Líder da corrida presidencial argentina, ultradireitista Javier Milei rechaça manter acordos com Mercosul e China

Clone de Bolsonaro, a quem chamou de "excelente", o candidato tem propostas tão radicais quanto ele para a economia e a relação com parceiros comerciais estratégicos.
18 de agosto de 2023

A vitória nas eleições primárias argentinas do candidato de ultradireita Javier Milei, no último domingo (13), acendeu o alerta no Brasil e em outros países da região. Em um momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca retomar as relações com o país vizinho e fortalecer o Mercosul, o líder na corrida presidencial na Argentina quer congelar as relações com a China e retirar a segunda maior economia da América do Sul do bloco econômico.

Se o resultado das primárias se concretizar, a Argentina caminha para um futuro que já vimos acontecer em um passado recente no Brasil, quando Jair Bolsonaro chegou à Presidência em 2018.

Aliás, em entrevista, ele disse que Bolsonaro é “excelente”, e disse que “não tem parceiros socialistas”, em referência a Lula; Andrés Manuel López Obrador, do México; Gabriel Boric, do Chile; e Gustavo Petro, da Colômbia, os líderes de esquerda das principais economias da América Latina.

O candidato, que é economista e novato na política, repudia a aliança comercial da Argentina no âmbito do Mercosul, criada há mais de três décadas. “O Mercosul é uma união aduaneira de má qualidade que cria distorções comerciais e prejudica seus membros”, disse.

A exemplo de Bolsonaro, também disparou críticas ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a quem chamou de “ditador”, assim como os governos da Nicarágua, Cuba, Coreia do Norte e Rússia.

Também disparou contra a China. “As pessoas não são livres na China, não podem fazer o que querem e, quando o fazem, são mortas”, disse ele à Bloomberg News na última quarta-feira (16). “Você faria comércio com um assassino?”, questionou ao entrevistador.

Na lista de propostas de Milei, há algumas tão radicais quanto ele vem se apresentando, como o fechamento do Banco Central do país.

Esse filme o Brasil já viu. Bolsonaro fez o mesmo com a China ao longo de seu mandato. Lembrando que o gigante asiático é o maior parceiro comercial do Brasil, relações que também estão sendo reajeitadas pelo presidente Lula.

A eleição de Milei, em outubro, deve gerar ondas de choque em uma região amplamente governada por líderes de esquerda.

Entre outros propostas esdrúxulas do candidato, está a dolarização da economia e a redução de gastos em pelo menos 13% do PIB (Produto Interno Bruto) antes de 2025.

Em discurso, Milei coloca Brasil e China no mesmo balaio de países “socialistas”, com os quais não quer fazer negócio

Milei recusa fazer qualquer tipo de negócio com “socialistas”, colocando a China comunista na mesma categoria do maior parceiro comercial da Argentina, o Brasil.

A China é o segundo maior comprador das exportações argentinas e fornece uma linha de swap crucial de US$ 18 bilhões com o banco central que está sendo usada para pagar o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Apesar de ter sido crítico à China, adotou tom mais ameno mais tarde na entrevista. Ele disse que cabe ao setor privado decidir se mantém relações comerciais com a China e outros países cujos líderes ele tem um forte desgosto.

“Não tenho que me envolver, mas não vou promover laços com quem não respeita a liberdade”, disse, acrescentando que respeitaria os acordos já assinados na Argentina por empresas chinesas, que incluem um contrato para construir represas na Patagônia e um acordo para instalar uma usina nuclear.

Assim como ocorreu no Brasil sob Bolsonaro, o maior beneficiário geopolítico da ideologia de Milei seria claramente os Estados Unidos. Ele afirmou que trabalharia com qualquer presidente eleito em 2024, independentemente de suas tendências políticas, embora tenha preferência por um conservador.

Por ora, Donald Trump está à frente nas pesquisas para garantir a indicação republicana, mas Milei não está especialmente interessado em ser comparado com o ex-presidente dos EUA. Questionado se gostaria que Trump voltasse à Casa Branca, ele disse cautelosamente: “Isso cabe aos americanos decidir”.

“Posso gostar mais do perfil dos republicanos do que dos democratas, mas isso não significa que não considere os EUA como nosso grande parceiro estratégico”, amenizou.

A reportagem de O Globo tentou contato com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que não comentou imediatamente as declarações de Milei. Também contatou a embaixada da China em Buenos Aires, mas não houve retorno.

Redação ICL Economia
Com informação de O Globo

Fonte: Bloomberg

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