Juros altos começam a atingir setor industrial. Sem conseguir vender carros, montadoras paralisam produção e dão férias coletivas

Com Selic a 13,75% ao ano, custos de crédito sobem e, somados à inflação e à falta de ajuste dos salários, afetam a demanda por veículos novos
21 de março de 2023

Alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de integrantes de seu governo, a taxa básica de juros (Selic), atualmente no patamar de 13,75% ao ano, já bateu na porta das montadoras, setor industrial. As montadoras, que enfrentaram muitas dificuldades na pandemia de Covid-19 devido à crise mundial de semicondutores, voltam a conviver com problemas, mas desta vez provocados pelos juros altos, que frearam o consumo.

Com baixas vendas de automóveis, segundo o site G1, Volkswagen, GM, Stellantis e Hyundai precisaram paralisar suas produções e colocaram funcionários em férias coletivas.

Se a princípio o mercado estremeceu quando o presidente Lula começou a dizer que o atual patamar da Selic não faz o menor sentido e prejudica que a economia volte a crescer, agora a realidade começa a bater à porta das montadoras para mostrar que Lula está certo.

A dose do remédio para controlar a inflação, que vem aumentando desde 2021, colocou o Brasil como líder no ranking dos juros reais (descontada a inflação) e com a maior taxa do mundo, perdendo somente para a Argentina, que vive uma realidade econômica paralela.

Como o próprio Lula vem afirmando, o aumento da Selic reduz o consumo, pois dificulta a concessão de crédito. Por ser a taxa básica da economia, ela é usada como parâmetro para todas as suas congêneres. Por isso, tudo fica mais caro: desde investimentos até pegar um empréstimo bancário.

Ainda segundo a reportagem do G1, analistas dizem que o encarecimento do crédito associado à redução do poder de compra da população, reduziu o potencial de financiamento e, por consequência, a demanda por carros novos.

Produção de montadoras teve janeiro com pé no freio e redução de emplacamentos em relação a dezembro

Janeiro começou de modo lento para as montadoras. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), no primeiro mês do ano houve queda de 34% nos emplacamentos de automóveis, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus em relação a dezembro. Mas, comparativamente a janeiro de 2022, o resultado foi 12% maior. Porém, vale lembrar que no ano passado a indústria ainda se recuperava da crise provocada pela pandemia.

Em fevereiro, o setor registrou nova queda no número de emplacamentos: 9% em relação a janeiro. E, desta vez, quando comparado à mesma base de 2022, o resultado foi negativo: houve recuo de quase 2%. Considerando apenas automóveis, houve redução de 7% e 4,2%, respectivamente.

A Fenabrave e a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) não se pronunciaram sobre o assunto à reportagem.

Mas a economista Tereza Fernandez, da TF Associados, disse ao G1 que “a retração de demanda em função da dificuldade de acesso ao crédito é o mais relevante agora. Não dá para dizer que não tem problemas de oferta pontuais na cadeia. Mas esse não é mais o grande problema”.

Na mesma linha, Antônio Jorge Martins, professor de mercado automotivo da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo), afirmou que as paralisações são necessárias para evitar encalhe de novos modelos no estoque de montadoras e concessionárias.

Segundo ele,  dois em cada três automóveis são adquiridos no Brasil por meio de financiamentos, e as condições financeiras do brasileiro se deterioraram nos últimos meses. “Estamos falando de um poder de compra atingido pela inflação, pela falta de ajuste dos salários e um custo mais significativo dos financiamentos. Não se tira um carro novo da concessionária por menos que 25% a 30% ao ano”, enfatizou.

Redação ICL Economia
Com informações do portal G1

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