas em escândalos de drogas, entre eles o ex-jogador de futebol Diego Maradona.

O advogado chegou a ficar preso por um mês acusado de encobrir o atentado ao prédio da Associação Mutual Israelita Argentina em 1994, um ataque que deixou 85 mortos e ficou conhecido no mundo inteiro.

Milei já disse que considera “o Estado como um inimigo”. O economista admitiu ser um seguidor da Escola Austríaca de Economia, uma corrente de pensamento fundada pelo austro-húngaro Carl Menger no final do século 19.

Antes um liberal clássico, somente em 2013 Milei descobriu a Escola Austríaca, após ler obras de Ludwig von Mises, Friedrich von Hayek e Murray Rothbard, expoentes dessa linha de pensamento.

O pensamento central da escola é que a liberdade individual é a base do progresso econômico. Isso significa que as decisões econômicas devem ser tomadas por indivíduos e não pelo Estado ou qualquer outra autoridade.

Seus seguidores refutam as teorias econômicas marxistas, keynesianas, monetaristas ou neoclássicas, e defendem fervorosamente o livre mercado e a propriedade privada.

Na década de 1970, a escola ganhou renovado interesse após Friedrich Hayek receber o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1974.

O guru de Milei é um dos grandes expoentes da Escola Austríaca. Trata-se do norte-americano Murray Rothbard, a quem é atribuída a criação do termo anarcocapitalismo nos anos 1950.

O anarcocapitalismo é uma visão filosófico-político-econômica que emerge das raízes da Escola Austríaca e propõe a completa abolição do Estado em prol da soberania individual por meio da propriedade privada e do livre mercado. Rothbard articulou suas ideias e, em 1971, fundou o Partido Libertário dos Estados Unidos.

“O verdadeiro anarquismo será o capitalismo, e o verdadeiro capitalismo será o anarquismo”, afirmou Rothbard em uma entrevista publicada na The New Banner em 1972.

Na noite de domingo, ao comemorar a vitória, uma frade de Milei resume o pensamento: “Hoje começa o fim da decadência argentina. O modelo empobrecedor do Estado onipresente está chegando ao fim”.

Redação ICL Economia
Com informação das agências de notícias e do G1

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