Presidente Lula diz que pode acabar com as ‘bets’ se ‘regulamentação der errado’

Presidente deu declaração ontem (6), em São Bernardo do Campo. Apostas já movimentam valor de mercado superior ao de empresas listadas na Bolsa.
7 de outubro de 2024

Pela primeira vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu que pode encerrar a liberação de apostas on-line no Brasil, as chamadas bets, caso a regulamentação desse mercado não tiver resultado para controlar os gastos excessivos e o endividamento da população. “Estamos fazendo uma regulação. Ainda no mês de outubro vamos tirar 2 mil sites de apostas neste país e depois vamos ver o que a regulação vai garantir de benefícios, de certeza de que a coisa está sendo feita com seriedade”, disse Lula ontem, em entrevista depois de votar, em São Bernardo do Campo (SP).

“Se não der resultado com a regulamentação, eu quero dizer que não terei nenhuma dúvida de acabar definitivamente com isso”, garantiu o presidente.

O petista também disse que a regulação das casas de apostas on-line, que vai valer a partir de janeiro do ano que vem, deve ficar pronta na “semana que vem”. Questionado sobre a possibilidade de regular as redes sociais, ele disse que “o que estiver parado no Congresso Nacional pode ser questionado a (Arthur) Lira e (Rodrigo) Pacheco”, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente.

Na semana passada, ao chegar o exterior, Lula convocou uma reunião sobre a regulamentação das bets, depois que dados do Banco Central apontaram que beneficiários do Bolsa Família estariam usando o cartão do benefício para apostarem.

“Não aceitamos a ideia que o pessoal do Bolsa Família está gastando dinheiro fazendo aposta nas bets. É bem possível que tenha alguém fazendo isso, mas é preciso lembrar que a maioria das vezes quem recebe o Bolsa Família é a mulher, e dificilmente a mulher vai gastar dinheiro do filho com isso. A mulher não vai trocar o certo pelo duvidoso”, disse Lula.

Lula disse ainda que a regulamentação das apostas on-line deve estar pronta esta semana. Mas o governo vem antecipando alguns pontos, como tirar do ar sites que não pediram a inscrição no país até o final de agosto.

Na semana passada, o Ministério da Fazenda divulgou a lista de empresas autorizadas a atuar no mercado de apostas on-line no Brasil.

Outra questão que deve ser antecipada é a proibição do uso de cartões de crédito para pagamento de apostas, que já estava decidido.

Enquanto a equipe econômica busca meios de elevar a arrecadação, na quinta-feira passada (3), o presidente Lula afirmou que o crescimento das apostas virtuais “tem que ser tratado como uma questão de dependência” e que o ministro Fernando Haddad (Fazenda), apresentará propostas para tratar do tema.

Recursos destinados às bets chegam a superar valor de mercado de empresas em Bolsa

Os recursos direcionados por brasileiros às apostas on-line no Brasil, as chamadas bets, chega até mesmo a superar o valor de mercado de algumas empresas brasileiras. Em agosto, o volume de transações via Pix para as apostas chegou a R$ 20 bilhões, segundo informações do Banco Central. O montante supera, por exemplo, o valor de mercado do Grupo Natura, avaliado atualmente em R$ 19,8 bilhões na B3. A Natura é a 48ª maior empresa por valor de mercado da Bolsa brasileira.

Os dados são de reportagem da CNN, calculados pelo sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, Einar Rivero, com base em levantamento do Banco Central sobre o valor destinado às apostas via Pix.

As apostas nas bets também ultrapassam o atual valor de mercado de empresas como: Carrefour Brasil (R$ 18,2 bilhões), Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (R$ 17,7 bilhões), a Lojas Renner (R$ 17,2 bilhões) e a Companhia Siderúrgica Nacional (R$ 17,1 bilhões).

“Esse paralelo com gigantes do mercado reforça o impacto financeiro que o setor de apostas tem alcançado no país, movimentando valores que se equiparam a grandes empresas listadas na Bolsa de Valores”, disse Einar à CNN.

O mercado de apostas brasileiro tem até mesmo atraído empresas estrangeiras. No mês passado, segundo reportagem de O Globo, a maior plataforma de apostas do mundo, a Flutter, com sede no Reino Unido e detentora da marca Betfair, anunciou a criação da Flutter Brasil, numa fusão com o grupo brasileiro NSX, dono das marcas Betnacional, Mr. Jack.bet e PagBet.

De acordo com a reportagem, a Flutter desembolsou R$ 2 bilhões para ficar com 56% da NSX, na primeira grande operação de fusão e aquisição no setor no Brasil após a regulamentação desse mercado.

A expectativa de analistas é que a divulgação da lista nacional de sites de apostas que poderão continuar a operar no Brasil deve impulsionar ainda mais o segmento de fusões e aquisições.

Corrida para ter bet

Desde que o Ministério da Fazenda anunciou que derrubaria bets irregulares no país, empresas, incluindo MEIs (microempresários individuais), tentaram se cadastrar.

Desde o dia 17 de setembro, quando foi expedida a portaria que acelerava o processo regulatório do setor, 74 novas empresas se registraram na Secretaria de Prêmios e Apostas. São 40% dos 186 pedidos registrados no total, em processo que começou em 21 de maio.

Entre os novatos estão sete microempresários individuais (MEIs), uma liga esportiva, um frigorífico e uma incorporadora

Porém, os CNPJs em questão têm capital integralizado bem abaixo do requisito mínimo de R$ 30 milhões estabelecido pela Fazenda para obter a outorga. Como base de comparação, o faturamento mensal máximo permitido para um MEI é de R$ 6.750.

Além dos R$ 30 milhões, as empresas precisam ter um comprovante de reserva financeira no valor mínimo de R$ 5 milhões e certidão negativa de falência ou recuperação judicial.

Os sócios ainda devem ter certidões de “nada consta” expedidas pelas Justiças federal e estadual do local de domicílio da pessoa, além de entregarem uma série de documentos para comprovar identidade.

Redação ICL Economia
Com informações da CNN, Folha de S.Paulo e O Globo

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