Após reunião bilateral e declaração conjunta com o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem (6) que o acordo Mercosul-União Europeia não depende da França. Segundo o petista, “paciência” se os franceses não gostarem dos termos que vêm sendo negociados.
“Minha tranquilidade é que a União Europeia não depende da França para fazer acordo. Estamos hoje prontos para firmar acordo com UE, mas França traz problema com agricultores”, disse. “A França pode não gostar [do acordo], mas paciência, faz parte”, afirmou.
Sánchez está em visita oficial ao Brasil. Durante o encontro com Lula, foram assinados acordos bilaterais nas áreas de comunicações; ciência, tecnologia e inovação; administração pública e saúde.
Os dois manifestaram intenção de ampliar as relações políticas, comerciais e de investimentos.
O acordo Mercosul e UE, que vem sendo discutido há cerca de duas décadas, precisa ser aprovado por unanimidade pelo Conselho Europeu, que reúne todos os líderes dos membros do bloco.
Além disso, demanda aprovação da maioria do Parlamento Europeu e, depois, de todos os Parlamentos nacionais e regionais.
Durante a COP28, Macron elogiou Lula por seu protagonismo mundial na questão do meio ambiente, mas disse que o tratado facilitaria a importação na França e na Europa de produtos com pegada ambiental suja produzidos em países do Mercosul, em especial do Brasil.
Na semana passada, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse em Bruxelas que seria impossível concluir as negociações nas condições atuais. Mas a questão não é exatamente essa. Macron tem enfrentado forte resistência de produtores rurais para coibir a entrada desses produtos, o que ampliaria a concorrência.
No último dia 7 de fevereiro, o vice-presidente-executivo da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, afirmou que as condições que permitiriam à UE concluir um acordo comercial com o Mercosul não foram atendidas, mas as negociações continuam.
Lula e Sánchez dizem que acordo Mercosul-UE é necessário politicamente e economicamente
A justificativa das duas lideranças é de que os blocos comerciais precisam do acordo politicamente.
“União Europeia precisa desse acordo, e Mercosul precisa desse acordo, não é mais questão de querer ou não querer, gostar ou não gostar. Precisamos politicamente, economicamente e geograficamente fazer esse acordo. Precisamos dar sinal para o mundo”, disse Lula.
Sánchez, por sua vez, disse que, após a guerra da Rússia contra a Ucrânia, a Europa “aprendeu a lição” de que é preciso achar novos parceiros e diversificar investimentos. O conflito teve forte impacto na economia da região, provocando, por exemplo, desabastecimento de gás.
Nas últimas semanas, o texto do acordo passou por uma análise política minuciosa, em meio a protestos de agricultores que dizem estar sendo prejudicados por importações baratas de países que não respeitam os altos padrões ambientais da Europa.
Além do protesto de agricultores, as eleições para o Parlamento Europeu, previstas para junho de 2024, estão entre os impeditivos para o avanço das negociações.
Investimentos da Espanha no Brasil
A agenda de Sánchez está voltada para investimentos da Espanha no Brasil. Após o encontro com Lula, a agenda dele previa visita, nesta quinta-feira (7), em São Paulo.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o volume de investimentos espanhóis no Brasil é expressivo. “Pelo critério de controlador final, a Espanha consolidou-se como o segundo maior investidor no país [atrás dos Estados Unidos], com presença nos setores energético, bancário, de telecomunicações e de seguros, entre outros.”
Mais de mil empresas espanholas estão presentes no mercado brasileiro, como a Telefônica e o Banco Santander.
O estoque total de investimentos do país europeu no Brasil é estimado em US$ 59 bilhões, com fluxo anual de cerca de US$ 3,3 bilhões nos últimos anos.
“O Brasil é um destino muito atrativo para as empresas espanholas, especialmente as que tratam de transição energética e também mitigação e enfrentamento às mudanças climáticas”, disse Sánchez, lembrando de ações do Estado brasileiro para a estabilidade política e econômica, como a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Agência Brasil