O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assume nesta terça-feira (4) a presidência do Mercosul, no lugar do mandatário argentino Alberto Fernández. O petista assume o comando do bloco tendo como principal desafio destravar o acordo Mercosul-União Europeia, que vem sendo negociado há duas décadas.
Nesta segunda-feira (3), os presidentes dos países do Mercosul se reúnem em Puerto Iguazú, na Argentina, para o primeiro dia da 62.ª Cúpula do Mercosul e Países Associados. Além de Brasil e Argentina, participam do bloco Uruguai e Paraguai, além de outros estados associados (Colômbia, Bolívia e Chile).
Lula chega à Argentina no começo desta noite após passagem pela Bahia, onde lançou o início das obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste em Ilhéus.
O acordo Mercosul-União Europeia foi emperrado na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diante da resistência dos europeus por conta do desmonte das políticas ambientais da gestão anterior. O pacto chegou a avançar na gestão Lula. Porém, em abril o parlamento francês incluiu no texto dispositivos que geraram descontentamento do lado dos países do Mercosul.
A principal condição imposta pelos europeus é que o Brasil teria de cumprir as metas de redução de emissões do Acordo de Paris e até ir além de seus compromissos multilaterais. Caso contrário, sofreria uma suspensão da isenção de tarifas. Em viagem recente à Europa, Lula manifestou o seu descontentamento sobre o dispositivo.
Sobre o assunto, o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Mauricio Carvalho, disse: “Estamos muito próximos de apresentar nossas avaliações aos parceiros do Mercosul”. Contudo, é improvável que se chegue a um acordo definitivo na cúpula.
O Mercosul foi criado em 1991, e a presidência do bloco é rotativa por seis meses. Ou seja, a cada semestre, um país comanda o bloco.
Lula deve levar à cúpula mensagem de “repriorização” do bloco e integração da região
Outro tema que deve estar na agenda da 62ª cúpula semestral do bloco é o desejo do presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, de firmar um acordo bilateral com a China. O acordo, no entanto, é criticado pelos governos atuais de Brasil e Argentina.
A embaixadora Gisela Maria Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, disse à imprensa na quinta-feira passada (29) que o retorno da Venezuela ao bloco não deve ser abordado na cúpula, embora seja de interesse do Brasil ter o país vizinho de novo no Mercosul.
A Venezuela foi suspensa do grupo em 2016 por violar cláusula democrática. “[Se o Brasil] pretende levar [esse tema à reunião], eu diria que não. Agora, se é interesse do Brasil ter a Venezuela de volta? Sim. Mas para isso precisam ser cumpridas certas condições, as condições de ingresso de qualquer país do Mercosul”, disse.
A mensagem que o presidente deve levar à cúpula, segundo ela, é a “repriorização” do bloco e a integração da região não só no comércio, mas em áreas como infraestrutura, saúde e defesa. “Mas eu não posso antecipar [o que ele vai falar]. Claro que a gente faz os discursos, mas o presidente Lula sempre diz que não vai ler”, disse ela, rindo.
Além da União Europeia, ocorrem no âmbito do Mercosul discussões de acordos comerciais e de outras ordens com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), bloco econômico formado Noruega, Suíça, Islândia e Lichenstein, que não integram a UE; Canadá, Singapura, Indonésia e Vietnã.
Neste segundo semestre, o Brasil também vai assumir o comando do G20 (que reúne as principais economias do mundo) e o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo